"Não consigo sentir raiva. Tenho pena dele", diz mãe de miss morta pelo ex
A técnica em enfermagem Neyla Mota, de 40 anos, ainda tenta assimilar a morte da filha, Kimberly Karen Mota de Oliveira, aos 22. Miss Manicoré e finalista do Miss Amazonas 2019, a modelo foi encontrada morta a facadas em 12 de maio, em Manaus, no apartamento do ex-namorado, o analista judiciário Rafael Fernandez, 31.
A mãe busca entender a motivação do crime que tirou a vida da filha dela, mas revela que, apesar da brutalidade como o assassinato aconteceu, não consegue sentir raiva do ex-namorado da filha. "Sinto é pena", afirma.
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, Kimberly estava com três perfurações pelo corpo e a arma usada no assassinato ainda estava na varanda do apartamento, em uma região nobre do Centro de Manaus. O suspeito foi preso em 15 de maio, em Roraima, escondido em uma cabana na fronteira com a Venezuela. A intenção dele era fugir para a Espanha, aponta a investigação.
"Eu não consigo ter raiva, rancor ou ódio. Muitas pessoas me criticam por isso, mas se eu sentir raiva, rancor e ódio, estarei me prejudicando. Se eu bater nele e espancá-lo, isso não irá trazer minha filha de volta. Que agora ele se entenda com Deus. O que posso fazer é lutar por Justiça para que pague pelo que cometeu", afirma a Universa.
"Tenho pena dele pelo que ainda vai passar na prisão, pois não destruiu apenas a minha família, mas a dele também. Meu sentimento é desejo de justiça para que ele fique preso."
Ao ser detido, Rafael estava com o número de telefone do pai no bolso. O suspeito teria ligado para ele logo após praticar o crime, segundo a Polícia Civil.
O pai de Rafael Fernandez foi encontrado morto um dia depois de falar com o filho, em São Paulo — a família é da região do ABC paulista. O suspeito nasceu em São Bernardo do Campo e chegou em Manaus em 2017, ao passar no concurso para o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) Amazonas e Roraima.
Universa procurou por telefone o escritório de advocacia que atende Rafael Fernandez, mas ninguém atendeu. À imprensa local, o advogado Johnny Brito informou que o suspeito confessou o crime e que se arrepende do assassinato.
Suspeito falou com mãe de miss antes do crime
As últimas mensagens que Kimberly trocou com a mãe, antes de perder o contato com a família, foram no Dia das Mães. Ela pediu uma foto com as tias e a avó para ter em seu arquivo. Os parentes perceberam que algo estava errado no dia seguinte, quando a miss deixou de responder.
"Ela falou comigo às 21h38 e pediu uma foto minha, com minha mãe e duas outras irmãs. Achei estranho, mas mandei a foto", conta Neyla. "No dia seguinte, enviei algumas mensagens e ela não respondeu. Fiquei desesperada porque nos falávamos de manhã, de tarde e à noite."
O suspeito de matar Kimberly ainda chegou a desejar feliz Dia das Mães para Neyla, que, pela resposta de Rafael na ocasião, agora acredita que o assassinato tenha sido planejado.
"Ele me desejou feliz Dia das Mães. Eu falei o mesmo para a mãe dele e me respondeu com uma carinha rindo. Acho que foi planejado", sustenta Neyla, acrescentando que as investidas de Rafael para cima de Kimberly permaneceram mesmo depois de a modelo terminar com ele por ciúmes.
"Ela já tinha terminado porque ele era muito ciumento. Mas, para fazer as pazes, ele mandava flores direto. A Kimberly chegou a dizer que não sabia mais onde colocar tantas flores. Era uma tentativa de reconquista. Ela falava que o Rafael morava sozinho em Manaus e que sentia pena dele. Por isso ainda mantinham amizade", revela.
