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Black Lives Matter: entenda movimento por trás da hashtag que mobiliza atos

Manifestante segura cartaz com a frase "Black Lives Matter" durante protesto em Nova York - Erik McGregor/LightRocket via Getty Images
Manifestante segura cartaz com a frase "Black Lives Matter" durante protesto em Nova York
Imagem: Erik McGregor/LightRocket via Getty Images

Jéssica Arruda

Colaboração para Universa

03/06/2020 15h20Atualizada em 03/06/2020 16h22

A onda de protestos após a morte de George Floyd por um policial de Mineápolis, nos Estados Unidos, fez a hashtag #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre) ganhar manifestações nas ruas e nas redes sociais. Famosos e anônimos têm usado o termo nos últimos dias, no online e no offline, como forma de apoio ao movimento antirracista e para cobrar das autoridades que resguardem vidas negras.

O Black Lives Matter, às vezes citado nos cartazes como BLM, é uma organização que nasceu em 2013 por três ativistas norte-americanas: Alicia Garza, da aliança nacional de trabalhadoras domésticas; Patrisse Cullors, da coalizão contra a violência policial em Los Angeles; e Opal Tometi, da aliança negra pela imigração justa. Hoje, é uma fundação global cuja missão é "erradicar a supremacia branca e construir poder local para intervir na violência infligida às comunidades negras" pelo Estado e pela polícia.

Negros e brancos contra o racismo

A união destas três mulheres, e a convocação do movimento foi uma reação à absolvição do vigia George Zimmermann, então acusado de assassinar o adolescente negro Trayvon Martin, que voltava para casa após comprar doces e foi morto com um tiro no peito em Sanford, na Flórida.

Mas o ativismo delas só ganhou destaque no ano seguinte, após outros dois casos de negros mortos por policiais nos Estados Unidos: Michael Brown, 18, baleado em Ferguson, e Eric Garner, de 43, estrangulado em Nova York. Ambos estavam desarmados.

O que começou como luta contra a brutalidade policial norte-americana se transformou em um movimento mundial pelos direitos da população preta. "Não é uma guerra entre brancos e negros, mas uma luta de todos contra o racismo. O Black Lives Matter deu visibilidade, mas a nossa luta é muito mais antiga, pela existência como seres humanos, pelo direito de viver e sair na rua sem ser alvejado", afirma Silvana Inácio, jornalista e criadora do Podcast Zumbido.

Vozes que precisam ser ouvidas

O Black Lives Matter começou nos Estados Unidos, mas acabou tendo impacto no mundo todo, inclusive no Brasil, desde que foi criado, também para protestar contra violência policial. Dados da CPI do Senado Federal informam que um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no país.

E a violência policial, somada a questões como a impunidade, gerou casos de grande repercussão nacional, como da menina Ágatha Félix, de 8 anos, baleada em setembro de 2019 no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e o adolescente João Pedro Mattos, 14, alvejado dentro de casa e morto com um tiro nas costas em São Gonçalo, no mês passado.

Para a educadora, palestrante e ativista Eliane Leite, mesmo com a hashtag #BlackLivesMatter se multiplicando entre brasileiros nas redes sociais, no Brasil a sociedade ainda não se engajou em cobrar empresas e os governos sobre ações mais efetivas sobre violência policial contra negros.

"Evaldo, Ágatha, David, João Pedro e a população brasileira nunca tomou uma atitude concreta de protesto coletivo exigindo apuração e punição destes casos. Vidas negras são ceifadas diariamente e nada é feito, nenhuma política pública é pensada para que isto deixe de acontecer", afirma.

Mas tudo isso não quer dizer que não exista uma mobilização potente do movimento negro no Brasil. Exemplos de mulheres como Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro e a própria Marielle Franco levantaram essas questões, discutindo a discriminação racial e disseminando conceitos como o de genocídio da população negra. "O grande legado do Black Lives Matter é esse: chamar a atenção para esta luta e ecoar que não somos simplesmente estatísticas em um gráfico", completa Silvana.

Além das redes sociais

O que Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi já deixaram claro é que o Black Lives Matter não está apenas em hashtags nas redes sociais, mas também cobrando posicionamentos de toda a sociedade sobre a questão racial e das condições socioeconômicas da população negra. Protestos, manifestações e ações nas mídias sociais mostram indignação e cobram atitudes concretas da imprensa, empresas privadas e poder público.

"Esperamos que este movimento vá além e parta para a ação: precisamos que esta luta não seja só dos negros, mas que negros e brancos cobrem atitudes, leis mais severas, políticas antirraciais, de diversidade e apoio à população negra. Não temos mais tempo a perder, as pessoas, as organizações, as empresas precisam agir agora", diz Eliane.