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Sem salão, mulheres descobrem beleza natural e renovam planos pós-pandemia

Barbara Moraes - Arquivo Pessoal
Barbara Moraes Imagem: Arquivo Pessoal

Manuela Aquino

Colaboração para Universa

14/06/2020 04h00

Os dias em casa têm mudado o comportamento de algumas mulheres em relação às suas rotinas de beleza. Por que passar maquiagem "para ficar em casa" ou se depilar para "ninguém ver"? Enquanto algumas redobram os cuidados, outras aproveitam este momento para repensar a necessidade de usar tanto produto, todo santo dia, com tantos passos, tantas regras.

"Muitas mulheres passaram a olhar para o espelho de maneira diferente e a pensar na vida em uma dimensão maior, pois estamos em uma fase de luta pela sobrevivência. Se isso vai ficar ou não, só saberemos depois, mas é um momento de reflexão sobre como gastamos nosso tempo", diz psicoterapeuta familiar Carla Guth, de São Paulo.

Universa conversou com quatro mulheres que passaram a refletir sobre o consumo dos produtos de beleza, seja para aumentar, reduzir ou mudar o foco.

A pet sitter de Belo Horizonte Patricia Caetano, 48, passou a trabalhar em casa, pois os passeios com os cães foram interrompidos. Como também é artista plástica, agora desenha e vende quadros com os retratos dos bichos. "Eu usava batom diariamente, e, de vez em quando, maquiagem. Parei com tudo. Também pintava o cabelo e fazia chapinha, agora ele está bastante grisalho e não aliso mais. Também não estou me preocupando com depilação", conta Patricia.

Ela diz que, ao parar com a maquiagem e a tintura, notou que ganhou uma pele viçosa e a sensação de um cabelo mais saudável. Mas as maiores transformações, conta, foram internas. "Estou mais desprendida e isso me deu uma sensação de liberdade muito grande. Poder me assumir como sou me fez sentir mais inteira. Está acontecendo uma reflexão profunda sobre aparência, padrões de beleza e a opinião dos outros. Minha prioridade agora é ser feliz e ter saúde", fala.

Em sua rotina de cuidados com o rosto, o que não falta é o creme hidratante. E perceber uma pele mais bonita com pouco produto traz a reflexão sobre os excessos em que acreditávamos no mundo pré-pandemia.

Menos manchas e ressecamento, aponta dermatologista

"Há uma menor exposição solar, o que deixa a pele mais uniforme e menos manchada. Usar menos maquiagem ou não usar —principalmente para as mulheres que não removem direito— faz diferença. E tem a menor exposição ao ar condicionado, que resseca a pele, assim como o uso do batom mate que tende a rachar os lábios", diz a dermatologista Luciana Garbelini, de São Paulo.

Segundo a médica, é possível adotar um esquema mais prático de cuidados. "Pode limpar duas vezes ao dia, não mais do que isso, considerando uma vez no banho para facilitar. Usar um hidratante ou anti-idade à noite, e pela manhã uma proteção solar", recomenda.

A bailarina Bárbara Morais, 36, começou a repensar o tempo gasto com rotinas de beleza quando nasceu seu primeiro filho, João, 6. Ela conta que passou a usar menos maquiagem e a não se preocupar tanto com as unhas. A paulista de São José dos Campos também é mãe de Elis, de 3, e ainda tem uma empresa de festas infantis.

Agora, com a quarentena, mais mudanças pela frente. Em uma rotina normal, ela costumava usar o trio "corretivo, máscara para cílios e blush" para ir até à padaria. Isso agora foi dispensado mesmo nas saídas necessárias. "Provavelmente, quando voltar a sair eu não vou me preocupar mais tanto", prevê.

Antes, se eu pensava em sair, já buscava o corretivo. Mas também acho que é algo da idade, do amadurecimento", fala. Hoje, a maquiagem só sai da gaveta quando dá aulas de balé em vídeo. "As crianças me reconhecem assim, com o cabelo e o rosto da sala de aula. Também tenho uma empresa de eventos, então, em alguns momentos, continuarei usando".

Para Bárbara, uma grande mudança aconteceu em relação ao cabelo, já que passou a gostar dos fios brancos. "Veio a quarentena e, com ela, os fios brancos começaram a aparecer", conta ela, que pinta o cabelo desde a adolescência, e passou a curtir o novo reflexo. "Não voltarei a esconder o cabelo branco, gostei do resultado, estou orgulhosa e tranquila. Meu grisalho está lindo, prateado, isso foi uma melhora da quarentena".

Liberdade de quarentena

Renata Cezar - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Renata Cezar
Imagem: Arquivo Pessoal
Renata Cézar, 31, advogada de São Paulo usou maquiagem para trabalhar. A vida de escritório e as reuniões frequentes com clientes e audiências pediam pacote completo: BB cream, base, iluminador, contorno, batom, máscara, sombra. Agora, com trabalho em casa, investe em batom e delineador só se tiver alguma chamada em vídeo.

"Uma alívio tão grande não ter que fazer maquiagem todos os dias. Perdia-se tempo de manhã e na hora do almoço ainda tinha que retocar. Maquiagem pode ser uma dor de cabeça. Minha pele está muito melhor, sem cravinhos, o que antes me obrigava a um skincare mais pesado para limpar a pele", conta.

Ao ver a mudança, Renata também passou a seguir as dicas da mãe, que é fitoterapeuta. "Conforme os produtos que eu tinha acabaram, parei de comprar. Agora uso um sabonete natural de própolis e faço máscara com mel misturada com pó de café coado ou com fubá. Não preciso de mais nada", conta.

Novas experiências

Ivy Faria - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Ivy Faria
Imagem: Arquivo Pessoal
Apesar de usar maquiagem todos os dias para ir às aulas da faculdade de direito, a escritora Ivy Farias, 38, descobriu, durante a quarentena, que tem menos rinite ao usar produtos veganos e orgânicos. "Comprei um sabonete em barra para o rosto, de laranja lavanda e gergelim, e um sérum iluminador de sálvia. Descobri um jeito de fazer um carinho em mim com esse ritual para a pele", conta.

Depois de experimentar os produtos para o rosto, ela investigou outras marcas e agora usa xampu e condicionador em barra. "São produtos com pouco cheiro e multifuncionais, o que foi uma descoberta. O xampu também é sabonete e o condicionador funciona como manteiga corporal. Facilita a vida."

A experiência fez Ivy decidir mudar seu perfil de compra daqui em diante: "Quero comprar de pequenas empresas, veganas ou orgânicas, e que sejam comandadas por mulheres, e, de preferência, que estejam começando o negócio."