Use Comunicação Não Violenta para resolver brigas de casal na quarentena
Pilha de louça infinita acumulada na pia, brinquedos de criança espalhados pela casa, ou melhor, pelo home office do casal (que agora também são colegas de trabalho e parceiros de faxina). Essa é a rotina e o motivo da discórdia em diversos lares brasileiros há mais de três meses, devido ao isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus.
É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto do Casal entre os dias 17 de abril e 2 de junho, com 708 pessoas de todo o país, para detectar os principais motivos de desentendimento durante a quarentena. Os campeões das brigas conjugais foram a desorganização da casa e dos objetos pessoais, a falta de diálogo e o uso desmedido do celular, o excesso de críticas mútuas, e a divisão injusta das tarefas domésticas (veja abaixo).
Ainda que o único remédio disponível para preservar a saúde dos relacionamento durante a pandemia (e depois dela também), seja a boa e velha conversa, existe uma maneira mais eficaz de utilizá-lo, que vem ganhando popularidade nos últimos anos, a chamada Comunicação não Violenta (CNV). A abordagem desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg nos anos 1960 se baseia em nos conscientizarmos das nossas necessidades e das dos outros, para falar sem machucar e ouvir sem se ofender.
"O objetivo da CNV é expandir nossa habilidade de comunicação e negociação a partir da ampliação da nossa capacidade de exercer empatia e autoempatia", explica a psicóloga Flávia Feitosa, especialista em psicologia social. Trata-se de comunicar sentimentos, não julgamentos; de pedir, não exigir. E partir do pressuposto de que, ao não atender às suas expectativas, o outro pode estar agindo para suprir as próprias necessidades, não para lhe causar mal estar. A mesma lógica vale para o receptor da reclamação.
Especialistas dão dicas de como usar a CNV para resolver as principais desavenças entre os casais durante a quarentena
1. Organização da casa e dos objetos pessoais (51% dos entrevistados)
Os dois precisam deixar claro quais são as necessidades de cada um e tentar chegar a uma solução em comum. "Se uma acha que tem que trocar a roupa de cama uma vez por semana e o outro acha que tudo bem ser uma vez por mês, qual seria um meio-termo para os dois?", exemplifica Flávia Feitosa. A psicóloga Marina Simas de Lima, sócia-fundadora do Instituto do Casal, lembra a importância de sempre falar na primeira pessoa: "Como eu me sinto quanto à bagunça", e na sequência perguntar, de uma forma respeitosa, o que os dois poderiam fazer juntos para melhorar essa situação. Uma ideia é elaborarem juntos a lista das necessidades de ambos, do que é importante fazer diariamente, semanalmente, mensalmente. Um ouvir o que o outro acha e pensarem nas estratégias. "Cabe até sortear quem fica com as coisas mais chatas. Se for acordado, tudo vale", completa Flávia.
2. Falta de diálogo (48% dos entrevistados) e o uso excessivo do celular (47%)
Marina diz que uma questão pode estar ligada à outra, já que o uso do celular rouba a intimidade, a comunicação entre os parceiros. O que está por trás dessa reclamação, portanto, é sentir falta de viver momentos juntos, se conectar ao parceiro. Sendo assim, é exatamente isso que deve ser comunicado, sugere Bruno Goulart de Oliveira, fundador do coletivo CNV em Rede. "Ouvir do parceiro que sente a falta dele e quer passar mais momentos juntos soa bem melhor do que reclamar que o outro não desgruda do celular", afirma. A mesma dica vale para o alvo da reclamação. Se o seu parceiro reclamar do celular, pergunte se ele sente falta de passar mais tempo conversando ou fazendo alguma outra atividade com você.
3. Excesso de críticas (43% dos entrevistados)
Quando algo nos desagrada, tendemos a focar no negativo, o que é percebido como reclamação pelo outro. Trazer um elogio antes de pontuar o que não agrada, poderia trazer mais leveza à conversa, aconselha Marina. Flávia lembra ainda que tendemos a não dizer o que nos incomoda para evitar brigas, mas isso acaba gerando ainda mais conflitos, pois ficamos com raiva do outro e agimos de forma a despertar a ira dele também. "Pontuar o que está ruim é uma forma não de criticar, mas de indicar que algo não caiu bem. E quando fazemos isso, o outro pode perceber algo que ele não tinha percebido", diz. Nesse caso, então, cabe ao ouvinte também fazer uma reflexão sobre se o que está ouvindo faz sentido e valorizar a crítica (quando construtiva) do outro.
4. Divisão injusta das tarefas domésticas (42% dos entrevistados)
As tarefas domésticas ainda recaem mais para as mulheres, resquício da sociedade patriarcal e do papel de gênero. "Aqui precisamos fortalecer o elástico da comunicação e dar limites para isto, sem achar que o outro faz por maldade. Mas aceitar não é em hipótese alguma uma saída saudável", diz Flávia. A dica da especialista é sentar para conversar com os moradores da casa. "Todos precisam ser ouvidos. Com escuta ativa, aquela que permite ouvir o coração do outro", explica. Cada um deve falar sobre qual é o seu deseja de funcionamento da casa, opinar sobre até que horas vão trabalhar etc. "Nem sempre vamos conseguir seguir o plano, mas ter um já amplia em muito as chances de ele ser realizado ou ajustado", conclui.
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