Coronavírus: aos 87, idosa produz mil máscaras para doar no interior do MA
A costureira Bernarda Costa diz se assustar com o avanço do novo coronavírus pelo mundo por ser algo que nunca tenha presenciado em seus 87 anos de vida. Parte do grupo de risco, a idosa viu que poderia fazer algo no combate à doença.
Ela, então, passou a confeccionar máscaras de proteção e entregar aos vizinhos, em Santa Quitéria do Maranhão (MA). A gentileza ganhou repercussão e uma rede com outras nove costureiras surgiu para produzir o item, beneficiando a cidade com a confecção, até agora, de mil máscaras.
A ideia da doação surgiu com ajuda da neta, a professora Renata Costa, de 27 anos. Em meados de março, o Maranhão passou a ter os primeiros casos suspeitos de covid-19. No dia 20 do mesmo mês, houve a primeira confirmação. Com isso, as máscaras de proteção começaram a desaparecer das prateleiras das farmácias.
Na quinta (3), o Ministério da Saúde começou a orientar a confecção das máscaras caseiras. A intenção é de que a indústria destine a sua produção para os profissionais que atuam no combate ao avanço do vírus.
Neta comprou tecidos
Renata conta que os médicos de Parnaíba, cidade onde trabalha, também recomendaram a confecção de máscaras caseiras para proteção, principalmente para pessoas dos grupos de risco. A professora não pensou duas vezes e comprou tecido para confeccionar o produto. Ela convidou Bernarda a ajudar a costurar.
"Eu tive a ideia e pedi para que a minha avó confeccionasse porque os médicos daqui já alertavam para isso. Eles ensinaram como era para fazer as máscaras, impermeabilizando o tecido", diz Renata.
"Como vi que muita gente era vulnerável na cidade, fiquei com medo. Eu a convidei para costurar comigo. Ela aceitou, mas com a condição de que a gente pudesse doar. Como ela não perde nenhum telejornal, sabia de tudo o que estava acontecendo", relata.
De acordo com orientações do Ministério da Saúde
Segundo a neta de Bernarda, cada máscara tem 20 centímetros de largura e 17 centímetros de altura, o suficiente para cobrir boca e nariz — o que é recomendado pelo Ministério da Saúde.
O material usado é o tecido chamado "TNT" — o tecido não tecido, por causa de seu método de fabricação. O TNT é impermeabilizado a partir de uma mistura de álcool em gel, água e cola. A intenção é criar uma camada para impedir que gotículas passem pelos poros, explica Renata, que é bióloga.
Rede solidária distribuiu 1 mil máscaras
Renata publicou o primeiro vídeo de Bernarda costurando as máscaras em 21 de março. Ele viralizou nas redes sociais. A repercussão gerou pedidos de doação e, como consequência, uma sobrecarga maior para a produção.
Ao mesmo tempo, nove costureiras da cidade de 29,5 mil habitantes se ofereceram para auxiliar na missão. Com mão de obra e materiais, elas estabeleceram uma meta: produzir mil máscaras para doação.
"Quando comecei a publicar nas redes sociais, muita gente começou a pedir. Também fomos procuradas para receber doações de tecidos. Não sabíamos que daria essa repercussão toda", conta Renata.
A produção das mil máscaras durou cinco dias. Elas foram doadas de porta a porta em Santa Quitéria com ajuda de demais moradores. Atualmente, apenas Bernarda continua produzindo as máscaras. Ela faz em média de 20 a 30 por dia.
Preocupação com isolamento social
A preocupação com a comunidade é reflexo da informação que Bernarda faz questão de atualizar todos os dias — o que a convenceu a ser adepta ao isolamento social como melhor forma de prevenção.
"Assim como tem gente com medo, temos teimosos. A minha avó é muito preocupada. Ela assiste direto os telejornais, tanto que nem senta mais na frente de casa para não perder nada", diz Renata. "Ela já chorou por causa dessa pandemia e ficou muito assustada no início. Minha avó pede só que as pessoas orem e fiquem em casa", conta.
"Não saiam de casa e que Deus proteja a todos nós. Não estou saindo de casa e estou me protegendo", reforça Bernarda.
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