Rowling diz se importar com vidas trans, mas critica 'explosão do ativismo'
Quatro dias após ser acusada de transfobia por uma série de tuítes em que procurou fazer distinção entre sexo e gênero, J.K. Rowling postou um extenso ensaio em seu site oficial detalhando suas posições e os motivos que a levaram a opinar publicamente sobre o tema.
O texto (que pode ser lido na íntegra, em inglês, aqui) tem tom conciliatório, e Rowling, apesar de criticar um suposto excesso de ativistas, buscou afirmar de todas as formas que se importa com vidas de pessoas transgênero, e respeita seu direito de existir e viver como bem entenderem. "É claro que direitos trans são direitos humanos, e é claro que vidas trans importam", disse em um trecho.
Problemas com o ativismo
No entanto, a autora repetiu também sua crença em um lado obscuro do ativismo trans, acusando alguns ativistas de assediar, on-line, mulheres que expõem sua preocupação com questões de gênero no mundo contemporâneo.
Rowling cita ser contra a facilitação do processo de transição de gênero em vários países, a disponibilização de hormônios para indivíduos menores de idade e a abertura de espaços que ela descreve como "exclusivamente femininos" a indivíduos que se identificam como mulheres trans, tenham passado por transição ou não.
"Frequentemente, as pessoas me disseram para 'conhecer algumas pessoas trans'. Eu as conheci. Além de algumas mais jovens, que foram todas adoráveis, tenho uma amiga que se identifica como transexual e é mais velha do que eu. Ela é maravilhosa", escreveu.
"Embora ela seja aberta sobre o seu passado como um homem gay, eu sempre achei difícil pensar nela como qualquer coisa além de uma mulher, e acredito (certamente espero) que ela se sente completamente feliz por ter feito a transição", continuou.
"Sendo mais velha, no entanto, ela passou por um processo longo e rigoroso de avaliação, psicoterapia e transformação em etapas. A atual explosão de ativismo trans está pedindo pela remoção de quase todos os sistemas robustos através dos quais candidatos para transição de gênero antes precisavam passar", disse.
Casamento abusivo
No ensaio, Rowling também escreveu sobre o seu primeiro casamento, revelando que sofreu violência doméstica. Ela disse que as "cicatrizes" desse relacionamento ainda são visíveis hoje, comentando que se assusta facilmente com barulhos altos demais ou quando alguém se aproxima dela sem que ela perceba.
"Se você conseguisse entrar na minha cabeça e entender o que eu sinto quando leio sobre uma mulher trans morrendo nas mãos de um homem violento, você encontraria solidariedade e compreensão. Eu sei muito bem de onde vem o senso de terror que essas mulheres trans sentiram em seus últimos segundos de vida, porque também o senti, várias vezes", garantiu.
"Eu acredito que a maioria das pessoas que se identificam como trans não só não representam nenhuma ameaça para os outros, como são vulneráveis pelas razões que eu acabei de dizer. As pessoas trans precisam de proteção, e merecem proteção. Assim como as mulheres, elas têm muito mais chance de serem mortas por seus parceiros sexuais. As mulheres trans que trabalham na indústria do sexo, particularmente mulheres trans negras, estão ainda mais em risco", notou.
"Como todas as outras sobreviventes de violência doméstica e assédio sexual que eu conheço, não sinto nada além de empatia e solidariedade em relação às mulheres trans que são abusadas por homens. Eu quero que elas estejam seguras, mas ao mesmo tempo não quero que as pessoas que nasceram mulheres estejam menos seguras", continuou.
"Quando você abre as portas de banheiros e vestiários para qualquer homem que acredita ou sente ser mulher — e, como eu disse, certificados de confirmação de gênero agora são cedidos sem nenhum tipo de cirurgia ou hormonização —, você abre as portas para qualquer homem que quiser entrar. Esta é a simples verdade", opinou.
'Sobrevivente, não vítima'
Rowling finalizou o ensaio refletindo sobre suas razões para escrever mais longamente sobre o assunto e pedindo compreensão.
"Eu sou muito sortuda: sou uma sobrevivente, não uma vítima. Só mencionei o meu passado porque, como todo outro ser humano do planeta, tenho uma história complexa, que molda os meus medos, interesses e opiniões. Eu nunca me esqueço dessa complexidade quando crio um personagem ficcional, e certamente nunca me esqueço dela quando se trata de pessoas trans", escreveu.
"Tudo o que estou pedindo, tudo o que eu quero, é que a mesma empatia e compreensão seja estendida aos milhões de mulheres cujo único crime foi tentar expressar a sua opinião, tentar ser ouvidas, sem receber ameaças e abusos", completou.
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