Paolla Oliveira: "não precisa ter vergonha de estar nos padrões"
No time A das atrizes globais, Paolla Oliveira acumula personagens de sucesso desde sua estreia na emissora carioca, na novela "Belíssima", de 2005. De lá pra cá foram dezenas de papéis de destaque. A última, Vivi Guedes, de "A Dona do Pedaço", marcou uma quebra de paradigmas na TV Globo. A personagem era uma influencer e sua história ficou maior que o folhetim: Vivi tinha seu próprio perfil nas redes sociais, postava muitas selfies, chegou a bater a marca de 1 milhão de seguidores no Instagram e se tornou a primeira personagem a virar garota-propaganda de uma marca fora da ficção. Para isso, a própria Paolla precisou repensar sua relação com as redes sociais.
Prestes a fazer 38 anos em abril, Paolla virou notícia recentemente ao contar que congelou os óvulos. A decisão veio depois de um período de stress e trouxe liberdade para atriz. "Estou superfeliz com essa decisão. Hoje falo para todo mundo que tem oportunidade — pois eu sei que não é uma coisa barata — para fazer o mesmo. Vivemos em tempos de cada vez mais liberdade para as mulheres. E quando a gente fala sobre congelamentos de óvulos, para mim, é sobre escolha, é sobre liberdade." A atriz, que recentemente assumiu o namoro com o coach Douglas Maluf, ainda não sabe quando — e nem se — quer ser mãe. "Se vou ter filhos ou não, ainda não sei", afirmou.
Universa conversou com Paolla durante um intervalo das gravações do primeiro comercial da linha de cuidados com o cabelo DaBelle, um dos produtos de uma marca nova, Duty, lançada no final do ano passado. A atriz falou sobre pressão para o corpo perfeito, maternidade, feminismo e mais.
Você era mais discreta e fechada nas redes sociais. Nos últimos tempos tem postado mais detalhes da sua vida pessoal. É o efeito pós Vivi Guedes?
Olha, eu fui aprendendo. Era muito resistente às redes sociais. Eu não entendia como podia existir uma ferramenta para você se expor. Especialmente pra mim, que gosto de ter uma vida mais reservada, principalmente quando não estou trabalhando. Mas entendi que é um traço da modernidade que não vai retroceder. Diante disso, disse: vamos aprender da melhor maneira possível. Acho que cheguei em um equilíbrio. Ao longo do tempo, consegui criar uma rede que me deixa à vontade, me é verdadeira, onde eu trabalho mas também posso expor os meus gostos, o meu comportamento de uma maneira que não me invada. Sabe que é mais legal? Acho que eu descobri um canal realmente meu. Porque quando você fala sobre mim, é uma segunda pessoa, existe uma tradução. Nas redes, sou 100%, eu mesma -- às vezes posto coisas que as pessoas não gostam, mas eu gosto. Agora, quando tem alguma coisa errada, eu mesma já vou puxo o papo. Esses dias fui ao meu Twitter e disse "gente, o que você estão falando de mim aí?" (Paolla usou seu perfil na rede social para desmentir um possível desentendimento com Erika Januzza sobre o posto da rainha da bateria da grande Rio). A Vivi Guedes também me ajudou a ver as influencers de outro jeito. Essa profissão dá muito trabalho! Nunca imaginei que tivesse tanta técnica, tanta habilidade por trás. Porque tem meninas que já nascem prontas pra isso, né? [risos] Tudo que eu demorei um tempão pra aprender... Mas também, muitas têm 20 e poucos e eu estou beirando os 40.
Você tem problema com idade, com a ideia de envelhecer?
Nenhum. Me sinto cada dia mais bonita, mais potente. Cada vez mais, falo o que penso com mais propriedade, sabe? Quando eu falo de uma coisa eu já vivi, já fiz, já errei, já tive oportunidade de fazer de novo, aprender. Quando eu era mais nova, ouvia muito "ah, mas você é muito jovem ainda". Agora, não. Se bem que vejo essa nova geração de meninas tirando onda com isso, viu?
Recentemente você contou que congelou os óvulos. E que chegou a essa decisão quando procurou sua médica e descobriu alguns problemas de saúde. Foi estresse? Quais foram os sinais vermelhos que te levaram a investigar o que estava acontecendo com você?
É tão ruim quando você aparentemente está com tudo certo na sua vida, tudo fluindo no trabalho, a saúde em dia, mas de repente se sente desmotivada. Me sentia triste, fora do ar. Enfim, não me reconhecia naquela pessoa. Fisicamente, comecei a notar que estava perdendo cabelo. E eu pensava: mas, poxa, eu me alimento bem, faço exercícios. Por isso, fui procurar minha ginecologista, que já me acompanha há muitos anos. Ela pediu um check up e realmente notou que meus níveis de hormônio estavam alterados e que tudo isso era sinais de estresse. Esse desequilíbrio comum da modernidade, que pode causar de depressão a sintomas físicos. No meu caso foi esse cansaço e perda o cabelo.
Receber esse diagnóstico te assustou?
Deu sustinho, sim. Não vou dizer que não. Principalmente porque as pessoas me falavam: "Você está estressada!", e eu respondia "não, que isso, estou ótima!". Mas percebi que a gente tem a tendência a confundir. Não é porque eu estou alegre que não estou estressada. Sou rodeada de mulheres muito ativas. Eu tenho uma tia de 55 anos que é um exemplo pra mim. Faz de de tudo, dá baile em muitos jovens. Eu quero envelhecer assim e, justamente por isso, preciso parar de vez em quando e dar uma olhada pra dentro. E a gente tem tantos recursos hoje em dia, né?
