Influencer diz evitar contratar mulheres que querem ser mães; fala é ilegal
A nutricionista Lara Nesteruk, que fala sobre estilo de vida com baixo carboidrato e vegetarianismo, acha ruim a quantidade de direitos trabalhistas que o Brasil tem. E que quem deveria arcar com os custos da empregada que escolhe ficar grávida é a própria profissional. Lara afirmou que o empregador ter que fazer isso "é imoral".
Esse pensamento foi compartilhado com seus 813 mil seguidores no seu Instagram. Numa série de vídeos publicados nos Stories, nesta terça-feira (17), Lara diz que prefere não contratar mulheres que desejam ser mães, que não é possível contratar um número substancial de profissionais "com tudo isso de direito", e que nunca viu um lugar em que "a galera se encheu de direito e todo mundo cresceu".
Foi aí que recebeu o questionamento de uma seguidora sobre proteger o aleitamento materno.
"Esse problema não é meu", ela responde. E aí explica que quem tem que pensar nisso é quem quer engravidar.
Lara optou por não ter filhos, e na sua avaliação, "a maioria da mulherada" que trabalha com carteira assinada tem o pensamento de que está estabilizada e por isso acaba engravidando. E desafia: "Vamos ver até onde isso vai".
Fala é ilegal e discriminatória
Os direitos dos trabalhadores no Brasil estão assegurados por lei, inclusive os de trabalhadoras grávidas. O que talvez Lara não saiba, mas é preciso ressaltar, é que quem paga pelo afastamento de uma trabalhadora durante a licença-maternidade é a Previdência Social, não o empregador. Este paga o seu salário integral e depois tem o repasse feito pelo INSS, conforme explicam as especialistas em direito trabalhista Vólia Bomfim e Claudia Abud.
Na avaliação de ambas as especialistas, as declarações são ilegais e discriminatórias. Podem, inclusive, gerar processo por dano moral movido por quem se sentir ofendido. Isso porque o artigo 373 da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) veda, entre outras coisas, recusar emprego, promoção ou motivar a dispensa do trabalho em razão de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez.
"Se intimamente ela prefere o trabalho dos homens, ou se empregar mulher vai lhe trazer prejuízo grave, que ela intimamente opte por uma saída, mas não pode divulgar", afirma Vóila Bomfim.
Além disso, atenta Claudia, a declaração vai contra legislações mais modernas no sentido de não só prorrogar o prazo de licença-maternidade, que hoje é de 120 dias, como também ampliar a licença-paternidade.
Custo pequeno para vida improdutiva
A professora de economia do Ibmec Vivian Almeida diz entender que o eventual gasto do empregador para além dos custos bancados pelo INSS pode até existir durante o processo para contratar um funcionário temporário. Mas, na sua avaliação, os benefícios a longo prazo para a sociedade são muito maiores.
O que Vivian quer dizer aqui é que a economia precisa de pessoas para crescer, e isso significa investir no desenvolvimento das crianças, para que elas se tornem bons profissionais. E também assegurar que mulheres não sejam discriminadas no mercado de trabalho por serem mulheres -o que pode frear a produtividade do país.
"A falta de investimento na criança e a pouca ou nenhuma oferta [pelo Estado] ao seu desenvolvimento faz com que qualquer outro investimento fique prejudicado. A babá, por exemplo, não fica de 9h a 18h no serviço. Ela sai de casa às 5h e volta às 22h. E isso impacta em pessoas no mercado menos produtivas. Se não assumo que preciso arcar para me tornar mais produtivo, vou pagando ao longo do tempo, direta e indiretamente".
Universa procurou Lara para comentar suas postagens mas não obteve retorno.
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