Sororidade entre mulheres: o que é esse comportamento e como praticar
No feminismo, sororidade é a palavra usada para falar da aliança entre as mulheres. Pressupõe deixar de lado a rivalidade feminina, algo que é visto culturalmente como uma característica das nossas relações, para estabelecer apoio mútuo e saudável entre elas. Afinal, será mesmo que mulher sempre vê outra mulher como uma ameaça?
Sororidade, que vem da palavra em latim "soror" (irmã), prova que não. O termo não existe nos dicionários; mas, cada vez mais, ganha adeptas. Nos últimos quatro anos, com a popularização de um vocabulário feminista, cresceu na busca pela palavra no Google. Na edição de 2020 do Big Brother Brasil, a cantora Manu Gavassi levantou a bola de novo — justificando sua escolha de voto entre os participantes "por questão de sororidade".
O que é sororidade: origem, significado e mais
O que significa sororidade?
União de mulheres, proteção, apoio mútuo em casos de violência de gênero. Sororidade é um termo que propõe solidariedade e empatia entre as mulheres.
No livro "#Sororidade - Quando a Mulher Ajuda a Mulher", a autora Paula Roschel explica que a palavra também representa "a capacidade de se pôr no lugar da outra, de se enxergar em outra mulher, reconhecendo nela suas próprias forças e fraquezas - mesmo entre aquelas que não estão no seu círculo de convivência". A prática, assim, vem das vivências como mulher.
Como praticar a sororidade?
A prática da sororidade se dá em vários níveis e formas. Respeitar o jeito de viver de todas as mulheres, elogiá-las (quebrando o tabu de que sempre estamos competindo entre nós), apoiar o trabalho feminino, se desfazer de conceitos machistas que julgam e menosprezam outras mulheres faz parte do rol de atitudes saudáveis.
Há mulheres que se unem em coletivos e grupos para acolher e orientar outras mulheres; isso também é sororidade. Oferecer ajuda para uma mulher conhecida ou desconhecida, tendo em vista que, em uma sociedade machista, todas nós somos vítimas de opressão social, também é um jeito de aplicar a sororidade.
Entre acadêmicas e militantes, há uma longa discussão sobre o fato de a sororidade ser algo essencialmente feminino - que estaria em todas as mulheres - ou uma postura feminista que, para todos os efeitos, precisa ser reforçada como uma escolha política e que reverbere na transformação social pela igualdade de gêneros.
O que é sororidade no feminismo?
O senso de comunidade entre mulheres, ou seja, a sororidade, se confunde com a história oficial do feminismo — movimento que defende a liberdade da mulher na sociedade e luta pela igualdade de gêneros, direitos iguais e, assim, o fim do patriarcado como sistema social.
A sororidade, por conta da popularização do termo, dialoga com o feminismo contemporâneo: afinal, com a voz das mulheres chegando à mídia, às redes sociais e em locais de decisão de poder, as conquistas femininas também são mergulhadas na prática do "Vamos juntas?".
Sororidade é um dos conceitos aplicado em teorias feministas, a partir do que se conhece como segunda onda do feminismo. Para pensadoras dessa época, "o pessoal é político". Assim, ao reivindicarem presença em debates sobre questões de suas vidas, como maternidade e aborto, as mulheres também ampliaram a agenda feminista para contemplar os direitos de todas - olhando o grupo feminino como, de fato, uma comunidade.
O que é sororidade na língua portuguesa?
Sororidade não existe oficialmente em dicionários da língua portuguesa. Porém, por sua origem, do latim "soror" (irmã) pode ser definida como o substantivo feminino que representa união entre as mulheres.
Como usar a palavra sororidade?
Sororidade está nas redes sociais, blogs, na mídia, na publicidade e nas conversas entre mulheres. Ela pode ser usada em exemplos pessoais, quando uma mulher dá apoio a outra que está passando por alguma situação difícil - como ter sido vítima de uma violência de gênero. Neste caso, quem ajudou "praticou sororidade" com a outra mulher.
No debate de valorização da mulher na sociedade, é comum que se ouça que "precisamos falar sobre sororidade". Esse é um ponto que une as mulheres sobre a defesa de seus próprios direitos e espaços. Isso vale para questões de maternidade, de trabalho, na vida social, por exemplo.
Quem inventou a palavra sororidade?
Não há uma inventora do termo. O que se sabe é que ele surge pela primeira vez, em uso acadêmico, em artigo de Lia Zanotto Machado, no início dos anos 90. A sororidade é uma tradução livre da palavra sororité, usada pelas feministas francesas da geração anterior.
Quando surgiu o termo sororidade?
Sororité, em francês, surge após a Revolução Francesa ter cunhado o termo "Fraternité" (ao lado de Liberté e Egalité) como um de seus lemas. E as mulheres? Foi com base nesse questionamento que se passou a usar o "Sororité" para contemplar a luta feminina por direitos e cidadania.
Nos Estados Unidos, "sisterhood" ganhava esse significado, usado por mulheres negras, religiosas. Nos anos 70, a escritora feminista Robin Mergan publica o livro "Sisterhood is Powerful" (A irmandade entre mulheres é poderosa) e consolida o uso de forma abrangente.
Há ainda o uso em universidades norte-americanas: as fraternities, para homens, e sororities, para mulheres, abrigam os universitários durante os estudos. Além de serem uma moradia coletiva, também congregam símbolos como uma organização social.
Existe sororidade masculina?
Faz parte da cultura feminista a prática da sororidade. Entre os homens, irmandade e fraternidade são palavras usadas em relação à união masculina.
O que é sororidade seletiva?
Não contemplar os recortes e as diferentes vivências de mulheres - considerando tipos de corpos, idade, raça, classe, orientação sexual, identidade e expressão de gênero, entre outras opressões - é praticar sororidade seletiva. Ou seja, acolher apenas algumas mulheres, sem dar conta da emancipação coletiva, é ser seletiva. A atitude pode ser prejudicial ao movimento por segregar mulheres e suas experiências.
Fontes consultadas: livro "#Sororidade: Quando a mulher ajuda a mulher", de Paula Roschel (Editora Europa). Tese "A invenção da sororidade: Sentimentos morais, feminismo e mídia", de Tatiane Leal, e artigo "Onda, Rizoma e 'Sororidade' como metáforas: representações De Mulheres E Dos Feminismos (Paris, Rio De Janeiro: Anos 70/80 Do Século XX)", de Suely Gomes Costa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.