Amazônia é a vagina do mundo, diz líder indígena sobre cuidar das florestas
A líder indígena Célia Xakriabá, atuante militante pela proteção das florestas brasileiras, defende que "o século 21 é o século da mulher indígena" e que é a participação feminina nessa luta que permite "curar a Terra".
"Você tem que superar esse poder colonizador que é principalmente masculino", ela diz. "A Amazônia é como a vagina do mundo porque é de onde as pessoas vêm. É como a porta de entrada do mundo. Quando esta abertura adoecer, as gerações futuras também ficarão doentes", afirma a líder indígena.
Em longo texto publicado hoje pelo site britânico The Guardian, ela conversa com a norte-americana V (codinome da premiada ativista feminista Eve Ensler) sobre a importância das mulheres para uma mudança na conservação da biodiversidade e dos povos indígenas do Brasil.
"A cada minuto uma pessoa morre de covid-19, mas também a cada minuto uma árvore é cortada. E sempre que uma árvore é cortada, uma parte de nós é cortada, uma parte de nós também morre, porque o território morre e sem território não há ar, não há ar bom para todos no mundo", avalia Célia Xakriabá.
"E as mulheres, são elas que neste século estão recuperando o poder sobre a terra, porque sabem como curar a Terra. As mulheres têm esse conhecimento e é por isso que estamos na linha de frente agora."
"Estado escolhe quem vai morrer"
Célia Xakriabá aponta que os indígenas brasileiros estão sendo afetados pela pandemia do novo coronavírus e que isso não seria algo aleatório, em sua opinião. "Durante a pandemia, centenas de indígenas morreram. Mas temos que pensar em quantas pessoas morreriam se não lutássemos", afirma.
"Quando as pessoas dizem que a covid-19 não escolhe classe ou raça ou sexo, é meio que mentira, porque o Estado, eles escolhem quem vai morrer. O governo, ele pode justificar tudo isso, dizendo que é só uma doença, é uma fatalidade. Quando morre um idoso, quando morre um importante líder dos povos indígenas, uma parte de nós morre com eles."
"Bolsonaro gosta de dizer que os povos indígenas estão se tornando mais humanos, mas os povos indígenas não gostam do tipo de humanidade que não respeita a terra, não respeita os animais, porque só se sabe ser humano se você sabe ser uma planta, como ser uma semente, como ser alimento", disse.
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