Transgêneros são mais vulneráveis aos impactos da Covid, diz pesquisa
As transexuais e travestis são as mais vulneráveis aos impactos do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, seguidas pelas pessoas pretas, pardas e indígenas. O grupo da população bissexual aparece como terceiro mais em risco, e todos esses aparecem na faixa de vulnerabilidade considerada grave. A análise é de um estudo inédito do coletivo #VoteLGBT. A pesquisa online teve a participação de dez mil pessoas em todos os estados brasileiros.
Após estudo de dados envolvendo acesso a serviços de saúde, exposição ao coronavírus e informações sobre renda e trabalho, foi possível aos pesquisadores estruturar todas essas camadas de desigualdades e compreender seus desdobramentos em cada um dos representantes da sigla LGBTQ+. Os resultados finais da pesquisa são apresentados neste domingo, dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+, por meio de um relatório realizado em parceria com a Box1824, consultoria de tendências em comportamento e inovação.
Um dos resultados alcançados pelo mapeamento foi identificar os contrastes nas diversas fases das vidas LGBTQ+. "Se na adolescência essas dificuldades de comunicação de identidade são permeadas pela falta de independência financeira, na fase adulta questões de saúde mental são combinadas com ausência de trabalho e renda. Já nas idades mais avançadas, a solidão aparece como um dos maiores desafios", resume Samuel Silva, demógrafo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que participou do trabalho.
Trata-se da segunda etapa de divulgação dos dados coletados pela pesquisa do #VoteLGBT. Na primeira parte, realizada em maio, os pesquisadores conseguiram mapear as principais dificuldades entre os LGBTs durante o isolamento social: o diagnóstico prévio de depressão entre eles e elas é quatro vezes maior, se comparado ao restante da população, enquanto o índice de desemprego entre LGBTs foi o dobro do demonstrado pelos demais, segundo a pesquisa PNAD Contínua divulgada pelo IBGE em abril.
Vaquinha em apoio às LGBTQ+
Como ação efetiva pensada para minimizar impactos do isolamento social durante a pandemia, o #VoteLGBT lança uma campanha que visa arrecadar fundos para apoio de entidades que prestam ações de amparo à comunidade LGBTQ+. Em parceria com a plataforma Benfeitoria, que está ampliando sua atuação no segmento LGBTQ, a iniciativa vai apoiar instituições em várias cidades brasileiras, entre elas Casa Satine (Campo Grande, MS), Outra Casa Coletiva (Fortaleza, CE), Casamiga (Manaus, AM), Ultra (Brasília, DF), Liga Brasileira de Lésbicas (Curitiba, PR) e Casa 1 (São Paulo, SP). As informações completas da campanha estarão disponíveis a partir deste domingo no link www.benfeitoria.com/lgbt.
Entenda o índice de vulnerabilidade LGBTQ+ ao Covid19
Como a pandemia de coronavírus pode impactar as vidas das pessoas LGBTQ+ de formas múltiplas e cumulativas, os pesquisadores conseguiram traçar marcadores que envolvem cruzamento de dados sobre acesso à saúde, trabalho, renda e exposição ao risco de infecção ao coronavírus. Analisados em conjunto, esses fatores contribuem no entendimento sobre a capacidade das pessoas em se sustentar e se manter em isolamento social.
Os pesquisadores também perguntaram aos participantes da pesquisa a respeito do nível de isolamento social praticado, o número de pessoas conhecidas que já foram diagnosticadas com coronavírus, o acesso aos serviços de saúde e diagnóstico prévio de comorbidades. Avaliadas em conjunto, todas essas características possibilitaram o desenvolvimento do índice de Vulnerabilidade de LGBTQ+ ao Covid-19, que nos informa as diferenças de risco e impactos do coronavírus entre pessoas LGBTQ+, utilizando da mesma metodologia do índice de vulnerabilidade social do IPEA.
O VLC é um índice que varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo a 1, maior a vulnerabilidade ao Covid19 do grupo analisado.
Em linhas gerais, o índice de vulnerabilidade apresenta três principais dimensões que podem ser observadas de maneira separada ou através do índice sintético.
Os resultados encontrados no índice apontam que a população LGBTQ+ se encontra em um nível de vulnerabilidade alta, segundo as dimensões de renda e trabalho, exposição ao risco de Covid-19 e saúde. Mas as desigualdades encontradas dentro do grupo LGBTQ+ são ainda mais preocupantes, segundo os pesquisadores. Três grupos aparecem na faixa considerada grave. São eles os das pessoas trans, das bissexuais e das pretas, pardas ou indígenas. Se avaliado somente o critério que relaciona a exposição ao risco, todos os grupos apresentam alta vulnerabilidade.
A dimensão de renda e trabalho foi a que apresentou maior pulverização dos LGBTQ+ entre as faixas de vulnerabilidade, o que torna as desigualdades mais latentes. Enquanto pessoas cisgênero, em especial homens cis, gays, pessoas brancas e asiáticas estão em vulnerabilidade baixa, pessoas trans, mulheres cis, pessoas pretas, pardas e indígenas, lésbicas e bissexuais apresentam vulnerabilidade média.
Os diferenciais de identidade de gênero, raça/cor e identidade sexual aprofundam a condição de vulnerabilidade, que já é alta entre o grupo, como avalia Fernanda De Lena, demógrafa da Unicamp que integra o #VoteLGBT.
Outros apontamentos e conclusões alcançados pela pesquisa:
Pessoas acima dos 55 anos apresentaram 80% mais de chance de reportar solidão como o maior problema quando comparados com as pessoas de 15 a 24 anos; a falta de dinheiro também foi um problema que aumentou sua relevância com o aumento da idade. Entre as pessoas com 45 a 54 anos, a chance de indicar essa como a maior dificuldade da quarentena foi 70% maior em relação às pessoas com entre 15 e 24 anos
Pretos, pardos e indígenas possuem 22% mais chance de indicar a falta de dinheiro como a maior dificuldade da quarentena do que brancos e asiáticos; quatro em cada dez pessoas da população LGBTQ+ e metade das pessoas trans (53%) não conseguem sobreviver sem renda por mais de 1 mês caso percam sua fonte de renda.
Quase metade (44,3%) das pessoas tiveram suas atividades totalmente paralisadas durante o isolamento; a taxa de desemprego padronizada entre os LGBTQ+ foi de 21,6%, quase o dobro do registrado pelo IBGE no restante da população; três em cada dez dos desempregados estão sem trabalho há 1 ano ou mais; um em cada quatro (24%) perderam emprego em razão da Covid19.
Durante a quarentena, sete em cada dez pessoas (68,42%) só saem de casa quando inevitável; oito em cada dez pessoas perceberam uma alteração de humor durante a quarentena; 28% das pessoas já haviam recebido diagnóstico prévio de depressão, número quatro vezes maior do registrado no restante da população, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde e 47% foram classificadas com o risco depressão no nível mais severo.
Avaliação do presidente e governadores
Os pesquisadores também questionaram os entrevistados sobre o desempenho dos gestores públicos no combate à pandemia. Para 98,7% das pessoas LGBTs a performance do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é ruim ou péssima. Já os governadores foram aprovados por 74% dos respondentes.
A maioria dos governadores teve avaliações que se concentraram entre regular e boa. Na região Sudeste, apenas o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, teve uma avaliação péssima elevada, com 34,3%. A melhor avaliação estadual foi presenciada na região Nordeste, mais exatamente no Ceará. Por lá, 53,23% das pessoas avaliaram o governador Camilo Santana com ótimo desempenho durante a pandemia.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.