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Como em "The Circle Brasil": histórias de quem se apaixonou por um fake

the circle_marina_lucas - Divulgação
the circle_marina_lucas Imagem: Divulgação

Gabriela Zocchi

Colaboração para Universa

27/03/2020 04h00

No começo deste mês, a Netflix lançou a versão brasileira da série The Circle. No reality show, os participantes vivem todos no mesmo prédio, porém cada um em seu apartamento. A única forma que eles têm de interagir entre si é através de perfis lançados em uma plataforma exclusiva, nos quais podem ser eles mesmos ou qualquer outra pessoa! Ganha quem tiver mais popularidade entre os jogadores - e é claro que todo mundo fica louco para descobrir se os colegas são ou não fakes.

Em um dos episódios mais recentes, a participante Marina ficou arrasada ao descobrir que seu crush, Lucas, com quem ela vivia de conversinha no jogo, na verdade era um perfil criado por uma garota chamada Paloma. A carioca chorou muito e chegou a deixar algumas amizades se abalarem por causa do romance. A situação vivida dentro do reality voltou a trazer um assunto há muito discutido na internet: é possível se apaixonar por alguém que você só conhece virtualmente?

De acordo com a psicóloga Julia Macedo, o envolvimento com pessoas virtuais pode ser motivado pela nossa constante busca por relacionamentos idealizados. "Desde crianças, somos influenciados por uma ideia colocada pela sociedade, reforçada com as histórias de conto de fadas, filmes e séries, de pessoas perfeitas e relacionamentos perfeitos. Quando alguém se relaciona com um fake, normalmente ocorrem projeções e expectativas feitas por essa pessoa a partir de tudo o que ela gosta e que a atrai. Nos relacionamentos reais, nos envolvemos com pessoas que têm defeitos, que não superam nossas expectativas o tempo todo. Em um relacionamento virtual, os fakes podem fantasiar uma perfeição sem transparecer os problemas, o que é algo muito tentador", explica.

Sem contar que se envolver com alguém que você nunca viu e que talvez nem exista de verdade pode ser perigoso. "A pessoa que está do outro lado da tela pode agir de forma oportunista e perigosa", afirma Julia. Para quem passa por isso, a dica é trabalhar o autoconhecimento e a autoestima. "Nos conhecer implica em entrarmos em contato com o que nos identificamos, mas também consiste em aceitar o desconfortável dentro de nós e aprender a agir em casos de mudança. Também é importante trabalhar a aceitação e o trauma do que foi vivido, de preferência com a ajuda de um profissional, e não direcionar a culpa do que aconteceu para si mesmo. Temos que nos perdoar e nos dar uma nova chance", conta.

Assim como Marina na série The Circle, muitas pessoas já passaram por situações parecidas e se apaixonaram por alguém que não era quem dizia ser. Aqui, reunimos alguns desses relatos.

O BOY QUE EU AMAVA ERA A MINHA VIZINHA

Djenifer Dias, 25 anos, Suzano (SP)

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Imagem: Acervo Pessoal

"Aos 15 anos, tive um perfil falso no Orkut. A ideia com ele não era enganar os outros, mas fazer parte de uma comunidade de fakes com imagens de celebridades na qual a gente brincava de construir relações. Todo mundo sabia que quem estava ali fingia ser outra pessoa. Nesse grupo conheci um fake do Cristiano Ronaldo, personalidade que eu sempre adorei, e nos demos superbem. Aos poucos, comecei a gostar daquele cara de verdade. Por mais que eu soubesse que ele não era o CR7, pensava: 'é alguém legal, que fala coisas interessantes e combina comigo'. O lance foi avançando até que sugeri de nos encontrarmos pessoalmente. Foi aí que ele sumiu e nunca mais me respondeu. Eu fiquei devastada porque realmente tinha começado a nutrir sentimentos por aquela pessoa. Minha tristeza foi tanta que até apaguei meu perfil. Segui a vida e um tempo depois, quando já tinha superado tudo, finalmente descobri quem estava por trás da conta: minha vizinha! Nós éramos amigas e fui eu que a apresentei para ela esse universo dos perfis falsos. Dei dicas de como interagir na comunidade e até a ensinei a criar um perfil de mentira! A gente sempre conversava e eu contava dessa minha paixão sobre o tal do Cristiano Ronaldo, mas como ela reagia normalmente, nunca suspeitei que pudesse ser ela. Ela só confessou um ano depois de me dar o perdido. Eu fiquei possessa, me senti enganada e briguei muito com ela. Depois entendi que ela não fez por mal. Assim como eu, essa amiga tinha criado um fake para interagir e brincar com os outros, por isso não imaginava que eu nutria sentimentos reais."

