Ela fez vaquinha para nova prótese e já faz planos: "Entrar no mar sozinha"
Bastou um dia de vaquinha online para que a estudante de enfermagem Rafaela Reis Rocha conseguisse arrecadar mais do que a meta de R$ 21 mil que precisava para comprar a nova prótese de sua perna direita. Moradora de Vila Velha (ES), a jovem viu sua história de superação, como define, ganhar projeção nas redes sociais.
Rafaela nasceu com uma malformação congênita chamada hemimelia fibular, que, no caso dela, representa a ausência completa da fíbula — osso que forma o esqueleto da perna com a tíbia. Fez sua primeira cirurgia quando tinha seis meses de vida.
A prótese atual acompanha Rafaela há sete anos, desde que ela foi amputada. Com o modelo novo, que será confeccionado com pé de fibra de carbono e é mais adaptado para suportar as atividades do dia dia, a estudante ampliou a lista de desejos pós-pandemia: além de manter a rotina de fisioterapia e pilates, quer usar salto alto e ir à praia sem a necessidade de ajuda de outras pessoas. "A prótese nova não terá mais o pé de madeira. A primeira coisa que eu vou fazer quando acabar a quarentena vai ser entrar no mar."
A seguir, ela conta sua história.
Adolescência e as descobertas
"Eu sou de Manhuaçu, Minas Gerais, e já passei por sete cirurgias. A primeira foi quando eu tinha seis meses de vida. Desde que comecei a usar prótese da perna, eu queria que ela fosse o mais próximo da realidade possível.
Eu precisei ser amputada aos 14, e aquela era a época em que meus amigos começavam a namorar
Então, foi muito difícil. Sem contar que precisei fazer a cirurgia em outra cidade, fiquei um ano e meio fora da cidade em que eu nasci. Quando voltei, senti que algumas pessoas se afastaram. Neste momento, também passei pela perda do meu avô, que era meu herói, o que me deixou com um tipo de depressão. E só há uns dois anos que comecei a ter autoaceitação e a ser feliz com meu corpo.
'Minha história é de superação'
Hoje, eu sou feliz com o meu corpo, mas como toda mulher, já passei por altos e baixos. Só depois de tudo isso é que eu percebi que tenho que ser grata a Deus por conseguir andar. Dos 14 para cá, eu amadureci muito.
E acho que sou uma inspiração. Às vezes ouço as pessoas dizerem: "Tadinha, ela é amputada". Mas a minha história é de superação. Eu nunca deixei de fazer tudo o que outras pessoas fazem. E sinto que, ainda mais depois da vaquinha, há pessoas com deficiências que estão se espelhando em mim.
Sonhos com nova prótese
A vaquinha era para amigos e familiares ajudarem e tomou uma proporção que eu não esperava. No meu orçamento, a prótese nova é de R$ 21 mil; consegui arrecadar R$ 25 mil. Esse valor me ajudará também a comprar as meias que preciso trocar com frequência, com a fisioterapia e com meu transporte, porque meu ortopedista não fica em Vila Velha, onde moro com um amigo e com meu namorado.
Aliás, me mudei para cá porque passei em enfermagem na Universidade Federal do Espírito Santo, onde me formo em três anos.
A prótese nova que vou encomendar é muito melhor do que essa: ela terá pé de fibra de carbono, em vez de madeira, será à prova d'água e vai aguentar mais minhas atividades — dizem que posso até escalar montanha com esse modelo! Depois de encomendada, a prótese deve chegar em uma semana. Vou publicar tudo nas redes sociais, para as pessoas verem.
Vou poder usar salto alto também, o que eu nunca usei. Em todas as festas eu usava uma sapatilha mais arrumadinha, mas salto é um charme da mulher, né? E vou poder ir à piscina e no mar sem que ninguém precise me levar. Eu adoro o mar, como uma boa mineira. E essa vai ser a primeira coisa que eu vou fazer pós-pandemia. Tem muito tempo que eu não vou ao mar."
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