Pandemia deve fazer disparar gestações indesejadas e abortos na Índia
A pandemia do novo coronavírus causou grande pressão no sistema de saúde da Índia, hoje o terceiro país no mundo em casos confirmados — 878 mil, de acordo com levantamento da Universidade Johns Hopkins —, e atinge em particular os direitos reprodutivos das mulheres indianas, de acordo com o site britânico The Guardian.
A Fundação para os Serviços de Saúde Reprodutiva da Índia (FRHS), afiliada da Marie Stopes International, estima que o bloqueio de várias atividades no país pode deixar 25,6 milhões de casais impossibilitados de acessar métodos contraceptivos, levando a 2,3 milhões de gestações indesejadas e 834.042 abortos inseguros.
Abortos inseguros, ou seja, sem acompanhamento médico formal, são a terceira principal causa de mortes maternas na Índia.
"As mulheres estão tomando medicamentos para induzir o aborto sozinhas, sem entender a dosagem, o procedimento", diz Alook Banerjee, médico da Parivar Seva Sanstha, organização com várias clínicas de reprodução no país. "Elas vêm até nós com abortos incompletos, com um feto morto dentro do corpo", ele afirma.
Cerca de 60% dos casos atendidos nas clínicas da Parivar Seva Sanstha agora estão relacionados a complicações pós-aborto.
Aborto é legal no país
O encerramento de uma gravidez com o uso de medicamentos é permitido na Índia durante as primeiras sete semanas de gestação. Depois disso, é recomendada a realização de um procedimento cirúrgico.
Segundo a lei indiana, o aborto é considerado legal por até 20 semanas, exceto nos casos envolvendo estupro, incesto ou menor de idade, quando pode ser estendido para até 24 semanas.
Após esse período, é necessário ter permissão especial da Justiça. E muitas mulheres indianas não sabem que o aborto dentro de 20 semanas é legal.
Desde o bloqueio por causa da covid-19, a partir de 25 de março, a maioria dos hospitais públicos foi convertida em centros de tratamento para a covid-19, e os recursos e equipe limitados foram desviados para o combate do vírus.
Muitas clínicas particulares tiveram que fechar por falta de transporte e de equipamento de proteção. Os quase 900 mil agentes comunitários de saúde credenciados da Índia para atender na área de saúde reprodutiva e distribuição de contraceptivos foram remanejados para funções ligadas à covid-19.
"Somente se alguém parece gravemente doente a polícia permite a locomoção para procurar um médico", diz Ajitha Suhalka, enfermeira-parteira que trabalha em um centro de saúde comunitário na zona rural do Rajastão.
"Se uma mulher parece normal e saudável, é difícil explicar ao posto de controle da polícia que quer fazer um aborto", ela diz.
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