O Pão Que O Viado Amassou: ator vira padeiro e coloca diversidade na mesa
Gabriel Castro é ator, DJ, professor de teatro e de circo, e viu as quatro funções pararem completamente com a chegada do novo coronavírus. Até então, ele havia assado pães duas vezes ao longo de seus 34 anos, e ambas tentativas haviam dado errado. Mesmo assim, em menos de três meses e durante a pandemia, abriu uma padaria na cozinha de seu apartamento, em Curitiba, e elevou a demanda para uma centena de encomendas diárias.
Ele conta que sempre achou pão "uma coisa bonita" e viu na panificação um bom passatempo para enfrentar o isolamento social. "Com a glória do YouTube", aprendeu a fermentar, sovar e assar, começou a distribuir entre os amigos e, semanas depois, abriu para vendas.
O nome da padaria, O Pão Que O Viado Amassou, surgiu sem querer enquanto Gabriel conversava com uma amiga. Apesar de não ter planejado, o ator e agora padeiro vê no título a oportunidade de "levar reflexão [sobre diversidade] para dentro da casa das famílias".
"Por que não distribuir pães, ajustar minhas contas e fazer com que esse alimento entre na casa das pessoas como um veículo para uma reflexão? Por que não deixar as pessoas saberem que estão comendo um pão feito por um gay? O nome escancara a visibilidade para a comunidade LGBTQ+, desperta um olhar mais carinhoso para quem está aí querendo ser quem é, querendo amor e respeito", diz. "Eu sei que não vou curar a homofobia, mas é bonito ver que a discussão de fato acontece. E ter o pão como instrumento disso é uma delícia."
Questionado por Universa sobre a aceitação do público, Gabriel conta que já ouviu comentários preconceituosos, mas que são "pequenos e insignificantes" — e parecem não interferir nas vendas, já que O Pão Que O Viado Amassou vende hoje, em média, cem pães por dia.
Ele começou a padaria em 20 de abril — "coincidência, acaso ou bênção, é aniversário da Cher", brinca. Na época, ele assava as peças de duas em duas em um forno caseiro e virava as noites para atender as demandas, então de 50 a 60 por dia. Hoje, migrou para uma cozinha maior, com fornos industriais.
A equipe também cresceu: Gabriel conta com um ajudante na cozinha, duas pessoas no "gabinete do glitter" (espécie de escritório que organiza as demandas) e alguns entregadores — todos LGBTQ+, que também tiveram suas atividades paralisadas com a quarentena.
"Fico feliz de ampliar o negócio porque, com isso, amplia a reflexão. As pessoas estão dentro de casa com seus opressores, seus agressores, e as respostas que recebo mostram que o pão leva à conversa de forma muito leve. Amigos que ainda estão dentro do armário compraram um pão meu para comer com o pai, por exemplo", conta. "Isso me deixa confiante de que a missão não está cumprida, mas está se cumprindo."
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