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Brasileira doa mousse e café a hospitais em NY: "Respiro no meio da tensão"

A brasileira Jaqueline, de macacão verde do filme "Top Gun": fantasia de Halloween adaptada para se proteger  - Arquivo Pessoal
A brasileira Jaqueline, de macacão verde do filme "Top Gun": fantasia de Halloween adaptada para se proteger Imagem: Arquivo Pessoal

Carolina Camargo

Colaboração para Universa, de Nova York

17/04/2020 04h00

Um momento de conforto em meio ao caos. É isso que, com kits compostos por mousse de chocolate e café, uma empresária brasileira oferece para médicos e enfermeiras que trabalham no combate à Covid-19 nos hospitais Mount Sinai e Metropolitan, ambos localizados no East Harlem, em Nova York.

Desde o dia de abril, quando começou a distribuição, Jaqueline Assumpção Queiroz, de 36 anos, já doou 700 kits — e pretende entregar mais 1400 kits nos proximos dias. Proprietária do MOJO Mousse Bar, Jacqueline vive na cidade mais afetada dos Estados Unidos: a cidade de Nova York tem mais de 117 mil contaminados, com mais de 7.563 mortes confirmadas até quinta-feira (16).

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Médicos e enfermeiros recebem cafés doados pela brasileira: cafeterias dos hospitais foram fechadas
Imagem: Arquivo Pessoal

"Essas pessoas estão arriscando suas vidas e realizando um trabalho heroico. Minha intenção é fazer com que o doce e a bebida possam trazer um respiro em meio a esse universo de tensão", afirma.

Sócia do marido, o chef belga Johan Halsberghe, 35, Jaqueline conta que teve a ideia de realizar as doações quando começou a receber pedidos de delivery vindos dos hospitais da região onde sua loja está localizada. Por ordem do governo do estado de Nova York, desde o dia 16 de março apenas negócios essenciais podem permanecer abertos. Restaurantes, bares e cafés só têm autorização para atender para retirada ou entrega.

"Há cerca de 10 dias, as cafeterias dos hospitais fecharam e passamos a ter encomendas de profissionais que trabalham nesses centros médicos. Mas não tínhamos como cobrar de pessoas que estão na linha de frente, lutando contra um vírus desconhecido. É um jeito de agradecer o que estão fazendo por todos nós."

Promoção para aumentar doações

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Os kits, compostos por mousse e café (que pode ser também gelado ou latte), vêm com bilhetes de incentivo
Imagem: Arquivo Pessoal

Jaqueline já tinha enviado alguns kits para a linha de frente do combate à Covid-19 quando uma cliente sugeriu que ela pedisse doações para poder aumentar o número de beneficiados. "Com isso, criei uma promoção. Toda vez que alguém doa um kit, nós duplicamos a doação. Até o momento, recebemos doações para 700 kits, a US$ 7,50 [cerca de R$ 40], então estamos doando 1.400 neste primeiro momento", explica a empresária.

À venda no site, existe uma opção por US$ 22,50 (cerca de R$ 120) composto por três lattes ou cafés gelados e três potes de mousse.

A estratégia de fornecer alimentos para os profissionais da linha de frente dos hospitais de Nova York via doações têm sido bastante utilizada por restaurantes e cafés que decidiram manter as portas abertas durante a quarentena. Além de fazer o bem para o próximo, é um jeito de tentar preservar o negócio. "Graças a isso, estamos conseguindo nos manter", fala Jaqueline.

Para tentar alcançar mais gente, Jaqueline enviou e-mails para seu mailing e fez posts nas redes sociais. "Pessoas do Brasil ficaram sabendo e quiseram ajudar", conta.

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Sem contar com serviço de entrega, a brasileira e seu marido chef pediram ajuda à polícia, que faz agora o delivery
Imagem: Arquivo Pessoal

"Mesmo a distância, eu quis levar uma alegria na vida desses heróis que têm passado por tanta tristeza nessas últimas semanas", diz a produtora Renata Borges, de São Paulo. Parte das doações vem com pedidos para que, junto com o kit, os profissionais recebam mensagens de agradecimento e incentivo.

Jaqueline escreve os bilhetes à mão e prega em cada sacola. "Estamos fazendo as doações para os hospitais do bairro porque queremos ajudar a nossa comunidade. Mas já recebemos pedidos para entregar no Columbia Presbyterian e no Weill Cornell Medical Center. Mesmo sendo distante para nós, eu fiz acontecer. Queria muito poder entregar para brasileiros que estejam trabalhando nos hospitais de Nova York, mas ainda não aconteceu", afirma.

Figurino de "Top Gun"

Para fazer as entregas, Jaqueline toma todos os cuidados exigidos. "Ficamos apenas na entrada da maternidade. Me emocionei demais! Todos que recebem ficam muito gratos. A situação está tão complicada que eles estão montando quartos provisórios no lobby e nos corredores", conta.

Para tentar se proteger, a brasileira lançou mão de uma estratégia inusitada. Ela só sai de casa vestindo um macacão inspirado no figurino do filme "Top Gun ? Ases Indomáveis" (1986) por cima de sua roupa. "Era uma fantasia de Halloween do meu marido. Como o tecido é bem grosso, achei que poderia ajudar", fala.

Polícia faz serviço de delivery

Depois de três anos trabalhando apenas com mercados gourmet em NY, Jaqueline e Johan abriram uma loja para vender os mousses diretamente ao público no começo de fevereiro. O negócio chegou a ganhar resenhas positivas do jornal "The New York Times" e da revista "Time Out". O plano era oferecer cinco sabores por semana, sendo três fixos (chocolate amargo, chocolate branco e avelã) e dois rotativos (os primeiros foram maracujá com chocolate ruby e matcha).

"Meu marido veio para os Estados Unidos para trabalhar como chef para um embaixador da Bélgica. Depois, abriu um catering para atender membros da ONU [Organização Das Nações Unidas]. Como sua receita mais elogiada sempre foi a do mousse de chocolate, tivemos a ideia de montar um pequeno negócio", relembra a brasileira, que mora nos Estados Unidos há 13 anos.

"Vim para fazer um intercâmbio e fui ficando. Trabalhei como babá, vendedora de artesanato mineiro e concierge", fala.

Com a chegada do coronavírus aos Estados Unidos, o casal foi obrigado a mudar a estratégia. "Até então, não vendíamos pelo site da empresa nem fazíamos delivery. Tive de montar um esquema novo do dia para noite. Também passamos a preparar alguns pratos de comida para poder oferecer com os mousses. Estou trabalhando 16 horas por dia para dar conta de tudo", conta a brasileira, que é mãe de Jonathan, 4, e Jake, 1.

Com a cidade toda em quarentena, Jaqueline passou a ter problemas para conseguir entregadores. Foi quando teve a ideia de ligar para polícia. "Como são doações, eles prontamente atenderam nosso pedido para ajudar. Todos os dias, às 15h, passam para buscar os kits e levar para os hospitais", afirma.