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"Depois de um período de namoro com sexo intenso, ele começou a brochar"

O que fez esse sujeito sentir-se impotente diante da companheira? Dinheiro? Estresse? Problemas físicos? Nada disso - PeopleImages/iStock
O que fez esse sujeito sentir-se impotente diante da companheira? Dinheiro? Estresse? Problemas físicos? Nada disso Imagem: PeopleImages/iStock

Ana Canosa*

23/06/2020 04h00

Marcelo tem 29 anos e uma vida socialmente ajustada. Ele é casado há um ano com Andréia, e eles têm um ótimo relacionamento. Juntos dividem tarefas, projetos, lazer e ótimos momentos em família. Não brigam nunca e dão risada de tudo. Andréia é hábil em transformar momentos de tensão em descontração e ele sempre me reforça isso: "Ela é leve, a vida com ela não tem tempo ruim."

Mas, minha gente, quem aguenta uma vida sem tempo ruim, não é mesmo? O fantasma da disfunção erétil veio assolar a porta deste adorável casal. Há dois anos, depois de um período de namoro com sexo intenso, ele começou a apresentar perda de ereção durante as relações. Os dois últimos sexos aconteceram durante a lua de mel. Passaram um mês viajando pelas ilhas gregas e Marcelo deu todas as desculpas possíveis para fugir dos momentos de intimidade: dor de cabeça, cansaço, azia e má digestão. Andréia, que não estava feliz com a situação, deu uma prensa e o sexo aconteceu quase de supetão. Foi a última vez.

Há dois anos, depois de um período de namoro com sexo intenso, ele começou a apresentar perda de ereção durante as relações. Os dois últimos sexos aconteceram durante a lua de mel.

O que fez esse sujeito sentir-se impotente diante da companheira? Dinheiro? Estresse? Problemas físicos? Disputas de poder na relação? Nada disso. Marcelo tinha sido um garoto tímido, extremamente comprometido com os estudos e os esportes. A masculinidade era pautada no fazer, na ascensão profissional e financeira. Teve um avô com perfil de liderança, comprometido e encantador, uma referência para ele. A ideia do macho provedor faz parte do seu DNA. Teve relações anteriores nas quais era ciumento e de perfil controlador. Conheceu Andréia quando ela namorava outra pessoa e a "competição" com o namorado dela devia mover seus instintos. Ele era o bom amigo, confidente e irresistível. Sempre sonhou em ser pai, e a vida conjugal o alimentava.

Enquanto Andréia cedia às investidas dele, separava do então namorado e começava a se relacionar com Marcelo, ele se ocupava de controlá-la. Virou tão ciumento quanto como fora antigamente com outras parceiras. Mas Andréia nunca foi o tipo de mulher que tinha o relacionamento como único desejo da vida. Marcelo a admira justamente por ser ela independente e vivia nessa ambivalência de aceitá-la ao mesmo tempo que desejava que ela fosse mais dócil. O ápice foi quando ela decidiu fazer intercâmbio nos Estados Unidos. Ele a apoiou, mas definitivamente o deixou inseguro. Quando ela voltou, decidiram se casar, mas os episódios de disfunção erétil começaram a ocorrer.

Perguntei qual cenário sexual os inspirava. Andrea disse que curtia um vinhozinho e uma pegação no sofá. Marcelo não titubeou: "Ser pai."

Sessão vai, sessão vem, um dia Marcelo faz duas reclamações, muitos sutis: Andréia não sabia cozinhar e não queria ser mãe naquele momento. Por isso, me explica, eles usavam preservativo. Perguntei qual cenário sexual os inspirava. Andrea disse que curtia um vinhozinho e uma pegação no sofá. Marcelo não titubeou: "Ser pai." Então ele me contou que das vezes que fizeram sexo e ele pôde gozar dentro dela, teve um prazer enorme, mesmo que ela tenha ficado completamente raivosa com a situação. Depositar seu sêmen no canal vaginal da mulher era, para ele, sentir-se macho, amado e aceito, ou seja, o pai escolhido para os filhos da fêmea, o fecundador. Para ele, não fecundar a fêmea era fazer um sexo incompleto.

*Ana Canosa é psicóloga, terapeuta sexual e apresentadora do podcast Sexoterapia. Escreverá semanalmente nas páginas de Universa, dividindo casos reais que atende em seu consultório.