Curso virtual sobre questão racial explica privilégio, vitimismo: 5 lições
Ainda ressoa em nossa memória um áudio que virou meme na internet de uma mulher questionando seu lugar de privilégio na sociedade. "Privilégio? Foi porque eu mereci!", diz a gravação. O conceito relacionado à meritocracia parece simples. Mas, e quando ele diz respeito à questão racial no Brasil? Quem é privilegiado? É a essa e a outras perguntas sobre a vida de brancos e negros em sociedade que o curso "Diversidades: Educação antirracismo", do Senac, responde com a ajuda da historiadora e pesquisadora Suzane Jardim.
O curso, que é de graça e está disponível em site com vídeos e textos explicativos, apresenta conceitos introdutórios e aprofundados sobre racismo, branquitude, escravidão e suas consequências. Expressões comuns como "Não somos todos seres humanos?" e "Somos todos racistas" também são problematizados no material. Universa acessou o conteúdo e destaca as lições mais importantes sobre o tema.
Curso antirracista: o que podemos aprender
Se somos todos iguais, por que falamos de "raça"?
De fato, independentemente da cor da pele, somos humanos. Mas, faz parte da história e da construção ideológica das pessoas a definição de raça como "conceito sociológico, histórico e político", diz o material.
A historiadora Suzane Jardim explica que "somos diferentes, e a diferença precisa ser aceita e pode ser positiva. Por muitos séculos, ela foi motor de uma criação de hierarquia e de política pública e de precarização de certas populações e certos grupos". Ela classifica frases do tipo "Somos todos iguais" e "o Brasil é um país miscigenado" que colocam para debaixo do tapete as questões raciais que tornam as vidas de pessoas negras e brancas tão desiguais e que "estão postas há muitos anos".
Levar em consideração as diferenças, assim, é uma das formas de entendermos que ainda são necessárias medidas de equidade racial.
Dizem que há "racismo estrutural". O que é isso?
"Somos todos racistas" parece uma expressão dura de ler. Mas ela se baseia no reconhecimento de que existe o chamado racismo estrutural: "ou seja, construído a partir de todo um campo material e simbólico que forma os indivíduos desde a infância", explica o material. Disso, parte "um processo hierárquico que precariza a existência e o desenvolvimento das pessoas que estão na base dessa estrutura". É resultado disso, por exemplo, negros serem 75% entre os mais pobres e brancos representarem 70% entre os mais ricos do País.
Acontece que, por conta da escravização de negros que marca a história brasileira, quem é lido como branco está no topo da pirâmide; quem é negro é visto como inferiorizado. É por essa razão que negros são vítimas de racismo — e brancos, não; isto é, não existe "racismo reverso".
Devo chamar de "negro", "preto", "moreno"?
A linguagem que usamos pode ser racista — e às vezes sequer percebemos. O Curso alerta para as tentativas de se "amenizar" o fato de a pessoa ser negra, usando eufemismos como "moreninho", "café com leite", "mulata", "escurinha", "mais ou menos clara", "queimada". Os termos foram criados em tempos que ser negro era visto como algo indesejado.
Qual é o termo correto? "Não existe uma regra", explica Suzane. O trato então deve ser considerado entre a pessoa e seu interlocutor.
Há pessoas que preferem ser chamadas de "preto" e outras, de "negro". Na dúvida, pergunte para ela qual é o preferível; se for falar sobre alguém na rua, por exemplo, use o termo "negro". E considere se é necessário colocar a raça como um elemento fundamental nessa conversa.
Me chamam de "branco com privilégios". Afinal, o que esse privilégio significa?
Ser branco no Brasil — ou ocupar o lugar de branquitude — garante privilégios sociais. A "branquitude" é um lugar de vantagens "simbólicas, subjetivas e materiais disponíveis para as para as pessoas que são identificadas como brancas em uma sociedade onde o racismo é estrutural". Como quem ainda sofre com a desigualdade racial, visível na falta/incompletude de políticas públicas raciais, por exemplo, são os negros, quem não é negro tem o chamado "privilégio". E isso não significa que as dificuldades na vida de quem é branco não exista.
"É o entendimento de que todo ser humano no Brasil sofreu, teve lutas pessoais, problemas, pobreza, uma trajetória para chegar onde está, mas a cor da pele não foi mais um desses problemas", explica a historiadora.
Vale dizer que, no Brasil, houve a teoria da democracia racial — ou seja, a ideia de que todos são miscigenados e que, por isso, não há hierarquização racial. E que por, de fato, termos passado por um processo histórico de "mistura racial", a "régua de branquitude" considera, principalmente, o fenótipo, os traços e o tom da pele. "Quanto mais se é próximo do padrão branco, menos os efeitos do racismo serão sofridos, e mais se tentará apagar a identidade negra do sujeito", mostra o material.
"É mimimi". Por que não posso dizer que é vitimismo?
"A população negra nunca foi vitimista, mas foi vitimizada", diz Suzane. Ela destaca que nem mesmo frente a casos de racismo, precarização de políticas públicas e políticas de extermínio, a população negra recuou ou parou de buscar suas conquistas.
Acontece que, para ela, o argumento do vitimismo pode ser usado para apagar uma realidade racista. "Eu vejo certa resistência e uma falta de empatia de entender que existe uma necessidade de se falar dessa dor".
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