Livre demanda ou fórmula? Mães contam suas experiências com amamentação
A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam aleitamento materno exclusivo por seis meses. Em um mundo perfeito, seguir esta orientação todas as mulheres gostariam. Mas o ato de amamentar tem influência de muitos fatores que vão além da disposição de uma mãe em alimentar seu filho. Licença-maternidade de quatro meses ou volta ao trabalho antes disso, uso de medicação por depressão pós-parto, inflamação nas mamas, bico invertido, falta de leite...
Para mostrar um pouco como as coisas podem acontecer, vamos mostrar a história de amamentação de duas mães Camila Pinheiro Cardoso, 32 anos, advogada, que precisou dar fórmula à sua filha e da baiana Luana Maia Ramos, 36 anos, maquiadora, que ainda amamenta por livre demanda seu filho de 3 anos."Mãe não julga" é uma nova seção de Universa onde mães contam como optaram por caminhos muito diferentes em determinados aspectos da maternidade.
"Dar fórmula para minha filha nunca me deixou culpada"
"Minha filha Catarina, hoje com um ano e cinco meses, foi muito desejada. Logo que engravidei comecei a passar muito mal, sentia muito enjoo. Passava muito mal em casa, a ponto de não suportar o cheiro da comida sendo preparada ou do desodorante do meu marido, Renan. Como vomitava muito, ficava fraca e acabava indo para o hospital toda semana para tomar soro e me recuperar. Era horrível, eu ficava péssima a ponto de querer morrer. Eu ia para o hospital toda semana para tomar soro, mas também não segurava o soro. Nesta época parei de trabalhar no escritório de advocacia que tinha e meu sócio passou a tomar conta dos clientes.
Fiquei sabendo depois que este passar mal já era um sinal da depressão que estava por vir.
A Catarina nasceu em 23 de janeiro de 2019 de parto cesárea, foi tudo bem tranquilo. Eu a tive em uma quarta-feira e na sexta já estava em casa achando tudo maravilhoso. No sábado, lá pelas seis horas passei a sentir uma tristeza profunda, eu só chorava, chorava. Me lembro de ter ido tomar um chá com meu marido e olhava a Catarina pela babá eletrônica e a única coisa que me vinha à cabeça é que eu não queria voltar quarto. Era uma sensação horrível de querer devolver minha filha e dava uma culpa. O Renan foi até o quarto e me chamou dizendo que precisava de mim. Eu fui até lá, olhei para as roupas dela e disse "Deus como eu faço, não quero essa vida, quis tanto minha filha, por que agora esse sentimento?" Me lembro de ter dado mama chorando em cima dela. Eu tinha um medo enorme no peito, inclusive de ficar perto dela.
Era muita tristeza. Disse para meu marido que eu não estava bem, que aquele sentimento não era normal. Eu tinha leite, mas o bico rachou e doía muito. Eu alternava momentos em que ficava um pouco melhor e momentos de muito choro. Pedia para meu marido ficar o tempo todo perto de mim, ele não podia me deixar um minuto. Quando ele saía de perto, vinha uma ansiedade, um pânico. Ele não conseguia nem ir ao banheiro direito. Fui ao pediatra e ele percebeu que realmente eu não estava bem, me deu as primeiras orientações. Ele me falou que precisava de terapia mas pelo estado em que eu estava precisava entrar com medicação. Isso significava que eu precisaria parar de amamentar e dar fórmula,
Fui me consultar em um psiquiatra. Ele me receitou um remédio que possibilitaria continuar amamentando mas desaconselhou pois eu não estava bem e iria passar todo aquele sentimento para ela. Decidi seguir o conselho dele. Tive leite até os cinco meses e tomei remédio para secar.
Uma amiga muito querida, Maria, veio trabalhar comigo, se mudou de cidade para cuidar de mim, e me ajudar à noite. Depois de cinco dias, a Catarina já estava somente na fórmula. Depois de dez dias passei a me sentir melhor, mas não tive coragem de tentar amamentar novamente, não me sentia preparada e ela estava totalmente adaptada à mamadeira. Dar fórmula para minha filha nunca me deixou culpada, o importante é que consegui me recuperar e tive condições para comprar o que tinha de melhor no mercado e ela cresceu super bem.
