Nátaly Neri explica pansexualidade e importância de vozes LGBTQ+ negras
A youtuber Nátaly Neri está se preparando para ser uma das apresentadoras 1ª Parada Virtual do Orgulho LGBTQIA+, que será transmitida no YouTube neste fim de semana. Ela, que encontrou-se na pansexualidade, explica a importância de se destacar a experiência de pessoas negras na comunidade.
"Entender a minha sexualidade foi um processo de desconstruir vários estigmas. Primeiro, o racial, que me limitava, depois o da religião, que foi o meu berço", contou ela, que foi criada na igreja evangélica, em entrevista à Glamour. "Só aí fui reconstruir a imagem que eu tinha sobre mim e sobre outros corpos que eu poderia me atrair afetivamente".
Ela diz que ficou confusa quando entendeu que não lhe cabia a heterosexualidade. "Não estava em um lugar monosexual, não era sobre ser lésbica. Conheci a pansexualidade e entendi que ela está nesse local de dúvida, sem estar tão carregada de definições e sem ser pragmática. A complexidade da minha experiência me aproximou do termo e encontrei nele liberdade."
Mas o que é pansexualidade? Ela explica: "É a atração por todos, independente de gênero, ou por todos os gêneros. É a compreensão de que sempre há interesse e a possibilidade de amor acima de tudo".
Experiência no namoro
A youtuber atualmente namora um homem transgênero, chamado Jonas, que ainda não tinha feito a transição quando o relacionamento começou. "Sofríamos a lesbofobia por sermos um casal de duas mulheres", contou.
A experiência reverbera até hoje no relacionamento. Ela explica que o tipo de violência enfrentada pelo casal mudou quando o namorado fez a transição e começou a ser lido socialmente como homem, só podendo acontecer quando as pessoas percebem que ele é trans — mas o que ficou foi um receio constante de demonstrar carinho em público.
"A violência não acaba quando ela acontece, ela fica como trauma e muda o nosso comportamento. Mesmo estando em um lugar confortável, existe o receio inconsciente e um incômodo lá no fundo, que às vezes bate e eu nem sei de onde vem", disse.
Vozes negras
Sobre a importância de se dar espaço a vozes racialmente diversas dentro da comunidade LGBTQ+, Nátaly frisou que "a experiência de uma lésbica negra vai ser muito diferente de uma branca, porque não existe o descolamento da identidade racial no processo de identificação da orientação sexual".
Na opinião da youtuber, mulheres negras são envoltas em muitos estereótipos racistas ao longo do crescimento, dois deles ligados à sexualidade. "As negras mais claras são frequentemente relacionadas à mulata, ao corpo de se vender, à exportação e à mulher que samba e atrai gringos. Já as negras escuras, apesar de serem igualmente objetificadas, têm o corpo de trabalho em que acontece a dessexualização. Essas duas identidades raciais pautam as vidas durante anos e fazem com que até a compressão da sexualidade se confunda", explica.
Nátaly acredita que não há como unirmos tudo pelo guarda-chuva LGBTQ+. "É preciso discutir também raça, classe, geografia. Está mais do que na hora de narrativas negras, trans e periféricas assumirem a linha de frente do movimento, principalmente no Brasil, em que a maioria é pobre e negra, e as experiências são múltiplas e complexas".
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