Para driblar quarentena, idosas dançam hits online: "Me sentindo gatinha"
Enquanto a playlist toca "Baby boy" na voz de Beyoncé, Tereza Grandi, de 84 anos, acompanha os passos, toda trabalhada no rebolado. Nascida na Vila Formosa, zona leste de São Paulo, a idosa está aproveitando o isolamento social contra o coronavírus para fazer aulas de dança pela internet. Elas são ministradas pela neta, a atriz e bailarina Mariana Gallindo, de 31. Terezinha, que tem artrose, nunca havia dançado na vida.
"Ia ao baile com a minha irmã e ficava tomando Coca-Cola enquanto ela dançava. Eu não gostava", conta.
Falante ao telefone, Terezinha repete algumas vezes o quanto é agitada. Conta que trabalha no consultório do genro e da filha, que são respectivamente pediatra e fonoaudióloga. Frisa também, com orgulho, que dirige até hoje, e ainda faz coraçãozinho com as mãos para os motoristas — no semáforo! "Se for bonitão, mando beijo", ela brinca.
Antes da quarentena, fazia terapia ocupacional regularmente. Também frequentava academia. Viúva, afirma que o pai de seus três filhos, com quem viveu por 42 anos, era pacato e sequer saía para o cinema. Hoje, a idosa que admira de ópera a Anitta —"danço tudo!"— diz que a dança a transformou.
"Minha neta ensina uns reboladinhos e me sinto gatinha. Não gostava de me olhar no espelho, porque a gente vai ficando velhinha. Agora estou feliz. E a mulher tem que se achar mesmo! Se eu pudesse voltar no tempo, faria tanta coisa gostosa. Meu marido ia ficar louco. Mas nunca tive coragem de dançar pra ele. Era outra época. Hoje não tenho mais vergonha", ela avisa.
Como tudo começou
As aulas de dança, que eram presenciais, tiveram início em agosto de 2019, quando a mãe de Mariana, que é filha da dona Terezinha, completou 60 anos. A atriz e bailarina, que já estrelou musicais como "Hair" e "Chacrinha" e atualmente está na novela "Gênesis", da TV Record, conta que, ao organizar a festa de aniversário da mãe, em São Paulo, decidiu fazer um flash mob com as amigas.
"Eu dizia o quanto minha mãe estava sexy e resolvi mostrar isso fazendo ela e as amigas dançarem", conta a artista, que está em quarentena na casa dos sogros, no Rio de Janeiro.
A brincadeira ficou séria e Mariana passou a dar aulas semanais — e presenciais — para o grupo de idosas. Batizou-o de SEXagenárias. A aluna mais velha é a avó Terezinha, e todas elas ensaiam coreografias sensuais.O resultado das aulas foi exibido no fim do ano passado, com um espetáculo num asilo em Jaçanã, na zona norte de São Paulo.
"Cada uma arrumou sua roupa, fez sua maquiagem. Estavam todas bem vestidas. E eu também", frisa Terezinha, antes de avisar que deseja viver até os cem anos de idade: "Quero morrer igual a minha mãe, lúcida, linda, calma e feliz. Uma graça".
Idosas poderosas
Justamente por causa da quarentena, Mariana passou a dar as aulas pelo Facebook. Os vídeos que ela faz, segundas, quartas e sextas, são abertos ao público.
"Para as alunas, a dança é a atividade do dia. Muitas são aposentadas, e faz bem ter essa rotina, fora que se movimentam", explica.
E nada de coreografia especial para idosas.
"Eu não as trato como velhinha ou igual à criança. Até porque elas são as mais poderosas. Trabalho mais a parte orgânica, não tanto o desafio. É uma aula mais recreativa e emocional", afirma a professora.
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