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"Melhor dia da minha vida": Garoto faz cartaz para rever mãe após 14 dias

Carlos Madeiro

Colaboração para Universa

08/05/2020 04h00Atualizada em 08/05/2020 09h56

A jornalista Laryssa Sátiro, 30, teve ontem um reencontro que ficará sempre marcado em sua memória. E não foi um reencontro qualquer. Foi com o filho, João, 6, após 14 dias de isolamento dentro de um quarto após contrair Covid-19.

Ontem, Laryssa deixou o confinamento e pôde finalmente abraçar o seu filho —momento que ela classifica como "incrível." "Impressionante como algo tão simples toma uma proporção gigante nessa situação. Depois de desinfectar todo o quarto e finalmente sair, dei de cara com um cartaz que ele tinha feito. Quando vi, ele estava na maior ansiedade na sala", conta.

O cartaz foi feito por João, e dizia que aquele era o "dia mais feliz" de sua vida. A fala foi o bastante para a emoção tomar conta. "Quando me viu, ele correu e me abraçou. Ficamos uns três minutos agarradinhos, e ele repetindo o quanto estava com saudade. Estava tremendo mesmo, e eu segurando o choro. Desde então ele não desgrudou de mim", conta.

Laryssa mora em Maceió junto com o filho e uma tia. Do apartamento, apenas ela contraiu o novo coronavírus.
Durante os dias separados por uma porta, a conversa de João e Laryssa ocorria basicamente entre cômodos ou pelo telefone. "Ele ficava mandando mensagem pelo WhatsApp da minha tia. Também pintávamos juntos: eu dentro do quarto e ele no corredor", conta.

João também conversou com Universa. Ele conta que durante o isolamento da mãe sentiu muita saudade. "Eu me senti sozinho. Tinha alguém para ficar comigo, mas eu me senti muito sozinho. Foi como se tivesse perdido meu sol e o meu mar", lembra. João fez um vídeo em que conta como foi reencontrar sua mãe.

João, que deixou carta para a mãe, Laryssa Sátiro - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Carta de João para a mãe - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Para ajudar a acalmar o coração, João diz que, no sexto dia do isolamento, decidiu montar e colar uma tabela na parede para contar os dias que faltavam para a mãe deixar o confinamento. A cada dia que passava era um a menos para o reencontro. "Hoje eu estou muito feliz, é como o sol tivesse voltado. E agora tirei a tabela", diz com sorriso no rosto.

Adoecimento e sintomas

Laryssa conta que logo no começo da circulação do novo coronavírus em Alagoas, ainda em março, decidiu se isolar e saía de casa apenas quando muito necessário. Mas não foi o suficiente para se manter imune.

"Não sabia que as vizinhas do mesmo andar estavam infectadas, e tive contato com uma delas dois dias antes de apresentar o primeiro sintoma. Compramos máscaras juntas e quando o entregador chegou, fui chamá-la. Foi o único momento em que eu descuidei", conta.

Laryssa Sátiro e João - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Laryssa Sátiro e o filho, João
Imagem: Arquivo Pessoal
No dia 22 de abril, a jornalista teve uma conjuntivite, que não está listada entre os principais sintomas mas a obrigou a de imediato se afastar de João e da tia. No mesmo dia vieram os sintomas como congestão nasal, indisposição e coriza. "Aí comecei a desconfiar que realmente poderia ser coronavírus", diz, e então se isolou.

A certeza de que estava com o novo coronavírus veio dois dias depois, quando foi tomar banho e, ao lavar o cabelo, não sentiu o cheiro do xampu. "Não senti cheiro de mais nada a partir dali. Não sabia distinguir o que era álcool ou água sanitária", diz.

Foi esse o sintoma que trouxe maior angústia. "O que mais me incomodou foi perder o olfato e o paladar, porque é péssimo. Hoje [ontem] que começou a voltar, e o médico disse que geralmente é de 14 a 20 dias para normalizar, porque é justamente quando a virologia baixa. Ontem eu consegui distinguir o sabor do iogurte, hoje senti gosto da maçã e do almoço", conta.

Para receber a comida, sua tia se "armava" com máscara e luva para levar suas refeições. "Ela deixava na porta", conta a jornalista, que só saia do quarto para ir ao banheiro (exclusivo para uso dela nesse período).

Ela lembra que após o longo período de afastamento, uma grande alegria foi saber que, nem sua tia, nem seu filho, contraíram a doença. "Segui tudo que o médico mandou à risca. Completei os 14 dias em isolamento para garantir a segurança não só minha, mas principalmente da minha tia e do meu filho", diz.