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Quem é Jen Reid, manifestante que virou estátua no lugar de um escravista?

Jen Reid em frente sua estátua, em Bristol, Inglaterra - Matthew Horwood/Getty Images
Jen Reid em frente sua estátua, em Bristol, Inglaterra Imagem: Matthew Horwood/Getty Images

Nathália Geraldo

De Universa

16/07/2020 15h10

As definições de reparação histórica foram realmente atualizadas, em Bristol, na Inglaterra. Nesta semana, a estátua de uma manifestante negra, Jen Reid, tomou o lugar da imagem que era ostentada em via pública do comerciante de escravizados inglês do século 17 Edward Colston, e gerou comoção entre a comunidade negra local e mundial.

A estátua do escravagista havia sido derrubada por manifestantes do Black Lives Matter, em junho. Jen, na ocasião, subiu na coluna deixada vazia e levantou o punho cerrado.

A pose foi tão icônica, que o artista Marc Quinn fez uma estátua da mulher, em tamanho real. Deu o nome de "A Surge of Power (Jen Reid) 2020" (Uma Onda de Poder, em tradução livre). Depois de 24 horas, no entanto, autoridades locais removeram a estátua de Jen, mas o impacto imagético permanece. Saiba mais sobre a ativista.

Jen Reid: a estátua da ativista negra na Inglaterra

Jen Reid - marcquinnart/Reprodução/Instagram - marcquinnart/Reprodução/Instagram
Estátua de Jen não é oficial ainda; no Twitter, o prefeito da cidade Marvin Rees disse que população decidirá sobre destino da peça
Imagem: marcquinnart/Reprodução/Instagram

A estátua de Jen Reid, feita em tamanho real e de resina pelo artista Marc Quinn, ganhou as redes sociais nesta quarta-feira (15), depois de ser instalada na coluna antes ocupada pela imagem do escravagista.

Jen Rein é uma mulher negra que participou de protestos nas ruas pelo Black Lives Matter, em 7 de junho. Naquele dia, a peça em homenagem a Colston havia sido jogada no rio por manifestantes. Ela conta, então, que sentiu "um impulso avassalador de subir ao pedestal, completamente motivado a fazê-lo pelos eventos que haviam ocorrido antes".

Rein resgatou um símbolo histórico para a população negra: o punho cerrado erguido no ar. "Quando eu estava lá no pedestal, e levantei meu braço em uma saudação do Black Power, foi totalmente espontâneo, eu nem pensei nisso. Era como se uma carga elétrica de energia estivesse passando por mim. Meus pensamentos imediatos foram para as pessoas escravizadas que morreram nas mãos de Colston e para lhes dar poder", relata, em depoimento registrado na página de Quinn na internet.

Apesar de a peça ter sido colocada na via pública, ela precisou ser removida logo depois. Em um comunicado oficial, o prefeito de Bristol Marvin Rees disse que o artista não pediu autorização para isso. Afirmou, no entanto, que uma comissão discutirá como "contar a história da cidade" e que, em um segundo momento, a população opinará sobre o destino da instalação.

"À medida que aprendemos essa história mais completa, incluindo o papel desempenhado por negros, mulheres, classe trabalhadora, sindicatos e crianças, entre outros, estaremos em uma posição melhor para entender quem somos, como chegamos aqui e quem desejamos", disse.

Poder para os negros

Reid explicou que sua espontaneidade em subir no lugar da estátua reverencia aqueles que vieram antes dela, as crianças negras, sua família. Também foi um momento para dar poder a George Floyd e a negros que sofrem injustiças e desigualdades sociais — o que acontece na sociedade britânica, nos Estados Unidos, no Brasil — calcadas pelo racismo estrutural.

"Uma onda de energia para todos eles. Estou colaborando com Marc Quinn neste projeto, pois ele se preocupa em levar a inclusão à vanguarda da mente das pessoas e usa sua arte para fazer as pessoas pensarem", explicou. "Essa escultura é sobre defender minha mãe, minha filha, pessoas negras como eu. É sobre crianças negras vendo lá em cima. É algo para se orgulhar, ter um senso de pertencer, porque na verdade pertencemos a aqui e não vamos a lugar algum".