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Kyra Gracie fala de gravidez: "Vai ter um baby boom depois da quarentena"

Mãe de Ayra, 5, e Kyara, 3, Kyra Gracie espera terceiro filho - Divulgação/Yuri Graneiro
Mãe de Ayra, 5, e Kyara, 3, Kyra Gracie espera terceiro filho Imagem: Divulgação/Yuri Graneiro

Luiza Souto

De Universa

03/06/2020 04h00

Mãe de Ayra, 5 anos, e Kyara, 3, a lutadora de jiu-jítsu e empresária Kyra Gracie anunciou, no último dia 28 de maio, a espera de um terceiro filho de seu casamento com o ator Malvino Salvador.

"Vai ter um baby boom aí depois da quarentena", brinca ela em conversa com Universa, por telefone. Herdeira da família que saiu de Belém para espalhar o jiu-jítsu pelo país, Kyra, 35, conseguiu reunir apenas alguns dos seus integrantes para celebrar a novidade pelo Zoom, por causa do isolamento social provocado pelo novo coronavírus. E garante não estar com medo de gerar uma criança em época de pandemia.

Apesar dos enjoos e do cansaço que anda sentindo, ela segue dando aula online de defesa pessoal para mulheres e crianças. E assegura: "Não ensino ninguém a bater em ninguém, a ser a agressora, mas sim a sair de uma situação que possa levar à morte".

Muitas mulheres anunciaram a gravidez durante a pandemia. Não dá medo?
Vai ter um baby boom aí depois da quarentena [risos]. Mas não tive medo. A minha primeira gravidez foi na época do vírus zika, que provoca a microcefalia. E a gente aqui tem cuidado com a imunidade, alimentação, exercício físico. Não dá para não viver por causa dessas coisas que acontecem.

Quais as maiores diferenças entre as gestações?
Os exames. A ultrassonografia não tem como fazer por Facetime, mas o resto a gente está fazendo por teleconsulta. Até os exames de sangue a enfermeira vem aqui em casa para coletar o material.

Suas duas meninas nasceram de parto normal. Você pensa num possível parto em casa, se a quarentena continuar?
Quando a neném nascer, espero que isso tudo já tenha acabado. Mas não passa pela minha cabeça ter em casa. Quero mais um parto normal, como fiz antes, mas sinto mais segurança se for no hospital.

Sua academia, a Gracie Kore, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio de Janeiro), está fechada desde o início da quarentena. Como ficaram seus negócios?
Sofrendo, como a maioria. Graças a Deus conseguimos manter o quadro de funcionários -- e isso por causa do suporte que tivemos dos alunos, que continuam pagando a mensalidade. Desde que tivemos que fechar a academia, passamos a dar aula online. Temos três aulas por dia em grupo e algumas particulares.

Por causa da quarentena, acompanhamos o aumento de casos de violência doméstica. Sentiu que mais mulheres têm procurado as aulas de defesa pessoal?
A procura está a mesma. Mas infelizmente recebo muitos depoimentos de mulheres, além de vídeos de câmeras de segurança, mostrando agressões, e o isolamento as potencializou. Faço a minha parte, que é trabalhar a defesa pessoal de modo que elas se sintam seguras. O mais importante é que não ensino ninguém a bater em ninguém, a ser a agressora, mas sim a sair de uma situação que possa levar à morte. É mais interessante ter uma chance do que nenhuma. Nosso objetivo é prevenção, sair sem machucar o agressor e fazer qualquer coisa para salvar a vida.

Você tem um projeto de incluir o jiu-jítsu nas escolas. Em que pé estão as negociações?
Já tivemos audiência pública em Brasília, para apresentar o projeto, e foi bem positiva. A gente está esperando a segunda etapa. Leva um tempo. São três etapas para a lei ser aprovada junto ao MEC (Ministério da Educação) e depois ser inserida em algumas escolas como teste. Lembrando que qualquer um pode fazer. Dou aula para crianças a partir de 2 anos e minha aluna mais velha tem 74. Não precisa ser atleta nem ter força física. Qualquer pessoa aprende a se defender.

Você é mãe de duas meninas. Como contribuir para que, quando elas crescerem, se defendam do machismo?
O mais importante é criar crianças autoconfiantes e que saibam falar "não". E isso desde pequena, nas pequenas coisas, como na escola, quando a criança ou adolescente faz alguma coisa para agradar ao amiguinho mais popular. É se posicionar para não sofrer bullying. Quem sofre o bullying carrega traumas psicológicos por toda a vida, e isso influencia para que a mulher aceite um relacionamento abusivo. A gente tem trabalhado para que haja penas mais duras, para que os homens se conscientizem de que é errado bater em mulher, mas é uma situação que vai continuar acontecendo -- infelizmente. Então a gente tem que preparar nossas filhas para isso.

Quais os tipos de machismo machucaram mais você?
A minha questão com o machismo foi o preconceito grande por fazer jiu-jítsu. As pessoas me olhavam diferente e sugeriam que escolhi o jiu-jítsu por ser gay. Isso que eu mais senti na pele, mas nunca passei por uma situação agressiva.

Liberar o uso de arma ajuda a mulher a se defender?
Prefiro acreditar no jiu-jítsu para você não depender de arma. Porque independentemente de ela ser aprovada ou não, alguém pode tirá-la de você. E, a partir do momento que alguém te tira a arma, você perde seu poder. Sou totalmente contra a violência.

Essa pandemia mudará de vez as relações?
Sim. Minha família, por exemplo, é gigante, e damos muito valor a ela, a olhar no olho, abraçar. Acho que as pessoas que não têm isso vão começar a olhar mais para essa questão.