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Casados apostam em app de traição durante pandemia: "Faz bem para o ego"

Telas são uma das formas mais fáceis que usuários de app de traição encontram para manter os contatinhos ativos - Tero Vesalainen/Getty Images/iStockphoto
Telas são uma das formas mais fáceis que usuários de app de traição encontram para manter os contatinhos ativos Imagem: Tero Vesalainen/Getty Images/iStockphoto

Nathália Geraldo

De Universa

11/07/2020 04h00

Flertar no isolamento social, para quem está seguindo rigorosamente a ideia de não sair de casa, já não é muito fácil. Trair, então, requer mais traquejos. Nem por isso usuários de aplicativos para encontros extraconjugais, como o Ashley Madison, um dos mais famosos do mundo, têm desistido das investidas em pretendentes.

De acordo com a plataforma, 95% dos adúlteros entrevistados por eles ainda querem manter "conexões externas", mesmo em tempos de convívio mais próximo com a família e com o parceiro ou parceira. E tudo bem se for preciso esperar a vacina do coronavírus ou o biólogo Átila Iamarino — que produz conteúdo sobre a pandemia na internet — bater na porta para avisar que a quarentena acabou. Aliás, para 34% dos puladores de cerca é justamente ter "algo para esperar" que justifica ter um affair neste momento.

A estilista Mariana*, 37 anos, casada há 17 e com uma filha de 16 anos, é uma das usuárias do Ashley. Para ela, ter uma lista de contatinhos para traição "faz bem para o ego". Afirma que o isolamento faz com que as conversas fluam mais - afinal, supostamente as pessoas têm mais tempo para se dedicar a papos virtuais. "Vários matches", diz, para Universa, sob a condição de anonimato.

Traição na pandemia: senha no computador, furo na quarentena

Furar o acordo conjugal e trair, agora, requer mais uma movimentação dos adúlteros: furar a quarentena.
Se por um lado se encontrar com um amante pode ser mais difícil quando a recomendação é não sair de casa, o fato de muita gente passar o dia em frente ao computador pode facilitar as escapadas virtuais.

"Estou trabalhando no home office; ficar horas no notebook facilita as coisas; mas eu tenho senhas nele", conta a estilista. "Ainda não foi possível sair de casa, mas estou planejando um encontro que será no horário de almoço", conta Mariana, que entrou no app em 2015, "por curiosidade e para conhecer outras pessoas em sigilo". No Ashley, 39% dos entrevistados para a pesquisa afirmaram que têm vivido "overdose de telas", o que faz com que a comunicação entre os amantes virtuais se torne mais frequente.

Ela garante que, mesmo mantendo as conversas com outros pretendentes, não sentiu que seu marido tenha passado a desconfiar de sua vida extraconjugal. Nem sempre é assim, explica a sexóloga e colunista de Universa Ana Canosa. "Pode ficar claro para o parceiro que você está se ocupando com isso", pontua.

De qualquer forma, os usuários dos apps apostam que vale o esforço — e dão suas justificativas.

Libido em alta, adrenalina

No levantamento do Ashely Madison, além do fato de estarem se preocupando com ter alguém com quem trair após a pandemia (34% disseram isso), afirmaram que ficar no papinho com os @s é "uma grande distração" (23%), significa "alguém com quem conversar" (14%), "ajuda a manter um senso de normalidade" (13%) e é uma "maneira de manter a libido" (10%). Tirando as respostas relacionadas diretamente ao momento em que estamos, são, de fato, alguns dos motivos que levam alguém a trair, elenca a sexóloga.

"Existem as pessoas que vão atrás da infidelidade por curiosidade mesmo; as que precisam de variação sexual e até afetiva, as que querem se vingar, por serem traídos, por exemplo; as que se apaixonaram por outra pessoa e as que são infiéis por convicção, que pensam que não dá para transar com o marido ou a esposa a vida toda. Há outra justificativa: a de querer se sentir vivo, porque tem adrenalina, é transgressor", explica.

"Usar o aplicativo é uma coisa bem pensada por alguém, não algo que simplesmente aconteceu na vida". Por ser um comportamento humano, não é possível cravar, é claro, todas as razões que fazem alguém pular a cerca. Mas há pistas.

É fácil, portanto, compreender porque Mariana diz que usa o recurso virtual "porque faz bem ao ego". "Tem a questão do se sentir desejada e ter um frio na barriga", completa Canosa.

Por fim, outra possível motivação entra na roda: a da percepção, durante o isolamento, de que a relação com o parceiro de compromisso não é satisfatória. Em vez de resolver de outra maneira, conversando sobre uma vida não-monogâmica, por exemplo, uma das partes mergulha na infidelidade.

Eu escolhi ter algo para esperar

Traição online - iStock - iStock
Traição virtual: 39% dos entrevistados pelo app dizem que sofrem com 'overdose de telas' na quarentena
Imagem: iStock

Para a especialista, a motivação de ter algo para esperar pós-pandemia "parece ser uma tentativa de ter algum resgate de vida, de alegria".

"E eu entendo que o desejo no início das relações faz isso mesmo, mas isso pode ser uma perspectiva individual do desejo. A pessoa pensa: 'Eu preciso do desejo do outro, da emoção, para me sentir viva'. Então, diante da dor, da pandemia, da ansiedade e até em casos que o desejo do parceiro já não é tão grande, a pessoa busca isso".

Usando o app de traição

O Ashely Madison tem cadastro no site e em app e sugere até alguns mecanismos de segurança para os usuários: criar um e-mail de acesso sem estar vinculado a e-mails pessoais e profissionais, abrir o site em abas anônimas de navegação, apagar o histórico de sites do computador. Para mulheres procurando homens, a plataforma é gratuita. Mulheres procurando mulheres e homens procurando mulheres podem se inscrever de maneira gratuita como membros convidados para conhecer o site — "e quando estiverem prontos para iniciar a comunicação, oferecemos diversos pacotes de crédito", diz a empresa.

Para mulheres que querem trair, há ainda o Eveeda. Para elas, o serviço é gratuito. Já os homens precisam pagar um pacote de envio de mensagens, que também pode incluir envio de presentes virtuais e mais destaque na área de pesquisa.

*O nome foi trocado a pedido da entrevistada