Com Covid-19, mãe ficou no quarto isolada dos 4 filhos; veja reencontro
A professora paranaense Eliene Scaglioni, de 39 anos, quase não dormiu de ansiedade na noite de 27 de março. Ela ficou 14 dias isolada em um quarto dentro da prória casa após o diagnóstico de Covid-19 e não via a hora de abrir a porta para abraçar os quatro filhos e o marido na manhã do dia seguinte.
Eliene saiu do quarto com uma camisa que, segundo ela, a caracteriza. Atrás da peça está a frase: "Mamãe coruja". Quando finalmente abriu a porta, a professora viu as filhas gêmeas de 1 ano a estranharem um pouco por causa do período de afastamento. Logo depois, no entanto, a dupla deu o tão esperado abraço em Eliene, junto de Pedro Henrique, de 9 anos, e Ana Beatriz, de 16 (no vídeo acima, o momento do reencontro).
A professora relata que é "sem explicação" a condição de estar na mesma casa que a família e não poder vê-la pessoalmente em razão do isolamento durante o tratamento, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde.
"Estar na mesma casa, mas sem ver e tocar é muito difícil. Nunca tive um momento tão difícil na minha vida como este de estar trancada dentro de um quarto, sem poder ver meu marido, beijar e tocar nos meus filhos", diz a professora. "Era uma sensação de impotência. A saudade de abraçar meus filhos e meu marido e não poder pegá-los me colocou em uma situação que mostra que não somos nada", afirma.
Testes negativos de dengue
Eliene contraiu o novo coronavírus dias após chegar de viagem com a família de Santa Catarina e São Paulo. Dias após o retorno, sentiu os primeiros sintomas, mas o diagnóstico inicial apontou para dengue. Fez dois testes para a dengue que deram negativo, e passou a ser tratada como paciente com suspeita de Covid-19.
Novas amostras foram coletadas e, três dias após iniciar o isolamento dentro de casa por recomendação médica, Eliene recebeu a confirmação da doença causada pelo novo coronavírus. Ela foi uma das primeiras pessoas se infectar em Londrina, no Paraná. Atualmente, a cidade tem 68 confirmados e quatro óbitos, segundo dados de domingo (12).
Videochamadas para o cômodo ao lado
Com o resultado, também chegou a tristeza, segundo Eliene. O que amenizava a saudade eram videochamadas com os filhos e o marido — que estavam no cômodo ao lado. Ela também passou a escrever um blog com o relato sobre a sua quarentena como forma de mostrar o drama que passou, pois acredita que "só quem viveu com a doença consegue ter noção" da experiência de passar por um tratamento longe de quem mais ama.
"Eu ficava dentro do quarto e não via meus filhos, a não ser por videochamada. Quando a saudade batia, ligava do quarto para a sala. O diagnóstico mexeu muito comigo e fiquei muito abalada. Quis ficar apenas deitada sem fazer nada. Até que uma amiga pediu para que criasse um blog, o que me causou certa melhora", relatou.
"As filhas menores batiam na porta do quarto chorando e me chamavam. Eu não podia fazer nada e aquilo me cortava o coração, pois uma porta separava a gente. Ligava para meus filhos maiores e via o medo no olhar deles", relembra.
Os filhos reagiram de forma diferente à doença. Cada um entendeu do seu jeito. "Os mais velhos sabiam o que estava acontecendo porque assistem à televisão", conta. "Meu menino tem muito medo até hoje. As duas pequenas não têm noção, né? Uma delas passou a ficar muito próxima da filha mais velha, que foi quem organizou a rotina das caçulas."
O que a cura da Covid-19 ensina
Se mundo não será o mesmo depois da pandemia, Eliene diz que a vida dela também não poderia continuar igual após ser curada da Covid-19.
O trabalho e os estudos antes ganhavam prioridade em muitas ocasiões. Agora pequenos momentos com os filhos e o marido ficam em primeiro plano.
"Valorizo hoje coisas pequenas que não tinha noção antes, como ficar no chão brincando com minhas filhas caçulas, fazer um bolo de chocolate para meu filho, conversar e escutar a mais velha ou assistir um filme com meu marido", conta. "Acabava dando prioridade para estudo e trabalho. São coisas que estou dando valor agora, que é o que importa. Não vou mais me preocupar com qualquer coisa", acredita.
"Penso em ajudar mais [outras pessoas] também. A vida é um sopro. Posso dizer que tenho noção disso."
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