Sexo livre: por que você não precisa ser selvagem na cama para transar bem
Fetiches, posições mirabolantes, inspiração em cenas de cinema, movimentos que conseguem atingir determinados pontos erógenos, sex toys de última geração, vídeos pornôs... Às vezes há a impressão de que o sexo, para ser bom, precisa ter um toque de selvageria, de inusitado, de incomum, com mil recursos para a experiência ficar ainda mais excitante.
É claro que as novidades são uma força motriz para a vida sexual, mas não se trata de uma regra nem de um conceito que se aplica a todo mundo.
Há uma certa convenção social e cultural de que o sexo de qualidade é sempre muito enérgico e até performativo. Isso é reforçado em filmes pornográficos, na mídia e nas redes sociais, e leva as pessoas a acreditarem que é preciso ter essa intensidade para ser bom. Essa imposição implícita funciona quase como uma 'ditadura do sexo', que mostra que, se não as pessoas não vivenciam o sexo assim, então ele é ruim. Porém, o que é bom ou não é algo relativo e varia de pessoa para pessoa e de casal para pessoa.
A busca frequente por mais emoção no sexo pode trazer alguns riscos, como a insatisfação constante, como se o que existe não é suficiente. Isso muitas vezes está relacionado a comparações injustas e distorcidas com o que é visto na TV, nos filmes pornôs etc. Muitos tendem a valorizar apenas o que não têm e erroneamente acreditam que não é necessário se dedicar para fazer um sexo gostoso.
O melhor afrodisíaco
Os mitos e tabus existentes sobre o sexo são alimentados há séculos. Do total recato às fantasias desenfreadas, o comportamento sexual sempre despertou interesse, modismos e repressão. E, mesmo nos dias atuais, ainda existem as ditas 'regras': isso pode, isso não pode, etc... O melhor afrodisíaco, a melhor fantasia, o melhor acessório é a química entre os envolvidos. Se ela existe não é necessário nenhum incremento, a não ser que as pessoas decidam variar, inventar, experimentar.
O sexo deve acontecer de maneira livre, não seguir um "script de fantasias". O modelo de "sexo selvagem" é mais uma exigência ditada pela indústria do sexo que vende pornografia e brinquedos eróticos, entre outros símbolos de consumo, que visa os ganhos ditando novos padrões de sexualidade humana.
Cabe às mulheres aproveitarem essas alternativas, até mesmo para quebrar a rotina, possibilitando novos prazeres, mas sem invalidar o sexo tido como básico.
Aqui é bom ressaltar que o sexo "básico" para uma pessoa pode não ser considerado assim para outra - e que, independente do ponto de vista, pode ser, sim, excitante e prazeroso. Sexo gostoso de verdade é quando as pessoas conseguem estar 100% no momento, entregues à relação, sem pensamentos em outros lugares. Há uma troca, uma via de mão dupla, em que ambos estão focados nas sensações, na exploração do corpo como um todo e não pensando em seguir um roteiro com a obsessão de chegar ao orgasmo, por exemplo.
A prioridade é a entrega
Sexo gostoso não é sobre fazer alguma coisa diferente, é sobre estar ali de corpo e alma presentes, com todos os sentidos estimulados. Muita gente não gosta de inovar e está tudo bem. As principais dicas para essas pessoas são aproveitar o que gostam, manterem o olho no olho, o corpo no corpo e comunicarem o que gostam.
Assim, a vida sexual pode se manter saudável em relações tanto curtas quanto longas. Isso é extremamente benéfico, já que muitas pessoas acabam criando necessidade de fantasias e acessórios nas relações porque não se entregam e tentam disfarçar isso com situações mirabolantes. Não funciona. Como tudo na vida, menos é mais, desde que tenha qualidade.
Fontes: Carolina Freitas, mestre em Psicologia; Danni Cardillo, sexóloga especializada em Tantra e sexologia humanizada; Paula Napolitano, psicóloga e terapeuta sexual; e Rosely Salino, psicóloga, sexóloga e terapeuta de casais
*Com matéria publicada em 27/06/2020
Deixe seu comentário