Bolsonaro convoca mulheres para sua defesa; quem são suas apoiadoras
Quatro deputadas aliadas do presidente Jair Bolsonaro protagonizaram, na manhã desta quarta (29), o grupo que saiu em defesa do presidente um dia após o mandatário falar que não poderia fazer milagre com o número de mortos pela covid-19 no país.
Nesta terça-feira (28), o Brasil atingiu oficialmente o patamar de 5.017 mortos pela doença causada pelo coronavírus, mais do que a China, país de origem do surto. Ao ser questionado sobre esses dados, em Brasília, Bolsonaro respondeu:
"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias [referência ao seu sobrenome], mas não faço milagre".
Bolsonaro estava ao vivo, mas mesmo assim seus apoiadores insistem que a frase foi distorcida.
"Vergonha o que vocês fizeram"
Após chamar a imprensa de mentirosa, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) pediu para falar.
"Depois de ler a manchete, fui ver a fala do presidente do primeiro ao último minuto e fiquei chocada com a distorção que a imprensa fez. O presidente mostrou solidariedade, simpatia pelas famílias. Ainda me choco quando vejo tamanha distorção. Vergonha o que vocês fizeram", ela observa.
Em seu primeiro mandato político, Bia Kicis é uma das parlamentares mais próximas do presidente Jair Bolsonaro. Tem livre trânsito nos palácios do Planalto e da Alvorada. Ex-procuradora do Distrito Federal, foi ela quem apresentou a Bolsonaro o economista Paulo Guedes, hoje ministro da Economia.
Ativista de direita nas redes sociais, a deputada publicou uma notícia falsa sobre uma decisão do procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras. Na publicação da deputada, ela afirma que Aras arquivou a notícia-crime apresentada pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), contra o presidente Jair Bolsonaro. Porém, a PGR publicou uma nota afirmando que ainda "não houve manifestação do órgão ministerial".
Ela também divulgou em suas redes sociais fake news sobre um porteiro que morreu em um acidente, mas em seu atestado de óbito a causa da morte tinha sido atribuída à covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus. A notícia que circulou em redes sociais e em grupos de WhatsApp junto com o suposto atestado de óbito é apenas parcialmente verdadeira. De fato, ele não morreu em decorrência do novo coronavírus, mas sua morte não se deu por causa de um acidente com um pneu.
E durante sessão na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, em fevereiro, a deputada, numa tentativa de defender o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disse que nas eleições "todo mundo inventa uma mentirinha de todo mundo".
"Respeite a parlamentar"
Assim que Bia terminou a sua fala, Carla Zambelli teve seu nome gritado por apoiadores que ali acompanhavam o presidente. Antes da deputada começar a discursar, o público presente, entre eleitores e jornalistas, tentavam falar, e Bolsonaro prontamente defendeu a política.
"Você está desrespeitando uma mulher parlamentar", lembrou o mandatário.
Após pedir para alguém ficar quieto, Zambelli diz que é preciso pressionar os governadores e prefeitos, "porque tem mais de 4,8 mil cidades que não têm nenhum caso de coronavírus e que podiam estar andando normalmente".
Ela defende ainda que toda morte é sentida.
"Porque atinge a família de todo mundo, mas tem que pensar nas famílias que estão sem empregos. Vamos apoiar o presidente, porque ele precisa do povo", ela pede.
Em sua participação no UOL Debate no último dia 13, a deputada afirmou que parte da população brasileira já está imunizada contra o coronavírus. "No Brasil, estamos num momento perfeito para enfrentar o vírus. Já temos uma quantidade de testes que estão chegando", disse a deputada.
Na noite de sexta-feira (24), Zambelli foi envolvida no rompimento entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. Isso porque Moro divulgou, à TV Globo, mensagens trocadas com a deputada para comprovar que não aceitou a demissão de Maurício Valeixo da diretoria-geral da PF (Polícia Federal) em troca de uma indicação do presidente a uma vaga no STF.
Carla, que teve Moro como seu padrinho de casamento, disse a Universa que nesse rompimento teve que escolher entre o pai e a mãe em um divórcio.
"Mau-caratismo"
"É preciso caráter. A gente tem que apoiar a quem, na ponta da linha, está entregando a vida a todos nós, e o presidente já sinalizou isso", afirmou a Major Fabiana Silva Poubel (PSL-RJ), antes de atentar que o presidente "está sensível a todo as essas questões".
"Não tem como dissociar a imagem do presidente a esse mau-caratismo que vocês estão tentando colocar e manipular todas as pessoas", concluiu.
Natural do Rio de Janeiro, a deputada comandou por dois meses a Secretaria de Estado de Vitimização, mas em outubro último desembarcou do governo de Wilson Witzel para reassumir o cargo de deputada federal. Na época, ela escreveu em seu Instagram que "serei eternamente leal à família Bolsonaro". O presidente estava saindo, àquela época, do PSL.
A deputada Caroline de Toni também defende a volta gradual ao trabalho da população.
"Não é a pretexto da pandemia que vamos proibir as pessoas o direito de ir e vir", começa ela em sua fala. "Para preservar a vida, a gente precisa garantir o direito à sobrevivência. Isso significa empregos. Por isso que a atitude do nosso presidente Bolsonaro".
Caroline também teve sua fala interrompida e novamente o presidente mostrou-se solidário.
"Imprensa, respeita uma mulher que está falando", pede ele.
Caroline é uma advogada e em 2018 foi eleita deputada federal de Santa Catarina com maior votação entre as mulheres (109 363 votos).
"Porta-vozes do discurso de homem forte"
"Faz parte do imaginário popular a defesa masculina da fragilidade feminina. Como se as mulheres precisassem ser protegidas". Esta é a opinião de Isabela Oliveira Kalil em conversa recente com Universa. Ela pesquisa, há seis anos, o avanço do conservadorismo no Brasil, e há um, mapeia quem são e o que querem os eleitores de Jair Bolsonaro. Isabela é doutora em Antropologia Social pela USP (Universidade de São Paulo) e coordenadora do NEU (Núcleo de Etnografia Urbana) da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Na sua avaliação, as parlamentares que apoiam Bolsonaro são porta-vozes do discurso de que ele é o homem forte que vai proteger as mulheres, ao contrário do que a esquerda diz, o chamando de misógino e machista:
"E a narrativa hipermáscula dele e delas é vista como positiva entre as eleitoras. Faz parte do imaginário popular a defesa masculina da fragilidade feminina. Como se as mulheres precisassem ser todas protegidas".
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