Amigos ajudaram a participar do concurso de miss
Kimberly era referência em Manicoré, de pouco mais de 55 mil habitantes. Por ser de família humilde e ter levado pela primeira vez o nome da cidade à final do Miss Amazonas, se tornou inspiração para muitas meninas.
A participação da modelo no concurso, aliás, aconteceu por acaso. Uma amiga a inscreveu e, com o resultado da chamada para ir à Manaus disputar a coroa, a população de Manicoré se mobilizou para Kimberly desfilar, já que a família não tinha condições financeiras para arcar com a preparação.
"O povo de Manicoré se reuniu e conseguimos. Não somos ricos, somos de família humilde, mas temos muitas amizades. A Kimberly sempre teve muita luz desde pequena", lembra a mãe.
"O pessoal ficava encantando com ela na cidade. Ela gostava de dançar e sempre se destacou na escola. Era uma menina encantada. Quando chegava em Manicoré, não parava em casa porque muita gente a convidava para um monte de lugar. Era muito querida mesmo."
Após realizar o sonho de desfilar e representar a cidade natal, Kimberly nutria o desejo de se tornar dentista. Ela concluiu o curso técnico em enfermagem e conseguiu uma bolsa integral em uma faculdade de odontologia, em Manaus.
Miss juntava dinheiro para montar consultório
Mesmo antes de terminar o primeiro semestre, a jovem já mantinha um cofre com as economias que sobravam dos trabalhos de publicidade e das confecções que vendia de porta em porta. A intenção era terminar os estudos e montar um consultório.
"Fui no quarto dela ontem e vi um cofrinho destinado para o consultório. Era muito sonhadora e batalhava pelo que sempre queria. Ela estava muito feliz por estar estudando e vi no cofre que já estava guardando as economias. Eu confirmei com as amigas, que me disseram que ela já tinha falado isso", conta Neyla.
A mãe de Kimberly afirma que a luta pelos sonhos era a mensagem que Kimberly sempre passava aos seus seguidores nas redes sociais. A modelo tinha mais de 10 mil seguidores no Facebook e mais de 30 mil no Instagram.
"A mensagem que a Kimberly deixa é que as pessoas lutem pelos seus sonhos e que deem muito valor às suas famílias e seus pais, como ela sempre deu. Era muito jovem muito amorosa com a gente. A lição triste é procurar saber com quem está se envolvendo", alerta a mãe.
O feminicídio
Segundo a Polícia Civil do Amazonas, após Kimberly não responder aos chamados da família, uma amiga acionou um tio da miss, que indicou à Polícia Militar (PM) onde o ex-namorado da jovem mora, no centro de Manaus. Os militares arrombaram o imóvel e encontraram o corpo.
A amiga indicou o endereço porque Kimberly saiu no carro do suspeito do local onde elas estavam. A arma supostamente usada no crime ainda estava na varanda do apartamento.
O suspeito, que é servidor da Justiça do Trabalho, estava escondido em uma cabana em uma região de mata em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela. A suspeita da polícia é de que ele estaria planejando fugir para a Espanha através de Caracas.
De acordo com a investigação, o servidor público entrou em Roraima em 11 de maio, um dia depois do registro do desaparecimento de Kimberly. Os investigadores descobriram que o suspeito estava naquela cidade após o registro de sua entrada no estado na barreira sanitária montada na divisa com o Amazonas e depois da localização do carro dele, encontrado capotado na BR-174, em território roraimense.
Rafael seguiu viagem após o acidente ao pegar carona com um caminhoneiro. Em Boa Vista, ele foi até Pacaraima com um taxista, informou a Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros. A hipótese da fuga para a Espanha surgiu após a polícia apurar que o ex-namorado da modelo tem parentes no país europeu.
Após ser conduzido para Manaus, o Tribunal de Justiça do Amazonas converteu a prisão temporária em preventiva a pedido da Polícia Civil. Assim, Rafael deverá responder pelo crime na cadeia. O inquérito tem 30 dias para ser concluído.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.