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Ela fez vaquinha para nova prótese e já faz planos: "Entrar no mar sozinha"

Divulgação/@kairoesteves
Imagem: Divulgação/@kairoesteves

Nathália Geraldo

De Universa

26/06/2020 04h00Atualizada em 26/06/2020 07h57

Bastou um dia de vaquinha online para que a estudante de enfermagem Rafaela Reis Rocha conseguisse arrecadar mais do que a meta de R$ 21 mil que precisava para comprar a nova prótese de sua perna direita. Moradora de Vila Velha (ES), a jovem viu sua história de superação, como define, ganhar projeção nas redes sociais.

Rafaela nasceu com uma malformação congênita chamada hemimelia fibular, que, no caso dela, representa a ausência completa da fíbula — osso que forma o esqueleto da perna com a tíbia. Fez sua primeira cirurgia quando tinha seis meses de vida.

A prótese atual acompanha Rafaela há sete anos, desde que ela foi amputada. Com o modelo novo, que será confeccionado com pé de fibra de carbono e é mais adaptado para suportar as atividades do dia dia, a estudante ampliou a lista de desejos pós-pandemia: além de manter a rotina de fisioterapia e pilates, quer usar salto alto e ir à praia sem a necessidade de ajuda de outras pessoas. "A prótese nova não terá mais o pé de madeira. A primeira coisa que eu vou fazer quando acabar a quarentena vai ser entrar no mar."

A seguir, ela conta sua história.

Rafaela Rocha - Divulgação/@kairoesteves - Divulgação/@kairoesteves
Amputação aconteceu quando Rafaela tinha 14 anos
Imagem: Divulgação/@kairoesteves

Rafaela Rocha prótese - Divulgação/@kairoesteves - Divulgação/@kairoesteves
Sete anos depois, ela arrecadou dinheiro para trocar a prótese
Imagem: Divulgação/@kairoesteves

Adolescência e as descobertas

"Eu sou de Manhuaçu, Minas Gerais, e passei por sete cirurgias. A primeira foi quando eu tinha seis meses de vida. Desde que comecei a usar prótese da perna, eu queria que ela fosse o mais próximo da realidade possível.

Eu precisei ser amputada aos 14, e aquela era a época em que meus amigos começavam a namorar

Então, foi muito difícil. Sem contar que precisei fazer a cirurgia em outra cidade, fiquei um ano e meio fora da cidade em que eu nasci. Quando voltei, senti que algumas pessoas se afastaram. Neste momento, também passei pela perda do meu avô, que era meu herói, o que me deixou com um tipo de depressão. E só há uns dois anos que comecei a ter autoaceitação e a ser feliz com meu corpo.

'Minha história é de superação'

Oi gente, para quem não me conhece sou a Rafaela, tenho 21 anos e moro em Vila Velha ES, sou estudante de enfermagem na UFES, e eu nasci com uma malformação congênita chamada Hemimelia Fibular, que consiste no meu caso na ausência completa da Fíbula, osso longo que junto da Tíbia, é responsável pela sustentação corporal, junto a essa malformação não tinha meu pé totalmente formado, possuindo apenas 3 dedos e sem a formação do calcanhar, além disso tinha uma diferença de tamanho de 5cm da perna direita para a esquerda que foi se agravando com o passar do tempo devido ao meu crescimento, chegando a uma diferença de 17cm quando amputei a perna. Meus pais correram em busca de vários tratamentos ainda quando era pequena, fiz o total de 7 cirurgias, mas todas sem sucesso de crescimento da perna. Até que, com a diferença de tamanho de uma perna pra outra, e com a postura errada devido a andar torto, acabei tento uma escoliose séria que afetou os meus órgãos, correndo o risco deles atrofiarem, principalmente o meu útero. Então aos meus 14 anos pedi aos meus pais para amputar a perna, já que eles queriam que essa decisão fosse feita por mim. Naquela época tínhamos uma condição de vida até boa, mas ainda sim minha prótese foi comprada com a ajuda de todos da minha família e amigos mais próximos. Mas agora com o passar de 6 anos, minha prótese já não é a mesma, já está ultrapassada e com muitos defeitos, e a maioria das vezes que tenho que dar manutenção tenho ajuda do meu anjo da guarda que é minha madrinha, mas agora terei que trocar porque só as manutenções já não bastam, e isso está acabando afetando novamente a minha coluna e minha saúde. Então necessitamos da ajuda de todos para comprar uma nova prótese. Minha irmã e eu somos estudantes em período integral, minha mãe está desempregada e a única renda que temos é a do meu pai que só dá para pagar as contas que temos de despesas de casa. Peço encarecidamente que nos ajude, sei que com a pandemia muitas pessoas estão apertadas, então se você chegou até aqui e não pode ajudar financeiramente nos ajude divulgando para atingir o maior número de pessoas que conseguirmos ! Desde já agradeço a todos !

Uma publicação compartilhada por Rafaela Rocha (@rafaelareisrocha) em

Hoje, eu sou feliz com o meu corpo, mas como toda mulher, já passei por altos e baixos. Só depois de tudo isso é que eu percebi que tenho que ser grata a Deus por conseguir andar. Dos 14 para cá, eu amadureci muito.

E acho que sou uma inspiração. Às vezes ouço as pessoas dizerem: "Tadinha, ela é amputada". Mas a minha história é de superação. Eu nunca deixei de fazer tudo o que outras pessoas fazem. E sinto que, ainda mais depois da vaquinha, há pessoas com deficiências que estão se espelhando em mim.

Sonhos com nova prótese

Rafaela Rocha no balancê - Divulgação/@kairoesteves - Divulgação/@kairoesteves
A jovem estuda enfermagem na Universidade Federal do Espírito Santo
Imagem: Divulgação/@kairoesteves

Rafaela Rocha - Divulgação/@kairoesteves - Divulgação/@kairoesteves
Valor arrecadado ajudará Rafaela a ter novo modelo de prótese
Imagem: Divulgação/@kairoesteves

A vaquinha era para amigos e familiares ajudarem e tomou uma proporção que eu não esperava. No meu orçamento, a prótese nova é de R$ 21 mil; consegui arrecadar R$ 25 mil. Esse valor me ajudará também a comprar as meias que preciso trocar com frequência, com a fisioterapia e com meu transporte, porque meu ortopedista não fica em Vila Velha, onde moro com um amigo e com meu namorado.

Aliás, me mudei para cá porque passei em enfermagem na Universidade Federal do Espírito Santo, onde me formo em três anos.

A prótese nova que vou encomendar é muito melhor do que essa: ela terá pé de fibra de carbono, em vez de madeira, será à prova d'água e vai aguentar mais minhas atividades — dizem que posso até escalar montanha com esse modelo! Depois de encomendada, a prótese deve chegar em uma semana. Vou publicar tudo nas redes sociais, para as pessoas verem.

Vou poder usar salto alto também, o que eu nunca usei. Em todas as festas eu usava uma sapatilha mais arrumadinha, mas salto é um charme da mulher, né? E vou poder ir à piscina e no mar sem que ninguém precise me levar. Eu adoro o mar, como uma boa mineira. E essa vai ser a primeira coisa que eu vou fazer pós-pandemia. Tem muito tempo que eu não vou ao mar."