Mães isoladas e de máscaras: enfermeiro relata mudança em partos na Itália
Há dez anos trabalhando como enfermeiro obstétrico — profissional que, na Itália, é o responsável pelos partos —, o italiano Alessandro Giannuzzi, de 36 anos, está vivendo uma experiência inédita em sua carreira. O hospital onde atua, em Pavia (província da Lombardia), é a unidade de referência para o atendimento a infectados pelo coronavírus naquela região. Dos últimos 20 partos que realizou, cinco eram de mulheres infectadas pela doença.
Agora, sua missão não é só trazer crianças ao mundo. Mas também amenizar cada vez mais o sofrimento das mulheres infectadas. Isso porque nenhuma delas pode ter a presença de familiares durante o parto. E, quando apresentam os sintomas, são automaticamente isoladas de seus bebês até que se tornem assintomáticas. Não podem pegar o recém-nascido no colo tampouco amamentá-lo, o que lhes provoca ainda mais sofrimento.
"Geralmente o pai do bebê ou o familiar só vai até a porta. Elas têm que encarar o parto sozinhas. Todas usam máscara. E cada uma delas reage de uma forma. Há aquelas que aceitam bem ficar sozinhas, mas muitas ficam tristes. A expressão no rosto não parece a de quem está à espera de um bebê, mas sim a de quem está indo para a guerra", conta Alessandro. "Elas ficam muito tristes porque não podem ter ninguém ao seu lado. Mas não há outro jeito".
Um dos casos mais graves do qual participou do atendimento foi o de uma gestante de 7 meses, há cerca de 20 dias. "Ela precisava ser entubada às pressas, mas com a barriga de 7 meses não era possível. Fizemos uma cesárea. Era preciso salvar a mãe e o bebê. Ela estava com muita falta de ar. E, se a mãe não consegue respirar, o bebê também não respira. Uma das características da Covid-19 é a baixa concentração de oxigênio no sangue. Precisávamos retirar o bebê logo para depois colocarmos a mãe no respirador. E assim foi feito", conta o italiano.
Alessandro conta que essa mulher está há três semanas isolada do bebê. Ainda entubada, só poderá pegar o filho no colo quando não apresentar mais nenhum sintoma da doença. "A situação é triste, ela ficou triste, mas não há outro jeito", repete.
Com toda a rotina do hospital Policlinico San Matteo Pavia Fondazione alterada, por conta da pandemia da Covid-19, Alessandro conta que o clima na sala de parto, mesmo quando a grávida está infectada, costuma ser de mais esperança do que no restante da unidade.
"Na sala de partos acho que o sentido da COVID-19 é redimensionado. Apesar das dificuldades, ganha o sentido de vida e não de morte. No momento em que todos olham para a morte, nós precisamos enxergar a vida. Ali existe um bebê que precisa nascer", avalia.
A sala de partos da unidade à qual Alessandro se refere realiza uma média de 4 a 5 partos por dia. Entre as mulheres portadoras do coronavírus, ele diz que todos os bebês nasceram saudáveis, sem o vírus. "Testes para detectar a doença são feitos no sangue do cordão umbilical e no tampão da placenta. Mas não é transmitido pelo sangue, como o HIV. Isso ainda está sendo bem estudado", explica.
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