Quais foram as mudanças que você fez na sua vida?
A primeira conversa foi sobre a idade fértil e gravidez. Minha médica já tinha me falado antes sobre a possibilidade de congelar os óvulos. Eu estava um pouco resistente, na dúvida se era necessário. Estava enrolando, sabe? Mas acho que uma hora na vida a gente precisa decidir e esse susto serviu pra isso. Decidi congelar e estou superfeliz com essa decisão. Hoje falo para todo mundo que tem oportunidade -- pois eu sei que não é uma coisa barata -- para fazer o mesmo. Vivemos em tempos de cada vez mais liberdade para as mulheres. E quando a gente fala sobre congelamentos de óvulos, para mim, é sobre escolha, é sobre liberdade. Se vou ter filhos ou não, ainda não sei. É um talvez por enquanto. Por anos e anos as mulheres eram tolhidas de escolhas: tinha que casar com tal idade, ter filho com tal pessoa. Era um só caminho. Hoje, a medicina me possibilita ter a questão da maternidade como uma escolha -- para o sim e para não -- que não preciso fazer sob pressão.
Ano passado, durante as gravações finais de A Dona do Pedaço, vazaram algumas fotos suas de maiô e muita gente criticou sua forma física. Como você recebe esses comentários?
Eu acho que se fosse há uns anos eu ia ficar tão chateada... Mas hoje, sinto que está tudo tão mais solto. Nós, mulheres, conseguimos respirar e saber que não é preciso ser perfeita. Isso é tão bom. Eu falo muito sobre "ser real". E já escutei críticas. "Ah, ser real como você é fácil". Olha, não é não, tá? Tem hora que eu não estou na realidade que algumas pessoas esperam. Tem hora que meu corpo está diferente ou que estou cansada. Se eu estou de férias, por exemplo, vivo uma vida diferente, não malho todo dia. Quando saíram as fotos, falaram: "Paolla estava fora de forma." Estava mesmo. Além de estressada, depois de um ano inteiro trabalhando muito. E outra coisa: eu não estava preparada para aquelas fotos que saíram. Gente, eu me preparo para fazer cena. Não para foto de paparazzi. É diferente, né? Na hora eu dei uma xingada. Poxa, tinha um homem atrás de uma pedra, me fotografando, um baita sacanagem!
Você consegue se olhar hoje com menos julgamento?
Tem outra coisa: a gente também não precisa ter vergonha se cuidar. Porque é uma vergonha estar bem? Estar magra, com cabelo bom? Vira uma vergonha estar dentro dos padrões. Não preciso ter vergonha de me cuidar, procurar ser melhor, procurar uma atividade física, procurar os benefícios da medicina. Eu faço tudo o que eu posso, adoro drenagem, lasers, esses aparelhos estéticos. E tem pra todos os gostos, todas as possibilidades. A gente não pode confundir e de repente o fato de cuidar de nós mesmo virar uma coisa ruim. Se aceitar é outra coisa. Temos que ir em busca da nossa melhor versão. E não importa como ela seja: não importa a textura ou a cor do seu cabelo. Não importa se você está mais gordo ou mais magro. Se essa é sua melhor versão, amor, vai em frente, vai na fé. Mas no momento daquelas fotos, olha que maluquice: foi a última cena, de uma novela de sucesso. Depois dali, eu iria entrar de férias depois de ter trabalhado o ano inteiro. Um ano em que eu não estava mais conseguindo nem fazer nada pela "minha melhor versão". Não estava mesmo conseguindo ir na academia, estava comendo aquele lanchinho que a gente ganha entre as gravações. Eu tinha plena consciência que estava focada no trabalho e de que era uma fase. Então, eu ia ficar chateada porque apareceram imagens em que eu não estava dentro dos moldes que as pessoas esperavam de mim, justo em um momento que já estava dureza? Nem pensar!
Março é o mês da mulher. Quais são suas reflexões sobre ser mulher hoje em dia?
São tantas coisas para conquistar, né? Mas é muito bom ver o quanto isso já está nas pessoas. O sopro que foi dado - com um pouco mais de agressividade ou não, - já foi dado por muitas que vieram antes de nós. E ficou. Hoje mulher fala de mulher, homem fala sobre a questão da mulher. Homem fala sobre machismo. Isso é muito legal de ver. Em relação às mulheres de maneira específica, acho que o caminho é cada uma encontrar a sua voz. A gente ouve tanta coisa, tanta regra? Descobre o que fala com você. Qual o seu texto feminista, o seu texto de liberdade? Onde o seu calo aperta. Penso num feminismo abrangente. Eu, por exemplo, vim de uma família de homens. Onde o menino era sempre quem fazia melhor. Então, hoje me interessa saber como que eu aplico todas essas informações, esses conceitos, essa liberdade que estão dando para gente, toda essa voz, no meu dia a dia. Tenho que desconstruir muitas coisas que estão lá, às vezes, bem escondidinhas. Como eu ensino, de repente, um filho a ser melhor e crescer sem essas bobagens com as quais eu fui criada? Essa é minha mensagem: que cada mulher pegue tudo isso que está sendo maravilhosamente soprado e descubra o seu caminho e construa sua própria história de liberdade.
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