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Coronavírus: o que pode ou não fazer com as crianças durante o isolamento?

criança pracinha - Aldo Murillo
criança pracinha Imagem: Aldo Murillo

Juliana Tiraboschi

Colaboração para Universa

18/03/2020 04h00

Muitos pais e mães estão nervosos com a perspectiva de passar semanas com os filhos em casa, sem poder sair para passeios, por causa do fechamento de escolas para conter a propagação do novo coronavírus (COVID-19) no país. Mas, com algumas adaptações e ideias de atividade, esse período de reclusão pode se tornar menos estressantes para todos.

A partir da última segunda-feira (16), escolas públicas e particulares em alguns estados e cidades do Brasil começaram a fechar. Em São Paulo, por exemplo, a recomendação é que os estabelecimentos de ensino continuem abertos nesta semana, entre 16 e 20 de março, para que as famílias tenham tempo de se adaptar, mas a partir do dia 23 as aulas estão suspensas.

Enquanto as crianças ainda estiverem indo para a escola, as recomendações são manter as janelas abertas em sala de aula, realizar atividades e brincadeiras ao ar livre, evitar abraços e beijos nos colegas e não compartilhar utensílios e alimentos. "Se a criança perceber que está sentindo dor de garganta, estiver com tosse ou nariz escorrendo, ela deve falar para os pais ou a professora e não deve ir pra escola", diz Camila Bertoldo Pinheiro, médica infectologista do Hospital Metropolitano Lapa, em São Paulo.

Para os que vão ficar em casa, a primeira coisa que os pais devem fazer é se conscientizarem de que isolamento não são férias. "Não é para levar as crianças a shoppings, cinemas e teatros", diz o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, gerente do serviço de controle de infecção hospitalar do Sabará Hospital Infantil. Isso se esses estabelecimentos continuarem abertos pelas próximas semanas.

Parquinhos e afins

Aglomerações estão proibidas, isso é inquestionável. Mas pode levar os pequenos para brincar nas áreas comuns do prédio? Depende. Existem condomínios enormes, que são verdadeiras "cidades". Nesse caso, frequentar espaços comuns cheios de gente, como brinquedotecas, pode ser tão arriscado quanto continuar mandando as crianças para a escola. "Evite áreas comuns fechadas, como salão de jogos", diz Camila Bertoldo Pinheiro, médica infectologista do Hospital Metropolitano Lapa, em São Paulo.

Uma ideia é que os moradores proponham ao síndico que se organize uma espécie de rodízio de uso dos espaços conforme o bloco, para evitar grupos grandes. Também é uma boa medida que os condomínios reforcem a limpeza de brinquedos e elevadores, especialmente os botões, pontos de maior contato e possível contaminação.

Piscina pode?

O coronavírus, até onde se sabe, não é transmitido pela água - principalmente se a piscina for bem tratada. "O problema é a confraternização social, o bate-papo na beira da piscina", diz Francisco de Oliveira Junior. Além disso, há o risco de contaminação por superfície, que pode acontecer com o compartilhamento de cadeiras, por exemplo.

"Lembre-se de que esta é uma situação passageira e que as coisas voltarão ao normal daqui a algum tempo", diz a infectologista Camila Pinheiro. Ou seja, toda população tem que fazer um esforço e abrir mão de atividades prazerosas para o bem da comunidade.

Reforce a higiene

Lembre-se de tirar os sapatos antes de entrar em casa. Caso os adultos da casa continuem trabalhando fora, ou quando saírem para ir ao mercado e outras atividades, é recomendado, além de lavar as mãos, também trocar de roupas ao chegar. "A transmissão pelo tecido é pequena, mas não dá para dizer que não há risco nenhum", diz Francisco de Oliveira Junior.

Reforce também a limpeza dos pisos, com pano úmido e detergente ou desinfetante com cloro, para eliminar os vírus desta superfície.

Atenção aos sintomas

Segundo a infectologista Camila Pinheiro, se a criança estiver com algum sintoma, como tosse, coriza e dor de garganta, ela precisa ficar em casa e não deve encontrar com os amigos ou parentes.

Se ela estiver bem, pode se encontrar com outras crianças, mas em pequenos grupos. "Não existe uma quantidade ideal de pessoas, quanto menos se reunirem, melhor", diz Francisco de Oliveira Junior. E esses encontros devem acontecer sempre seguindo a recomendação de higienizar com frequência as mãos, não tocar os olhos, nariz e a boca e manter a "etiqueta da tosse", ou seja, tossir ou espirrar em um lenço descartável ou no braço/cotovelo. "Dê preferência a para locais abertos, com locais onde a higiene de mãos possa ser realizada de maneira fácil", diz Camila. E sempre, sempre lavar as mãos e aplicar álcool gel depois de ir ao parquinho ou brincar com outras crianças.

Ou seja, se o prédio não tiver tantos moradores, dá para sair um pouco com as crianças, sim. Mas sempre evitando contato físico com os vizinhos, especialmente os idosos. Falando nisso, o melhor é que, na falta da escola, os pequenos não sejam deixados aos cuidados dos avós caso os pais não possam fazer home office. "As crianças podem ter uma infecção assintomática e transmitir o vírus para outras pessoas", diz o infectologista Francisco de Oliveira Junior.

É claro que muitas famílias não têm outra escolha, mas o ideal é tentar outro arranjo, como pedir ajuda para outros parentes e amigos. Segundo o infectologista, todas as atividades ao ar livre acarretam em um risco menor de contágio, já que a dispersão de saliva é maior, mas desde que não haja uma proximidade física entre os envolvidos.

"Ou seja, não é para se trancar em casa, mas sim reduzir a oportunidade de contato com outras pessoas e, assim, diminuir as chances de contaminação", diz o infectologista. Segundo o médico, o maior desafio é controlar a disseminação da doença para que não haja uma explosão de casos ao mesmo tempo, sobrecarregando o sistema de saúde.