Profissionais de beleza querem reabrir portas; é seguro ir ao salão agora?
Unha feita, raiz retocada, corte de cabelo em dia: o que antes era parte da rotina de muitas brasileiras, agora só é possível se a pessoa conseguir dar conta dos próprios cuidados ou tiver a sorte de conviver com alguém com essas habilidades. Desde março, quando a pandemia isolou milhões de brasileiros em casa, salões de beleza estão impedidos de abrir as portas em muitas cidades do país, incluindo grandes metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Na última quinta-feira, sindicatos e profissionais de beleza realizaram uma manifestação em São Paulo pela reabertura do setor na capital paulista. A categoria desenvolveu em maio uma cartilha de cuidados em parceria com o Sebrae e agora luta pelo retorno seguindo as novas normas.
Os salões fazem parte da fase 3 de reabertura do setor de serviços pós-quarentena previsto pelo governo de São Paulo, que está na fase 2, mas a data para a progressão de fase depende de fatores sanitários.
Para as clientes, entretanto, uma outra questão já se coloca: é possível voltar a frequentar estes lugares sem risco de contrair o novo coronavírus? Que cuidados tomar ao fazer as unhas ou cortar os cabelos de agora em diante?
Para o médico sanitarista e professor da escola de medicina da PUC-PR, Gilberto Martin Berguio, sem uma vacina ou medicamento que cure a Covid-19, o retorno seguro é impossível. "O risco de exposição ao vírus começa na locomoção do cliente até o local, principalmente se a pessoa entrar em contato com outras durante o caminho, por exemplo, utilizando o transporte público", aponta.
Além disso, os ofícios de cabeleireiro, manicure ou esteticista exigem uma proximidade grande entre profissional e cliente. "Uma máscara de pano pode não ser o suficiente para conter as gotículas de saliva que são espalhadas ao falar ou respirar. Para reduzir os riscos de contaminação seria necessário que as pessoas trabalhassem usando uma máscara específica, tais como as voltadas para os profissionais da saúde nos hospitais", argumenta.
Muito além da máscara
Outra preocupação é a aglomeração nos ambientes fechados. "É necessário que os salões redimensionem as agendas, reduzindo o número de pessoas atendidas, para que os clientes possam ficar a pelo menos a dois metros de distância uns dos outros. E é imprescindível que haja circulação de ar através de portas ou janelas, uma vez que ambientes climatizados com ar condicionado podem favorecer a propagação do vírus", diz.
Antes da pandemia, salões de beleza já precisavam seguir normas da vigilância sanitária, mas elas não são suficientes para conter a propagação da doença. "Para reduzir os riscos, os funcionários precisariam ser bastante rigorosos do ponto de vista da higienização, incluindo fazer regularmente uma lavagem do chão, pelo menos com água e sabão, e limpar todos os equipamentos e bancadas com água sanitária ou álcool 70".
Salões apostam em novas regras
Márcio Michelasi é presidente do Sindicato Nacional Pró-Beleza e foi um dos profissionais a discursar durante a manifestação na Avenida Paulista na semana passada. Ele considera a atual situação de cabeleireiros, manicures e esteticistas "caótica", e diz que 18% dos salões fecharam as portas sem previsão de retorno e que parte dos profissionais não tem recursos suficientes para alimentação.
"Ninguém quer empurrar ninguém para a morte, mas como viver sem trabalhar? Ou pior, exercendo a profissão clandestinamente, como um bandido?" Márcio Michelasi
A proposta do setor é uma reabertura que siga novos protocolos de segurança. Pensando nisso, a categoria desenvolveu no início da quarentena a cartilha "Negócios de Beleza: Orientações para Retomada Segura Pós Quarentena(s) Covid-19", que diz como os profissionais devem agir diante de uma possível retomada.
Nas sugestões do documento constam: disponibilizar álcool em gel para clientes; borrifar álcool na sola do sapato ao entrar; só autorizar a entrada de clientes usando máscara e orientar os profissionais a usarem uma combinação da máscara caseira com face shield; desinfetar bancadas, poltronas, cadeiras e macas entre clientes; dar preferência à ventilação natural; higienizar a máquina de cartão a cada uso com álcool 70%; questionar os clientes sobre sintomas ou contato com pessoas com Covid-19; não permitir a realização de serviços simultâneos em uma mesma pessoa; não usar adornos pessoais, com exceção de brincos pequenos; entre outras.
Enquanto a reabertura não é permitida
O médico sanitarista recomenda, como alternativa, o atendimento a domicílio. "Se tiver condições de receber o profissional em casa, em um ambiente separado, os riscos são menores. Ele chega, deixa o sapato fora, utiliza máscara e faz o serviço. Quando sair, a pessoa providencia a limpeza do local, troca de roupa e toma um banho", indica. Segundo ele, o risco de contaminação é reduzido pois existe controle sobre a higienização das superfícies.
O governo do estado de São Paulo chegou a propor que os trabalhadores da área exercessem a profissão desta maneira, mas Márcio discorda da medida. "O salão é uma estrutura fechada, com regras sanitárias e estamos propondo protocolos de segurança desenvolvidos por médicos. Isso não acontece nas residências. Estabelecer uma rotina de visita a vários clientes exporia os profissionais a um risco muito maior", avalia.
Enquanto a reabertura não é autorizada, a medida mais eficaz de suporte aos salões elencada por ele são os chamados "vouchers da beleza". "Muitos profissionais venderam pacotes antecipados para o momento em que a quarentena terminar, o que tem dado certo", conta.
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