18, 31, 48, 70: como mulheres de diferentes gerações encaram a quarentena
Em meio à pandemia, cada geração tem seu desafio particular. O isolamento social imposto pela necessidade de frear a transmissão do novo coronavírus "pausou" a vida de mulheres de todas as idades. Entre quatro paredes, cada uma delas tem seus dilemas, dores e saudades durante a quarentena.
Mas há dramas e alegrias comuns a determinadas faixas etárias. Universa conversou com representantes da geração Z, dos millennials, da geração X e boomers para saber como elas estão passando por esse momento.
"Tinha certeza que queria cursar direito, mas já não sei mais"
Zoomer (Geração Z): Isabelle Luppino Lopes, 18, estudante do terceiro ano do ensino médio
"Estou em isolamento há mais de um mês com as minhas tias, minha irmã e meu avô. Minha escola parou as aulas presenciais e, atualmente, estamos tendo videoaula. É meu último ano da escola e estou tentando me planejar para o vestibular, mas o tempo livre para pensar está me fazendo ter mais dúvidas sobre o meu futuro. Eu pretendia cursar direito, tinha certeza que queria seguir essa carreira, mas não sei se tentarei agora. Estou pensando se, nesse momento, eu deveria passar o tempo todo só estudando ou se deveria me concentrar em manter minha saúde mental e? sobreviver.
Porque não temos previsão de quando vou conseguir fazer um curso, terminar a escola. Tem dias que eu choro, fico com medo. Sinto saudade dos meus amigos, mas tanta, que penso que vou chorar quando vê-los novamente. Não percebia quanto isso me fazia falta. Mas já sinto que vou ter um certo receio em voltar a ter contato físico e social com as pessoas, por conta do medo de me contaminar. Mas acredito que a quarentena vai me tornar uma pessoa muito mais responsável, porque as medidas que estamos tomando vai impactar o futuro de todo mundo."
"Achei que 2020 seria o meu ano"
Millennial (Geração Y): Aline Oliveira, 31, produtora de cinema
"Estou isolada sozinha com a minha gata, Carmem Maria, em uma quitinete de 25 metros quadrados. Há momentos bons e outros ruins. Tem dias em que eu só quero ficar deitada, outros que levanto, arrumo a cama, tomo um café, mantenho uma rotina. Não tenho tido, no entanto, nenhum foco para ver filmes, por exemplo.
Como trabalho por projetos, estou parada no momento. Tenho uma reserva financeira com a qual posso me manter por três meses. O mais frustrante é que achei que 2020 seria o meu ano. Comecei trabalhando em um filme e tinha outro engatado, mas, com a pandemia, o segundo foi adiado e fui dispensada. Achei que, finalmente, ficaria em uma situação mais confortável financeiramente falando. Saí da zona leste de São Paulo, aluguei um apartamento no centro e pensei que minha vida iria deslanchar, mas não, veio a pandemia.
Essa questão da grana vai me deixar ainda muito impactada porque, apesar de ter uma renda fixa de um imóvel alugado, não sei se consigo trabalhar em algum outro filme ainda este ano. Costumo ser uma pessoa muito esperançosa, otimista, mas vendo a situação do nosso país, a baixa adesão ao isolamento, fico muito preocupada. Estou até evitando ver o noticiário e tentando em fazer a minha parte. Não estamos vivendo apenas uma crise financeira e sanitária, mas também política.
Porém, estou pensando em alternativas, ocupando a minha cabeça com coisas que gosto, como bordar. Estou usando a quarentena para aprender novas técnicas, como a de misturar aquarela com o bordado. Pensei em até começar a vender os meus trabalhos manuais, para completar a renda e me sustentar."
"Agora passo mais tempo com as minhas filhas"
Geração X: Cidalva Carvalho de Sousa, 48, diarista
"Estou em isolamento há dois meses. Meu último dia de trabalho foi em 16 de março. Depois disso, os meus clientes começaram a me dispensar por causa da pandemia. A maioria deles se ofereceu para continuar pagando minhas diárias, mas preferi continuar recebendo apenas dos meus dois clientes mais antigos, para quem estou trabalhando há nove e 13 anos. Avisei os outros que, caso as coisas apertassem, eu os acionaria.
Não consigo ficar parada. Nunca fiquei sem trabalhar e ver o dinheiro vindo, sem eu fazer nada, me incomoda. Por mais que eu saiba que é um direito meu ter a quarentena remunerada. Entrei no auxílio emergencial e, como minha filha mais velha e meu marido continuam trabalhando, consigo viver minha vida sossegada. Mas minhas crianças dizem que, como estou sem nada para fazer, tenho limpado tanto a casa que vou furar o chão da sala. O sofá eu já estraguei tentando desinfetá-lo.
Sou hipertensa e tenho que tomar bastante cuidado aqui no meu bairro. Aqui no Capão Redondo [zona sul de São Paulo] tem muito botequim aberto, gente furando a quarentena, então elas não deixam eu nem ir colocar o lixo na rua. Minhas filhas cuidam muito de mim. Se saem para ir ao mercado entram em casa e vão direto para o banho.
Assim, por mais que seja angustiante, estou podendo passar um tempo com elas. Esquento a comida da mais velha para ela almoçar no intervalo, a mais nova passa e me dá um cheiro sempre que pode. Coisas que não conseguia fazer porque quando saía elas estavam dormindo e quando eu chegava elas estavam caindo de cansaço.
Além disso, estou lendo mais. Nunca gostei muito de ler, mas comecei a criar o costume para matar o tempo. Pego a Bíblia e leio uma passagem. Se não a entendo, eu a releio e, quando vejo, já se passaram três horas. Até fico impressionada [risos]."
"A sensação é de que minha vida está pausada"
Baby Boomer: Ana Vilarim, 70, bancária aposentada
"A última vez que vi minhas netas, de 4 e 7 anos, foi na semana do dia 15 de março, quando começou a quarentena. Estava acompanhando o noticiário e, sabendo os riscos que corro, não só eu como meus familiares resolvemos aderir ao isolamento. Estou passando a quarentena com meu namorado, com quem moro junto.
Por mais que eu e meu filho moremos no mesmo prédio, mas em andares diferentes, resolvemos ficarmos isolados um do outro porque sabemos que crianças são assintomáticas e que conviver com as meninas poderia ser um risco para mim por conta da minha idade. Mas ficar longe delas por todo esse tempo me dá uma sensação de que a minha vida está pausada. É o que está me doendo mais.
A gente ficava muito tempo junto, porque elas vinham muito em casa. Sou vó, né? Deixava elas pularem em todos os meus sofás. A gente se fala muito por vídeo, mas não é a mesma coisa. Eu gosto de abraçá-las, de beijar a cabecinha delas, porque eu não me aguento. E a presença delas me rejuvenesce, me enche de alegria, de felicidade.
Um dia, a mais velha passou na porta daqui de casa e deixou um recadinho dizendo que estava com saudades. Eu até chorei de emoção. Na Páscoa, subi até a casa deles para entregar os ovos delas e nos vimos de longe. A mais velha me ofereceu um pedaço de chocolate, mas eu disse que já havia comido. Não era verdade, é porque não queria nos colocar em uma situação de risco.
A de sete anos reclama, mas diz que sabe que, depois que o coronavírus passar, estaremos juntas de novo."
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