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Advogada deixará prática de ioga após ser assediada durante exercício no RJ

Pauline Almeida

Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro

05/08/2020 12h21

Abalada após ter imagens da prática de ioga expostas na internet, a advogada Mariana Maduro, 33, vai abandonar a atividade física.

"Eu não vou voltar a praticar ioga, não por medo, mas por associar o ioga a um filme pornô. Eu só consigo associar o ioga agora a um filme pornô, que eu estou produzindo gratuitamente para as pessoas. Não tem mais beleza, sabe?", desabafa em entrevista a Universa na manhã de hoje.

No último sábado, Mariana fazia acroioga (modalidade que combina ioga com acrobacias) com a amiga e professora da prática na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio, quando as duas foram filmadas pelo empresário Ricardo Roriz.

No vídeo, ele tem uma conversa de cunho sexual com um vendedor ambulante identificado como Celsão, que faz um gesto sexual de masturbação enquanto observa as mulheres. Com mais de 300 mil seguidores em redes sociais, Roriz publicou o material, com grande repercussão. A Polícia Civil investiga o caso e pode indiciar os homens por perturbação de tranquilidade, injúria e gesto obsceno.

A advogada, que denunciou o caso na 12ª Delegacia de Copacabana, está perplexa com os comentários sobre a exposição. Se de um lado recebeu apoio, outras pessoas criticaram o fato dela fazer a atividade física ao ar livre.

Têm pessoas que têm a capacidade de falar que é pra eu fazer em casa. Eu acho incrível a capacidade das pessoas de justificar a violência. Por eu ter sido violentada fora de casa, então a solução agora é que eu pratique em casa porque, 'de fato, essas posições, os homens ficam excitados'. É cada absurdo que eu estou ouvindo. O meu medo não é de praticar ioga, é de sair de casa
Mariana Maduro, advogado que foi assediada ao fazer ioga

A advogada acredita que ainda falta uma tipificação na lei criminal sobre homens que expõem mulheres em vídeos e espera que o seu caso ajude a mudar isso.

"Meu único objetivo nisso é ser voz de tantas mulheres e tentar fazer com que esse choro chegue no (Poder) Legislativo. Porque são eles quem fazem nossas leis. Enquanto nossa lei estimular esse tipo de atitude, porque estimula, já que não tem pena, isso vai continuar acontecendo o tempo todo, eu estou muito cansada de ser objeto", afirma.

Ontem, o empresário Ricardo Roriz prestou depoimento à Polícia Civil e, segundo a delegada Valéria Aragão, disse estar arrependido. Mais tarde, nas redes sociais, publicou uma nota de esclarecimento, em que externou "solidariedade a quem se sentiu ofendido ou depreciado". O advogado dele, Valdo Tavares, acredita que o erro se deu pela postagem na internet e não pelo conteúdo. "Conversa íntima entre amigos que estavam bebendo cerveja há algum tempo", argumentou.

Já para Mariana, que se descobriu filmada, a nota do empresário é vista como uma afronta. Hoje, o segundo envolvido no vídeo, o ambulante identificado como Celsão, deve prestar depoimento à Polícia Civil e a advogada quer que ambos sejam punidos.

"Para que o choro não seja em vão, para que todo esse esforço, essa lágrima, esse desgaste, essa exposição resulte em exemplo para que os homens entendam que eles não podem fazer isso com a gente. Isso não está certo. Isso machuca muito, sabe? Por mais que eles tenham sido criados numa sociedade machista, é muito importante eles entendam que a gente está em outro mundo e que isso machuca muito", explica.