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Desabafo de menina viraliza: 'Não sou homem e ninguém para meu treino'

Larissa, a Lari Gol, posa ao lado da mãe, Patrícia - Arquivo Pessoal
Larissa, a Lari Gol, posa ao lado da mãe, Patrícia Imagem: Arquivo Pessoal

Elisa Soupin

Colaboração para Universa

01/08/2020 04h00

Um vídeo em que uma menina de 10 anos faz um desabafo viralizou nas redes sociais nesta semana. Larissa Victoria Souza, ou Lari Gol, é de Recife e adora jogar futebol. Mas os meninos da comunidade Vasco da Gama, onde ela mora, implicam com sua aparência e falam que ela se parece com um menino.

"Vim falar aqui um negócio sério para vocês que está acontecendo muitas vezes. Do povo dizer que eu sou homem, que eu pareço homem e que eu tenho dente quebrado. Eu to com aparelho [nos dentes], e se Deus quiser vou ajeitar. Não é ninguém que paga meu dentista e não é ninguém que paga meus treinos para eu treinar, beleza?", diz ela no recado postado nas redes.

No dia do desentendimento que a levou a fazer o vídeo, um colega de Larissa havia perdido uma partida e começou a ofendê-la. "Eu fiquei com raiva [dele] e decidi fazer o vídeo, eu tinha falado só para a minha mãe. Só porque perdeu, o menino ficou falando do meu dente, mas o pior é ficar dizendo que eu pareço menino, porque o meu dente eu estou ajeitando", disse ela a Universa, contando que chorou naquele dia.

Chateada com a situação, ela gravou o vídeo sem falar para ninguém e postou em seu status do WhatsApp.

atleta de @fabyacsantos do @agrestinafc

Uma publicação compartilhada por Larissa Victoria Souza (@lari.gol11) em

Posteriormente, o vídeo foi compartilhado no Instagram por sua treinadora, Fabya Santos, que também o compartilhou no Twitter, e pelo perfil da própria menina. Em poucos dias, já já foi visto mais de 2 milhões de vezes e recebeu inúmeras mensagens de apoio nas redes sociais.

Larissa faz parte de um projeto de futebol feminino chamado Agrestina FC, de Fabya Santos, que conta que a menina é extremamente dedicada e talentosa.

"Ela está comigo há um ano porque veio indicada de um projeto da comunidade dela, ela treina duas vezes por semana em um time de meninas, mas onde ela mora, só joga com meninos. Ela é muito boa, vive pra jogar bola, passa o dia jogando bola", diz Fabya, que enxerga a questão como algo muito maior: o preconceito com mulheres no futebol.

"Isso acontece comigo também e com tantas Larissas, ela é uma criança de apenas 10 anos sendo atingida por outras crianças. A gente quer ecoar o recado de Lari", diz Fabya.

Larissa não voltou a encontrar os coleguinhas, mas espera que o vídeo e toda a repercussão tenha feito com que eles pensem melhor. "Eu acho que eles ficam com inveja, porque eu não trato ninguém assim do jeito que eles me tratam. Eu não os vi de novo ainda, mas queria que eles mudassem, né, para que não falassem com mais nenhuma menina assim", diz Larissa.

A mãe da menina, Patrícia Araújo, espera que o bullying e o preconceito não desanimem o sonho da filha. "Infelizmente, a gente vive em uma sociedade que tem muito preconceito, Pela educação que eu dou a minha filha, ela não trata ninguém mal, com respeito à cor, religião, sexualidade, queria que fosse recíproco o tratamento que ela recebe das outras pessoas", afirma.