Com teste em farmácia, demorei 10 minutos para descobrir se tive Covid-19
O teste rápido de Covid-19 que fiz em uma farmácia de São Paulo na terça-feira (26) foi o primeiro exame de saúde da minha vida em que torci para o resultado ser positivo.
Ainda que o comportamento dos anticorpos para o novo coronavírus seja até hoje uma incógnita para a ciência —não há estudos atestando quanto tempo podem permanecer no corpo e se oferecem de fato proteção contra uma nova infecção—, saber que já passei pela doença e sobrevivi bem seria um alívio.
Quando foi anunciado que os testes passariam a ser vendidos em farmácias, há cerca de três semanas, as empresas em São Paulo ainda estavam estudando como disponibilizá-lo. Na época, liguei para cinco grandes redes de farmácias na capital paulista: Drogaraia, Drogasil, Drogaria São Paulo, Iguatemi e Onofre. Nenhuma soube dar uma data precisa para a chegada dos testes.
Voltei a ligar depois de 15 dias, na quinta-feira (21), como a primeira e a última empresa tinham me orientado a fazer.
A Drogaraia passaria a fazer o teste no dia 26 e informaram que era preciso agendar o horário pelo site. Entrei lá, coloquei meu endereço, escolhi a farmácia mais próxima e o horário. Pronto, agendado. Mas, já nesse momento, a empresa passou algumas informações importantes.
Exame só vale 10 dias após primeiros sintomas
Para haver sentido em fazer esse exame, é preciso ter tido os primeiros sintomas há pelo menos dez dias. Ou então ter sido exposto ao novo coronavírus há pelo menos 20 dias. Isso porque o teste se baseia no resultado imunológico, ou seja, na resposta que o corpo dá à infecção pelo vírus.
Essa resposta, porém, pode demorar para acontecer, caracterizando o que se chama de janela imunológica, que é o intervalo de tempo entre a infecção e a produção de anticorpos. Se eu peguei o vírus indo para a farmácia, por exemplo, o teste não avisaria.
Ciente disso, fiquei pensando nos motivos que me faziam crer que estava imunizada. O mais contundente deles é que há 22 dias visitei uma UTI de pacientes de Covid-19 de um hospital público para uma reportagem sobre o trabalho das enfermeiras. Embora tenha seguido o protocolo de segurança na vestimenta e na higiene, a probabilidade era grande devido ao poder de contaminação do vírus.
Além disso, em março, quando a Covid-19 parecia ser uma ameaça distante, passei quase um mês doente: em um dia tinha dor no corpo, no cansaço, no outro tosse, no outro febre. Fui ao médico, e ele disse que era uma infecção forte na garganta. Dias depois e medicada, os sintomas sumiram.
R$ 140 por uma espetada no dedo
Na farmácia há um esquema bem organizado para a realização do teste, do agendamento ao atendimento no local. Uma farmacêutica me fez várias perguntas sobre sintomas, quadro clínico atual e exposição ao novo coronavírus.
Contei basicamente o que está nos parágrafos acima. Paguei — foram R$ 140 —, esperei mais cinco minutos e outra farmacêutica, paramentada dos pés à cabeça, me chamou para uma salinha bem parecida com as de laboratório onde se faz exame de sangue.
Ela me pediu que lavasse as mãos, as esfregasse uma contra a outra e e explicou que o exame seria feito a partir de uma gota de sangue coletada da ponta de um dedo. Depois, pediu que eu apertasse, com a palma da mão para cima, a ponta do meu dedo anelar, para o sangue se acumular ali. Foi esse dedo que ela espetou, em um procedimento que lembrou os exames rápidos de HIV.
Com um tubo fino de plástico na mão, ela começou a coletar a gota mas percebeu que o sangue que saía não seria suficiente para chegar até a marca apontada no tubo, que indicava a quantidade de sangue necessária. "Você tem uma ótima cicatrização", me disse, e espetou o dedo médio, aí sim, com material suficiente.
Resultado negativo e "volta daqui a uma semana"
Depois da coleta, esperei por cerca de dez minutos em uma cadeira dentro da própria farmácia. Uma atendente veio até mim para entregar a nota da compra e falou que o documento com o resultado já estava quase pronto. "E deu negativo", disse, alto o suficiente para todos em volta ouvirem.
A farmacêutica apareceu confirmando o resultado negativo. Me entregou dois papéis: um que comprovava o resultado "não reagente" e outro com orientações básicas sobre a doença — como lavar as mãos e, se possível, ficar em casa. Explicou, por meio da foto com o teste, que eu não apresentei nem anticorpos recentes, que indicariam uma infecção atual, nem antigos, que mostrariam uma doença já superada.
Mas, ela afirmou, terei que continuar atenta por causa da possibilidade de um falso negativo. Caso apresente sintomas nos próximos dias, a orientação é voltar daqui uma semana para refazer o teste.
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