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Bebê morre por covid, e mãe desabafa ao ser cobrada por sair: 'não julguem'

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

13/04/2020 23h45Atualizada em 14/04/2020 11h44

A mãe da bebê de um ano e sete meses que morreu vítima do novo coronavírus na última quinta-feira (9) no Rio Grande do Norte postou um depoimento emocionado e fez um desabafo hoje. A menina foi o 15º óbito registrado no estado e passou apenas 11 dias de sua vida em casa, com a família. Mas Raimunda Borges Silva tem sido cobrada nas redes sociais por não ter cumprido isolamento, embora tenha sabido tardiamente do diagnóstico de covid-19 da filha.

Os pais e os dois irmãos de Isabela vivem em uma casa no município de Cerro Corá (RN), mas a bebê morou a maior parte de sua vida em hospitais em Natal. Ela nasceu de parto prematuro e, com isso, o pulmão não desenvolvido a fez ficar por seis meses na UTIN (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal) da Maternidade Januário Cicco.

Por não conseguir respirar e comer sem ajuda de aparelhos, Isabela, foi transferida para o Hospital Onofre Lopes, onde viveu por 1 ano e 1 mês. Além dos problemas respiratórios, a bebê tinha diagnóstico de encefalopatia crônica, passou por traqueostomia e permaneceu com ventilador mecânico até os últimos dias de vida.

Quando a equipe médica informou que o quadro da menina estava estabilizado para ir para casa, mas necessitava de alguns aparelhos, tudo foi providenciado por custeio de uma vaquinha. Até um quarto foi construído para recebê-la, mas com 11 dias morando com os pais, a mãe da bebê notou que durante três dias "ela só fazia dormir" e acionou o hospital. Após constatar o estado grave de saúde da menina, ela foi levada para o hospital Maria Alice Fernandes, em Natal. Ficou sete dias internada e morreu.

"Ela tinha um ano e sete meses que morava no hospital. Pelo menos, teve condição de vir para nossa cidade e se despedir dos irmãos, pai, da casa e do interior porque ela nunca tinha vindo em casa", disse Raimunda Silva em vídeo no Facebook, contando que a família está em choque com o resultado do exame para covid-19.

Diagnóstico tardio de covid-19

Raimunda Borges Silva relatou como foi o tratamento da filha que morreu vítima da covid-19 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Raimunda Borges Silva falou sobre a dor de perder a filha e as hostilidades que vem sofrendo
Imagem: Arquivo pessoal
O teste positivo para covid-19 foi divulgado na tarde do último sábado (11), mas os médicos já desconfiavam da doença. Após a constatação do óbito, foi cumprido o protocolo do Ministério da Saúde, o qual determina que não haja velório e que o caixão seja lacrado para evitar contaminação do vírus. Além disso, somente dois parentes podem acompanhar o enterro.

Os pais questionaram não poder ver a filha pela última vez, porque acreditavam até então que a morte dela tenha sido por pneumonia. A mãe diz que uma pessoa conhecida que trabalha no Lacen (Laboratório Central) tinha dito que o teste deu positivo para Influenza B. Porém, o governo do estado e a prefeitura de Cerro Corá dizem que a menina morreu em decorrência da covid-19.

Agora, com o teste positivo para coronavírus, a família da bebê, pais e irmãos estão cumprindo isolamento domiciliar de 14 dias. Todos estão assintomáticos, segundo a prefeitura. A família disse que não imagina onde a menina contraiu o coronavírus.

Críticas por não isolamento

A diferença de tempo entre a morte de Isabela e o diagnóstico de coronavírus acabou levando Raimunda a ser hostilizada. Isso porque no sábado de manhã, segundo conta, ela saiu para fazer compras para a casa, mas só à tarde soube que Isabela tinha covid-19 e que toda a família teria que entrar em isolamento.

"Estamos de quarentena, porém nenhum de nós tem sintomas de covid-19. Não julguem, não critiquem, porque só sabe quem passa. Perdi uma filha. Estou muito triste pelo que está acontecendo, não está sendo fácil. Ontem pela manhã me mandaram dizer que o teste tinha dado Influenza B, a gente ficou aliviada porque pensava que era isso, nunca pensava que era o coronavírus", relatou Raimunda em vídeo.

"Peço desculpa, mas eu também não sabia que tinha dado. Eu vim saber depois de 15h da tarde. Só quero que entendam a dor que estamos passando, que não é fácil. Criticar é fácil, difícil é passar pelo que estamos passando. Peço que tenham compreensão", pediu.

Números da covid-19

O boletim divulgado pelo Ministério da Saúde hoje aponta que 1.328 pessoas morreram com covid-19 no Brasil e que há 23.430 casos confirmados da doença.

No Rio Grande do Norte, já são 17 óbitos e 339 casos confirmados, de acordo com boletim divulgado, na noite de ontem, pela Sesap (Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte). O boletim epidemiológico informa que o município de Cerro-Corá tem oito casos suspeitos de covid-19 aguardando resultado de exames.

Esta é a segunda morte de um bebê no Rio Grande do Norte. No último dia 7, um recém-nascido morreu, após quatro dias, com diagnóstico de covid-19, em Natal. A mãe testou negativo por duas vezes para o coronavírus e as autoridades investigam se foram dois resultados falsos-negativo ou se o recém-nascido foi infectado durante manuseio na maternidade.