Não iria amamentar só porque, aparentemente, estava melhor. Quando você tem depressão pós-parto as coisas demoram a ficar totalmente bem. Eu ainda tinha altos e baixos e momentos de tristeza. A mamadeira dava independência pois sempre tinha alguém ao meu lado para ajudar durante minha recuperação. Além da medicação, fiz terapia e orei muito. Depois de dois meses de tratamento eu passei a me sentir melhor. Voltei a sentir alegria, sabe? Hoje a Catarina está com quase um ano e meio e desde então. Não tive mais nada. Só a canseira normal de ser mãe e uma felicidade que não cabe no peito." Camila Pinheiro Cardoso, 32 anos, advogada, Santa Bárbara D'Oeste, SP
Sempre que ele chorava e pedia peito eu dava, não importava o intervalo.
"Meu filho tem dois anos e onze meses e mama até hoje. O Davi mama quando quer, aqui é livre demanda. Na minha casa sempre foi assim. Minha mãe me amamentou até os três anos e oito meses. Minha irmã foi até os cinco anos, então para mim não tinha como ser de outro jeito pois com a livre demanda, a gente cresceu saudável, nunca ficamos doentes.
Sempre tive o sonho de que quando tivesse um filho que ele mamasse bastante não só pela saúde mas pelo vínculo materno.
O Davi nasceu de parto cesárea no hospital e mamou na primeira hora, foi muito tranquilo. Tive dificuldade no primeiro mês, pela adaptação do peito. Tive rachaduras, feridas, mas desde nesta época era leite à vontade. Sempre que ele chorava e pedia peito eu dava, não importava o intervalo. Para melhorar a dor, ganhei de uma amiga uma pomada importada. Chegou a um ponto em que sangrava, eu chorava. Mas em nenhum momento eu pensei em desistir, pelo contrário, pois ele mamava muito e ganhou um peso bom nesta primeira fase.
A questão das feridas era algo passageiro, pois desde o começo meu filho pegava bem o peito, então eu tinha que aguentar.
Aos dois, três meses já estava tudo saradinho e ficou mais tranquilo. Eu tinha bastante leite, ele mamava cada vez mais, eu tinha cada vez mais leite e vazava bastante. Acordava à noite, não importava quantas vezes para dar leite a ele. Ele mamava o dia todo. Com cinco meses ele já pesava dez quilos, era muito grande.
Sou maquiadora e posso fazer meu esquema, tenho um estúdio, parceria com alguns salões e atendo em casa. Voltei à rotina quando ele tinha três meses e o fato de ser autônoma ajudou para que eu continuasse a amamentar. Fazia os meus horários mas encaixando a mamada dele. Sou mãe solo e nos primeiros meses levava ele comigo. Quando tinha um casamento, por exemplo, sempre recebia ajuda, pois as mães são muito solidárias. Tinha intervalos entre uma maquiagem e outra. Quando podia, minha mãe ia comigo. No geral, trabalho com pessoas que me conhecem faz tempo, são amigas e dava para conciliar.
O Davi começou a introdução alimentar aos seis meses, mas passou a comer de verdade aos onze. Mas mesmo com a alimentação, ele mamava muito. Ele almoçava e olha para mim e pedia "pepê". Quando começou a nascer os dentinhos ele não sabia controlar direito, às vezes coçava os dentes, me mordia e dava uma risadinha pois devia fazer cócegas. Aí, eu explicava que doía e ele entendeu rapidinho.
Ele foi para escola quando tinha um ano e sete meses, lá ele comia e mamava em casa. Até hoje, com três anos quando ele pede o peito, eu dou, seja onde for, nunca nego. Se estamos na rua, em algum lugar que não dá para parar, eu explico que precisamos esperar chegar em casa. Às vezes alguém olha torto, mas eu não ligo, pois a mulher tem o direito de amamentar não importa a idade da criança.
Eu até hoje tenho muito leite, Não tenho ideia de quando isso vai parar, minha previsão era agora com três anos, que ele faz em julho. Mas se ele quiser, como minha irmã, mamar até os cinco para mim, tudo bem. O que tiver que ser será. Eu sinto que temos um laço mais estreito por isso, ele é muito apegado, nossa ligação é muito forte." Luana Maia Ramos, 36 anos, maquiadora, Porto Seguro (BA)
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