WhatsApp vira arma contra violência doméstica em tempos de pandemia
Não é novidade que o distanciamento social exigido pela pandemia de Covid-19 aumentou a preocupação das autoridades com a violência doméstica. A subnotificação de casos de agressão é consenso entre juízes, promotores, advogados e autoridades que lidam com o problema, e há uma corrida contra o tempo para encontrar formas de denunciar e também dar continuidade a trabalhos de prevenção e recuperação das vítimas e de seus agressores em tempos de quarentena.
Além das ações da Justiça e da polícia, é necessária uma abordagem psicossocial da violência doméstica. Rodas de conversa, palestras e cursos são recursos bastante usados para auxiliar na recuperação das vítimas e na conscientização dos homens e que agora estão suspensos, seguindo a recomendação sanitária internacional. A saída em muitos casos tem sido o WhatsApp, além do bom e velho telefone.
Bom lembrar que a Central de Atendimento à Mulher está disponível 24 horas por dia pelo número 180. Além de receber denúncias, o serviço oferece orientação jurídica, além de encaminhar a vítima para redes de apoio e de enfrentamento à violência doméstica.
Conforto e auxílio a distância
Pelo WhatsApp, a promotora do Ministério Público de São Paulo Gabriela Manssur criou um grupo que concentra mais de 700 mulheres, o Projeto Justiceiras. Elas oferecem apoio às vítimas de violência doméstica por meio do Whatsapp (11) 99639-1212. Médicas, assistentes sociais, advogadas e outras voluntárias reúnem-se por teleconferência — apelidada de "sala de justiça" — para dar respostas rápidas aos casos mais urgentes.
Também por meio da rede, o Grupo de Apoio à Mulher (Gram) disponibiliza atendimento jurídico, psicológico, social, holístico e de saúde. A rede conta com voluntários que atendem pelo WhatsApp (21) 96967-7721.
Em São Paulo, Claudia Carletto, secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania, aposta em campanhas e vai espalhar por pequenos estabelecimentos da cidade cartazes com os telefones para que as mulheres possam contatar ajuda: (11) 3275-8000 (Casa da Mulher Brasileira), (11) 2833-4252 (Coordenação de Políticas para mulheres), além do 156 (municipal).
"O número de boletins de ocorrências caiu, e houve aumento nos casos de feminicídio. Isso nos preocupa muito e nos faz questionar os mecanismos para fazer as denúncias. Estamos fazendo campanha para reforçar que todos os equipamentos estão abertos", afirma ela. "O material divulga nossos telefones, divulgamos as campanhas em grupos feministas regionais que ajudam a difundir a informação."
Em Peruíbe, litoral de SP, a juíza Danielle Grandinetti também produziu cartazes com um número de celular — (13) 99710-4414 — para quem busca ajuda. "A divulgação começou nesta semana. Já orientei uma vítima a salvar o contato como se fosse o de uma amiga, e ela pode ligar sempre que precisar", conta.
Idealizado pela juíza, o projeto Somos Marias coordena várias frentes para auxiliar as vítimas. Uma sala do fórum foi reformada e se transformou em um aconchegante espaço para receber as mulheres e seus filhos. É lá que acontecem os atendimentos psicológicos em grupo, atualmente suspenso, e individual, que continua acontecendo. A subseção da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Peruíbe também está dando assistência jurídica 24 horas. A comissão da mulher atende pelo WhatsApp (13) 99756-0281.
Serviço para agressores
O filósofo Sergio Barbosa coordena o Tempo de Despertar, serviço que atende agressores. Com as reuniões presenciais suspensas, ele conta que passou a manter contato com os participantes via WhatsApp. Atualmente, são 120 homens e a meta é atender a 900, mensalmente.
"Estamos produzindo pequenas pílulas de material didático para os grupos já iniciados. Fazemos um acompanhamento desses homens — todos têm medida protetiva que os impedem de contatar a ofendida. Sempre falamos da importância de obedecer às regras, de não ir à casa dela e de, se for o caso, mandar uma terceira pessoa buscar os filhos", explica.
Segundo ele, é importante manter o contato, porém o trabalho terapêutico a distância para novos grupos não surtiria o mesmo efeito. "Eles foram obrigados a participar por lei, há uma baixa adesão. O homem quando começa no grupo fica o tempo todo calado, na defensiva, é muito resistente a se abrir. Só na terceira ou na quarta sessão começa a perceber o problema. Fazer isso online seria ainda mais difícil."
Barbosa acredita que campanhas disparadas por operadoras de celular com mensagens positivas sobre o respeito e a dignidade da mulher ajudariam. "Seria para a sociedade como um todo, algo positivo. Outra forma de abordar seria abrindo outros canais, inclusive na televisão, artistas, jogadores e celebridades da internet ressaltando a ideia de ficar em casa sem se estressar", sugere.
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