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Miss MT denuncia perseguição e abuso sexual: "Sofremos isso todos os dias"

Miss MT Ingrid Santin  - Reprodução Instagram
Miss MT Ingrid Santin Imagem: Reprodução Instagram

Simone Machado

Colaboração para Universa

28/04/2020 20h53

"Eu sou a Ingrid Santin e no dia 26/04/2020 eu fui molestada." Assim começa o vídeo publicado ontem pela miss Mato Grosso 2019, Ingrid Cristina Santin, de 26 anos, em seu Instagram.

No vídeo de pouco mais de sete minutos, a modelo e estudante de odontologia denuncia que foi perseguida e abusada sexualmente por um homem no bairro Granville, em Rondonópolis, cidade a 218 quilômetros de Cuiabá.

Em conversa com Universa, Ingrid relata que, por volta das 15h30, seguia de moto para a casa da irmã quando percebeu que estava sendo perseguida por um homem, também em uma moto. Segundo a modelo, o suspeito a seguiu por vários quarteirões até a avenida Maria Martins Fontura, onde aconteceu o abuso.

Ingrid - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Ingrid foi Miss Mato Grosso em 2019
Imagem: Arquivo Pessoal

"Pensei que ele iria me assaltar. Tentei acelerar a moto e ultrapassar uma caminhonete que estava à minha frente para me desvencilhar, mas não consegui. Nisso, o motociclista se aproximou e ficou bem ao meu lado. Senti que ele colocou a mão entre as minhas pernas e apalpou minhas partes íntimas", relata a miss.

No desespero, Ingrid conta que começou a buzinar e a gritar para tentar chamar a atenção de moradores do bairro e conseguir ajuda.

"Minha reação foi puxar a moto para o lado. Eu quase caí. Comecei a gritar e buzinar para ver se alguém me socorria, mas não havia ninguém na rua. Então o motociclista virou e foi embora e eu consegui chegar até a casa da minha irmã, que estava perto", lembra.

Segundo Ingrid, ela nunca viu o rapaz, mas, como ele estava com a viseira do capacete aberta, a miss afirma que conseguiu enxergar parte do rosto do homem e ainda está com essa imagem na cabeça.

Descaso no atendimento para registrar a ocorrência

Ingrid de moto - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Nas imagens das câmeras, é possível ver Ingrid sendo seguida por outra moto
Imagem: Arquivo Pessoal

Na segunda-feira, Ingrid relata que procurou a Delegacia Especializada da Mulher (DEDM) para registrar a ocorrência. Mas a jovem relata descaso no atendimento.

Ela afirma que, no momento do registro, um policial questionou se ela havia anotado a placa da motocicleta em que o homem estava e que sem essa informação o registro não serviria para nada, já que eles não teriam como tentar localizar o suspeito.

"Fiquei indignada com esse posicionamento do policial e insisti que queria fazer o registro. Eu tinha as características do homem e relatei tudo na ocorrência. Diante da minha insistência, o boletim foi registrado. Mas, para minha surpresa, não foi como abuso sexual ou estupro. O policial colocou como causa da ocorrência 'natureza diversas'. Esses crimes não podem ser tratados dessa maneira", desabafa a modelo.

Ainda segundo Ingrid, ela refez o trajeto onde o abuso aconteceu e conseguiu identificar câmeras de segurança de residências e comércios que poderiam ter flagrado a ação. Nas imagens, diz ela, é possível ver o suspeito seguindo a miss.

Todo o drama do abuso e do suposto mau atendimento na delegacia foi relatado por Ingrid em um vídeo postado em seu Instagram. Segundo a modelo, o desabafo foi uma forma de chamar a atenção da população para os abusos sofridos diariamente por mulheres e que não recebem a devida atenção das autoridades.

"Minha intenção é chamar atenção primeiro para a violência e o abuso que nós, mulheres, sofremos todos os dias, e também para essa questão do descaso. Porque quando a gente chega ao lugar e não é bem atendido, nós acabamos não denunciando e ficamos com medo de quem deveria nos proteger. Espero que isso ajude outras mulheres", diz.

O que diz a Polícia Civil

Em nota, a Polícia Civil de Mato Grosso informou que "durante o procedimento de registro de ocorrências, os policiais coletam o maior número possível de informações para dar prosseguimento às investigações".

"De fato, foi perguntado à vítima se ela havia conseguido anotar a placa da motocicleta, pois é necessário reunir informações para que seja possível identificar o agressor. Contudo, o fato de a vítima não conseguir dar tal informação não é empecilho para o registro da ocorrência, como de fato foi feito", continua o comunicado.

"A delegada responsável pelo caso já determinou a realização de diligências a fim de identificar o suspeito. A Polícia Civil ressalta que todas as Delegacias da Mulher têm equipes aptas a fazer o registro e acolhimento das vítimas que procuram as unidades. Também será apurado administrativamente se houve algum tipo de falta disciplinar por parte do servidor quanto ao atendimento prestado à vítima."