O FAKE MORREU PRA MIM

Jacqueline Lopes, 22 anos, Guarulhos (SP)

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Imagem: Acervo Pessoal

"Há alguns anos, conheci um cara em um grupo no Facebook. O nome dele era Pedro e ele era do Rio de Janeiro. Ficamos amigos muito rápido e logo já estávamos conversando todos os dias. Cheguei a falar com ele e até com a mãe dele por telefone. Passaram alguns meses e ele disse que gostava de mim. Percebi que também estava apaixonada, ele me pediu em namoro e foi lindo - tudo virtualmente! Uma vez Pedro me disse que precisava contar um segredo, mas não falou o que era. Fiquei com um pé atrás e fui stalkear melhor o boy. Para minha surpresa, descobri que ele namorava umas três meninas ao mesmo tempo online. Depois do barraco, Pedro veio me pedir desculpas e decidi que continuaríamos a conversar apenas como amigos. Um tempo depois, ele me contou que estava doente, que tinha câncer no pulmão e que estava fazendo tratamento. Revelou que ia fazer uma cirurgia e, horas depois, recebi uma ligação da 'mãe' dele contando que ele tinha morrido por uma parada cardiorespiratória. Fiquei arrasada! Só que um mês depois, uma das namoradas virtuais dele me chamou para conversar e disse que descobriu que tudo aquilo era mentira. Na realidade, Pedro era uma menina! Ela pedia que um amigo conversasse comigo pelo telefone de vez em quando e também se passou pela mãe do boy quando me contou da 'morte' dele. A menina por trás do perfil até tentou me convencer a manter a amizade, mas meu ódio foi tão grande que não quis saber de mais nada com ela."

O LADO DO FAKE

Cleber Assunção, 29 anos, São Paulo (SP)

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Imagem: Acervo Pessoal

"Quando eu era adolescente, existia um jogo virtual chamado Habbo Hotel. O formato era parecido com um The Sims, só que bem mais simples. Você criava um avatar e ficava fazendo várias atividades dentro do game, sempre interagindo com outros jogadores. O meu perfil era o de uma mulher, a Lady Wiolet, porque eu achava mais divertido brincar como outra pessoa. Logo arrumei um namoradinho dentro do jogo, o Franco. Achei ele muito legal e começamos a conversar com frequência. Um dia, Franco pediu meu MSN e, como eu queria continuar em contato com ele, entrei no Fotolog de uma menina que tinha um perfil parecido com o que eu tinha descrito para ele, roubei as fotos dela e criei uma conta. Eu gostava de falar com o Franco, mas nunca pensei que aquilo pudesse ser sério para ele. Aos poucos, percebi que ele foi se apaixonando por mim. Ele chegou a ligar a webcam e ficar fumando narguile enquanto falava comigo algumas vezes - eu respondia tudo por mensagem, obviamente. Dizia que a webcam estava quebrada e quando ele pedia foto mandava cliques da tal garota do Fotolog. Percebi que tinha realmente conquistado o boy quando ele começou a insistir para que a gente se encontrasse. Ele morava em Valinhos (interior de SP) e dizia que queria vir para São Paulo só para me conhecer pessoalmente. Nesse meio tempo, decidi investigar um pouco mais sobre ele e criei um avatar meu mesmo, de homem gay, no Habbo Hotel. Tentei interagir com ele e os amigos no jogo e todos me maltrataram. O Franco foi super homofóbico comigo e o encanto foi embora! Fiquei chateado e pensei: 'vou partir esse coração'. Não falei mais nada e simplesmente sumi".