Advogada dá lição pra ajudar vítima de covid-19 com o que aprendeu com zika
Desenvolver a empatia. Em crises como a que vivemos, com o novo coronavírus, em que precisamos de boas notícias, aqui vai uma: esse sentimento costuma florescer. Muitos têm se mobilizado em combater a doença com seu trabalho, conhecimento, doações e com o esforço de ficar em casa. Em Teresina, a advogada Maria Claudia Almendra Freitas Veloso, de 39 anos, tem demonstrado o que fazer depois que surtos como este passam.
De forma voluntária, ela se comprometeu em ajudar mulheres carentes cujos filhos desenvolveram microcefalia em decorrência da epidemia de zika vírus que atingiu o Brasil nos últimos anos.
"Todos nós podemos ajudar, tanto no momento presente como depois. Às vezes, basta levar informações a quem precisa, mas não tem acesso fácil. Não adianta esperar que nos procurem. O marco zero está em sair da inércia e ir atrás de quem requer apoio", explica.
Como é o trabalho com vítimas do zika vírus
Na prática, além de doar mantimentos, dinheiro e fraldas para famílias de baixa renda, a advogada decidiu também prestar assistência jurídica gratuita às mães que largaram seus empregos para cuidar em tempo integral das crianças com necessidades especiais, ou que foram abandonadas pelos companheiros.
Seu objetivo é que essas mulheres, que não podem contratar um advogado, conheçam seus direitos para requisitá-los na Justiça. "A sociedade e as autoridades se esqueceram e pararam de se solidarizar com essas vidas afetadas pela passagem do zika vírus", comenta Maria Claudia.
"Na microcefalia, o cérebro não se desenvolve de maneira adequada e o efeito disso são complicações diversas que exigem acompanhamento de diferentes especialistas. Nunca encontrei um filho de rico com esse problema, são os mais vulneráveis que sofrem com zika, dengue e, agora, com a covid-19", diz.
Orientação a mães com dificuldade
A iniciativa de Maria Claudia começou no final do ano passado. Por ser especializada em direito da família e ter repertório em casos de violência doméstica e adoção, ela chegou à conclusão de que poderia também tirar um dia por mês para palestrar em alguma instituição de assistência para o desenvolvimento de crianças com microcefalia e orientar mulheres em dificuldades.
Hoje, ela atua, por enquanto, no centro municipal "Saber Cuidar", em Teresina. "Quando eu soube da aprovação da medida provisória que garante pensão vitalícia às crianças com microcefalia, decorrente do vírus zika, nascidas entre 2015 e 2019, disse a mim mesma que estava na hora de eu levar essa informação para as mães que não sabiam disso", conta.
"Depois, acabei me envolvendo ainda mais. E, com a divulgação do que estava fazendo nas redes sociais e em campanhas, outros profissionais, como os da área médica, me procuraram. Assim formou-se uma equipe que levei para me ajudar no centro", conta.
Mulheres são as que arcam com os custos
Do contato direto e pessoal com as mães, Maria Claudia descobriu que 90% delas arcam sozinhas com a criação dos filhos e que a maioria não recebe pensão alimentícia nem o benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ela cita que, desde que iniciou seu voluntariado, só atendeu um pai. Diz também que, depois de fazer as palestras, conversa individualmente com as mulheres que lhe procuram para tratar de problemas específicos.
A situação é parecida com a quarentena exigida pela pandemia de covid-19: as mulheres são parte do grupo mais vulnerável e deveriam, segundo a representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya, ser prioridade do governo também na questão econômica.
"Lido com alienação parental, divórcio e situações diversas, como de mães que enfrentam problemas com escolas que não aceitam seus filhos para estudar ou não possuem condições apropriadas para recebê-los, pois muitos não deglutem, não caminham e não enxergam", afirma.
"Também há casos de mães que tiveram o benefício negado, que querem pedir pensão alimentícia para o pai da criança e até que sofrem preconceito, pois as pessoas julgam que elas não tiveram cuidados durante a gravidez, quando o problema é sanitário e cabe ao estado."
Com coronavírus, é hora de rever os erros e agir
Sobre a pandemia de covid-19, a advogada faz um alerta para que, depois que ela cesse, não ocorra o que no Piauí já se consolidou como uma dura realidade. Em suas palavras, "falta de ação e indiferença" diante dos efeitos do zika, que se somaram à dengue e outros desafios.
Maria Claudia acrescenta que, devido à experiência relacionada ao trabalho que tem feito no centro, também constatou que falta uma mobilização maior de quem poderia contribuir.
Ela dá dicas práticas de como é possível ajudar os outros em um momento tão difícil como o que o mundo todo está enfrentando e sem precisar sair de casa.
"Por meio de vídeos gravados com o celular, médicos e dentistas podem orientar sobre cuidados de saúde, contadores, advogados e fiscais do trabalho sobre rescisão e seguro-desemprego e blogueiras podem fazer a divulgação de pequenos e médios empresários", enumera. "Para ajudar, só basta querer."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.