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LGBTs temem ataques após novos casos de covid-19 em região da Coreia do Sul

Mulher usa máscara de proteção em Daegu, na Coreia do Sul - KIM KYUNG-HOON
Mulher usa máscara de proteção em Daegu, na Coreia do Sul Imagem: KIM KYUNG-HOON

De Universa, em São Paulo*

11/05/2020 12h57

A Coreia do Sul está lutando para conter um novo surto de coronavírus na capital Seul. A região é conhecida por ter diversos clubes noturnos e bares frequentados por LGBTs. Em resposta ao aumento, a população LGBT, que frequenta o local, teme sofrer reações homofóbicas, agressões e preconceito da parte da sociedade local considerada conservadora.

A Coreia do Sul foi elogiada por seus esforços em conter a pandemia após passar da segunda região mais infectada fora da China para o registro de somente alguns casos antes do atual surto. A preocupação atual é de uma segunda onda da doença e o aumento de reações homofóbicas.

Dos 35 novos casos registrados, 29 foram identificados em Itaewon, região conhecida pela vida noturna e frequentado por LGBTs, segundo o KCDC (Centro Sul-coreano de Controle e Prevenção de Doenças). Os novos casos elevaram o número de casos totais relacionados a estes locais para 86. As autoridades locais já fizeram testes em 4.000 pessoas que frequentaram a região, mas ainda tentam rastrear outras 3.000 que passaram pelo local.

Segundo o The Guardian, a mídia local divulgou que um homem infectado pelo novo coronavírus foi encontrado em uma sauna LGBT na região de Gangnam. Após a divulgação, houve o aumento de ataques preconceituosos destinado aos LGBTs.

"Admito que foi um grande erro visitar o distrito gay quando a situação do coronavírus ainda não havia terminado completamente", disse Lee Youngwu, 30, ao The Guardian. "Mas visitar a área é o único momento em que posso ser eu mesmo e sair com outras pessoas parecidas comigo. Durante a semana, tenho que fingir gostar de mulheres", explicou.

"A empresa do meu cartão de crédito me disse que havia passado minhas informações de pagamento no distrito às autoridades. Eu me sinto tão preso e caçado. Se eu fizer o teste, minha empresa provavelmente descobrirá que sou gay. Perderei meu emprego e enfrentarei uma humilhação pública. Sinto como se minha vida inteira estivesse prestes a entrar em colapso", afirmou Lee.

"Levei uma semana inteira para ter coragem de fazer o teste", disse Min Jaeyoung, 27, ao Guardian. "Eu tive que praticar dizendo 'ah, claro que não sou gay' e até me gravei várias vezes para parecer natural. Até coloquei fotos de jogadores de futebol e artistas coreanos de hip-hop em minhas redes [sociais] para tentar parecer heterossexual. Até me preparei para procurar outro emprego. Acontece que eu não estava infectado, mas chorei quando recebi o texto, não porque estava feliz por não ter sido infectado, mas porque realmente odeio ser gay neste país".

No sábado (9), o primeiro-ministro da Coreia do Sul, Chung Sye-kyun, pediu aos moradores para "se abster de criticar uma determinada comunidade, pois isso não ajudará os esforços para conter a disseminação do coronavírus".

O prefeito de Seul, Park Won-soon, disse hoje que, embora garanta o anonimato de pessoas que fizerem o teste, haverá uma multa de 2 milhões de won coreano (cerca de R$ 9 mil) para aquelas pessoas que não forem testadas. Park ainda disse que quem não se apresentar espontaneamente será visitado em casa por funcionários do governo acompanhados pela polícia.

* Com informações da Reuters