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Empresário diz que queria ser engraçado em vídeos de assédio a mulheres

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, no Rio

11/08/2020 10h20

Investigado por filmar e compartilhar imagens de mulheres fazendo ioga com comentários de cunho sexual, o empresário Ricardo Roriz alegou à polícia que os conteúdos eram produzidos com o objetivo de ser engraçado. Ele prestou ontem seu segundo depoimento no Rio de Janeiro e alegou arrependimento pelos vídeos que foram postados em suas redes sociais e denunciados por duas vítimas.

"Ele afirmou que se sente arrependido e contou que há seis anos começou a fazer vídeos e postar com toque de humorismo, mas que não desejava ofender e expor as pessoas sem autorização", afirmou a delegada Valéria Aragão, responsável pelas investigações.

No depoimento, ele teria de comprometido a retirar os vídeos das redes sociais. "Ele disse que assim que percebeu a repercussão negativa e de como as pessoas se sentiram ofendidas em suas condições de mulheres, ele começou a fazer um trabalho de retirar os vídeos do ar e se comprometeu a pedir desculpas publicamente pelo seu ato", disse Valéria.

Ricardo Roriz - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Empresário Ricardo Roriz é investigado por filmar mulheres fazendo ioga e fazer comentários de cunho sexual
Imagem: Reprodução/Instagram

Assédio filmado e divulgado

Ricardo Roriz é investigado pela publicação de pelo menos dois vídeos. Em gravação feita em 5 de julho, ele filma uma mulher que se exercitava na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul. As imagens foram feitas sem que a mulher soubesse. No vídeo, ele comenta: "Ninguém aqui quer ver ioga, queremos ver alcatra abrindo".

Dias antes, o empresário já havia sido denunciado pela advogada Mariana Maduro que também foi filmada fazendo ioga. Na ocasião, o empresário aparece conversando com um vendedor ambulante identificado como Celso de Barros, que faz um gesto sexual de masturbação enquanto observa as mulheres.

A Polícia Civil investiga os dois casos e pode indiciar os homens por perturbação de tranquilidade, injúria e gesto obsceno. O vendedor Celso de Barros, chamado de Celsão, que aparece em um dos vídeos que mostra Mariana, também prestou depoimento e afirmou ter sido "provocado" pelo empresário a realizar o ato.

Universa procurou o advogado do empresário para comentar o depoimento dado à Polícia, mas não obteve retorno. Roriz tem mais de 300 mil seguidores nas redes sociais.

Empresário falou em dar "porrada" em mulheres

Após denunciar o caso, a advogada Mariana Maduro, uma das vítimas, tem publicado nas suas redes sociais, outros vídeos desrespeitosos do empresário. Em um deles, o empresário aparece comentando a Lei Maria da Penha.

"Eu descobri porque mulher da gente é um bicho chato para c***. Sabe quem é o culpado da mulher ser chata? É a tal da Maria. Maria da Penha. Se a Maria da Penha não tivesse feito aquela lei, se tivesse uma lei assim: você tá casado e vivendo com a mulher mais de três meses, você tem direito de enfiar a porrada se ela te encher o saco, toda mulher seria maravilhosa, seria calminha" diz Roriz.

Todo o material colhido pela vítima foi entregue à Polícia Civil do Rio que investiga o caso. As postagens feitas na página Loja de Militaria, de Roriz, foram apagadas.

Em uma live feita hoje nas redes sociais, o empresário alegou que o vídeo, gravado há quatro anos, foi tirado de contexto. " Sobre esse contexto da Maria da Penha: são pobres coitados, medíocres, tentando arrumar fama em cima de bandeira que nem sabe. Esse vídeo foi cortado e preparado e botaram só a parte como se estivesse falando sério".

Roriz aproveitou para dizer que nunca agrediu a esposa. "Nunca encostei o dedo nela, nunca xinguei ela, nunca proferi dano moral, nunca fiz minha mulher chorar, 32 anos de convivência, tive quatro relacionamentos na minha vida. Se pegar elas e perguntar: você tem algo que desabone o Ricardo Roriz? Queria ver uma dessas quatro pessoas dar depoimento contra mim."

Não pode falar "viadinho" e "gostosa"

No vídeo, o empresário avaliou ainda como "mimimi" assédios sofridos por mulheres. "Galera, sou de uma geração que poderia falar qualquer coisa. Agora tá um mimimi (...) A lei de um tempo para cá foi sendo adaptada e dando muita voz [para as mulheres], não acho isso nada de errado, só que está fazendo os homens se afastarem das mulheres. Sei que a nossa sociedade está mudando e tenho pena de quem não viveu a minha época de infância", disse o empresário.

"'Fala, viadinho', na minha época, era carinho, hoje é crime. Tudo é crime. Acabou a liberdade de poder se expor, se tiver bêbado, tem que ter maior medo, melhor nem beber na rua, você pode falar m*. Às vezes passa uma mulher por você: 'oh, gostosa!' A mulher vai na delegacia dizer que o cara ofendeu. Você vai em cana. Que mundo infeliz é esse? Todo mundo era muito mais feliz quando a lei não era tão rígida assim", completou.

Empresário alega conversa íntima; vítima fala em afronta

Após a repercussão do caso na praia do Rio de Janeiro, Roriz publicou uma nota de esclarecimento sobre o caso. A medida foi tomada após a Polícia Civil começar a investigar o conteúdo das publicações. Ele explicou que o episódio foi uma "conversa íntima entre amigos" que se tornou pública.

"Uma conversa íntima entre amigos veio a público através de uma publicação infeliz por mim publicada em minha rede social Instagram que conferiu erroneamente um tom genérico, abstrato, grosseiro que não corresponde à minha conduta durante os seis anos de publicações nas referidas redes sociais. Venho externar minha solidariedade a quem se sentiu ofendido ou depreciado pela referida postagem", disse o empresário.

Mariana considerou uma afronta a postagem de Roriz. "Ele veio externar solidariedade a quem se sentiu ofendida e depreciada. Não é que ele ofendeu e depreciou. Eu que sou culpada por me sentir ofendida e depreciada porque afinal de contas como esse senhor mesmo fez na postagem a culpa é de quem sofre", comentou ela em tom de ironia.

Advogada retoma atividade físicas

Após uma semana sem atividade física, a advogada Mariana Maduro retornou hoje a pelo menos uma das atividades que fazia antes de ser exposta na internet.

"Eu estava muito apreensiva, não consegui nem fazer meu futevôlei que é na praia, tentei ir à noite, mas ainda não consegui. Olhei que tinha outro cantinho onde é meu treino funcional, que eu faço desde o final de 2018, e lembrei que fica em lugar mais reservado, não imagino uma pessoa filmando a gente com o Rafael [professor], que é um gigantesco. Ali tem árvores, tem quadra na frente, mais difícil ter um sociopata nos filmando, mas tive que acordar às 6h para meditar e pensar que não tem problema eu botar uma calça justa e que a culpa não é minha. Foi a primeira vez que coloquei uma calça comprida desde então. Me senti super vitoriosa", contou Mariana a Universa na manhã de hoje.

Mariana disse ainda que voltou a buscar na atividade física uma ajuda para conseguir abandonar a medicação prescrita. "Eu estou usando medicação agora porque tenho que conseguir levantar na crise, mas entendo que a medicação é um paliativo, se eu não encontrar formas saudáveis e naturais de conseguir barrar a depressão eu vou me afundar e eu não posso. Sou advogada, sou autônoma, preciso trabalhar, meu trabalho é super intelectual".