Bel Santos Mayer: "Mulheres negras estudam quatro vezes mais que suas mães"
Bel Santos Mayer, coordenadora do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC), fala hoje no terceiro painel de debates da segunda edição de Universa Talks, com o tema A Mulher no Mercado de Trabalho.
Em seu discurso, Bel resgata sua trajetória de vida: filha de uma trabalhadora doméstica, foi incentivada pela família a investir nos estudos, até que, apaixonada pela área do ensino, se tornou educadora social.
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Vocação desde nova
"Desde os 14 anos, escolhi ser alfabetizadora e fazer do meu território um espaço de aprendizagem, de acesso para outras mulheres. Não sou mãe, mas sou neta, filha, irmã, tia, vizinha. E aprendi com a força de outras mães a potência que a educação tem. Minha mãe cuidou da casa e dos filhos de outras mulheres. Sempre fez isso da melhor forma que pode, mas desejou que suas filhas pudessem, pela educação, fazer outras escolhas", conta.
Sua história de vida não é única. "Tenho percebido o quanto mulheres periféricas e negras, como eu, têm escolhido fazer o que podem para que suas filhas escolham a educação. Não é por acaso que nós, mulheres negras, estudamos quatro vezes mais do que nossas mães", afirma.
Expansão do conhecimento
Bel conta que foi graças aos estudos que conseguiu mudar o seu destino. "Por ser educadora social, recebi uma bolsa de estudos. Acredito que este tenha sido o momento em que eu mais pude conhecer o Brasil. É como se tivesse ficado suspensa em um labirinto e pudesse olhar, de cima, as tramas, os saberes, a força que a nossa comunidade tem".
Durante os quatro anos em que viveu na Itália, conheceu mais a fundo o pensamento de Paulo Freire, que, garante, já fazia parte da sua própria história. "Na volta, encontrei o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário, que trabalhava com letramento para os direitos humanos. A partir de então pude viajar por todo o Norte do Brasil carregando a Declaração dos Direitos Humanos e a Constituição para comunidades ribeirinhas, jovens e mulheres. Nós, que sempre fomos acusadas de sermos fofoqueiras, poderíamos usar a boa fofoca para promover esperança, direitos, mobilização".
Biblioteca e rede de apoio
Um trabalho semelhante foi desenvolvido em Parelheiros, extremo sul de São Paulo, em uma área rural, reserva da Mata Atlântica. "As mulheres da região desejavam reabrir a biblioteca da escola. E conseguimos ir mais longe: criamos uma nova, um espaço acolhedor para aqueles que sabem e que não sabem ler. Ela nasceu em uma unidade de saúde e depois foi parar em um cemitério. Onde era para ser um lugar de morte, virou um lugar de vida". Ali, mulheres passaram a ler, escutar e serem escutadas.
Com isso, nasceu o projeto Sementeiras de Direitos, cuja ideia é de que uma mulher se inteire sobre seus direitos e fofoque para outra, sem vergonha da fala, sem vergonha da falta de estudos da mãe. "E elas começaram a nos trazer dificuldades, desafios com relação à educação e segurança. Criamos um grupo no Whatsapp e recebíamos medos, como o de engravidar precocemente ou pedidos de ajuda em momentos de violência ou dificuldade. E ali também são promovidos encontros olho no olho. Muitas vezes quem tem um problema não precisa de uma solução, mas de alguém que escute".
A educadora encerra o discurso reforçando que mães são forças mobilizadoras que não deixam outras mulheres ficarem sozinhas. E relembra uma fala de Angela Davis: "Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. Quando mães se juntam, o mundo todo vira outro".
Continue acompanhando as palestras e debates do Universa Talks, dos dias 13 a 17 de julho, sempre às 10h30. Assista pela home do UOL, pelo Youtube, Twitter ou Facebook de Universa. Não é necessária inscrição.
Confira a programação completa do evento.
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