A internet me "obrigou" a testar produtos da Sallve; topei e conto como foi
Era propaganda pra cá, resenha pra lá. Parecia que toda a minha bolha virtual de amigos consumia - e idolatrava - os produtos da Sallve. Só eu que não. Em meio ao ócio da quarentena, comecei a dedicar mais tempo para experimentar novos produtos de beleza, principalmente produtos de cuidados para a pele, e foi então que decidi dar uma chance à marca.
Um dia, no meu Instagram, pedi para que meus colegas me convencessem a usar os produtos da Sallve. "Se você usa, me diga o porquê." Poucos comentários de "amo esse, amo aquele produto", o mais comum era: "depois me conta o que achou, também estou curiosa para experimentar". É o tal do marketing de influência.
A badalada marca de skincare, pra quem não sabe, é de Julia Petit, uma das primeiras e mais famosas influencers do país, criadora do portal Petiscos (vai dizer que você nunca viu um tutorial da ruiva no Youtube?). Em entrevista para Universa em 2019, ela contou detalhes sobre a proposta da Sallve e reforçou o posicionamento da então recém-lançada linha: "Chamar skincare de autocuidado chega a ser falta de respeito. Skincare é cuidar de sua pele. As marcas e pessoas não podem usar esse subterfúgio de dizer que cuidar da pele é cuidar também de saúde mental".
Segundo Julia, a marca quer incentivar um consumo "consciente" de produtos para o rosto. E é com essa mensagem que a Sallve se vende, mas parece que a ideia ainda não foi comprada pelos consumidores. Um dos meus amigos que indicou a marca através do Instagram, por exemplo, depois de eu questionar o porquê da paixão pelos produtos, não soube explicar muito bem o que tinha dado ou não certo durante o tratamento. Para mim, pareceu hype. Tudo bem, eu também sou um ser influenciável.
Testando os produtos
Resolvi passar uma semana usando apenas os produtos da Sallve, sem nenhum outro aditivo na rotina de beleza. A marca tem um gel limpador facial, um polêmico esfoliante enzimático, um hidratante antioxidante e o mais recente lançamento: um hidratante firmador. Tenho uma pele mista e, para checar a eficácia, pedi para meu namorado, que tem a pele mais oleosa do que a minha, fazer o tratamento também - vale lembrar que a marca é cruelty free (não faz teste em animais), vegana e todos os cosméticos são hipoalergênicos.
O que não falta é tutorial sobre os produtos da Sallve. A própria Julia Petit tem vários. Começamos pelo básico: limpador e esfoliante. O sabonete não tem cheiro forte, é agradável e você só precisa de uma gota para fazer espuma suficiente para lavar o rosto todo. Custa R$ 54,90 no site oficial da empresa.
O esfoliante é o produto mais diferentão da marca e propõe uma esfoliação tripla - enzimática, física e química ao mesmo tempo - graças às enzimas de romã (que faz a parte enzimática), aos AHA de cajá, manga e banana (a química) e às partículas de bambu (a física). Fez bastante efeito na minha pele e, desde o primeiro uso, reparei que houve uma diminuição no tamanho dos meus poros. O preço é de R$ 59. A fama do produto, porém, não é das melhores devido um recall de lotes no ano passado.
O firmador é, como já foi dito, a novidade da marca. Promete um efeito "lifting up" e, por causa da textura, escolhi aplicar entre a limpeza e o antioxidante. Não há necessidade, porém, de usar os dois produtos a cada lavagem. Ele custa R$ 99 e, com 8 tipos de ácido hialurônico na composição, também garante suavizar as linhas finas dos consumidores. Logo após a aplicação fica parecendo que você está usando uma película de vidro no rosto e a sensação é engraçada.
O antioxidante era o último produto da minha rotina de skin care a la Sallve. Ele também possui ácido hialurônico na fórmula, além de vitamina C, vitamina E e outros ativos. É vendido por R$ 89 no site oficial. Teoricamente, os efeitos deste creme/sérum são preventivos, portanto não é um creme que você passa no rosto e já sente muita diferença, a promessa é de que o efeito venha a longo prazo.
Infelizmente, o antioxidante não deu certo no meu rosto. Tive espinhas logo após a quarta aplicação. Procurando na internet, descobri que não estava sozinha. Várias outras mulheres faziam a mesma queixa. Pensei: será que era por causa da vitamina C?
"Nunca foi comprovado que a vitamina C fosse capaz de acelerar a produção de acne, ainda mais na porcentagem disponível nos cosméticos", diz Patrícia Silveira, dermatologista natural, rebatendo o mito de que o ativo provoca espinhas. O que poderia ser então? Engraçado que, enquanto eu lidava com duas espinhas brotando na zona U do meu rosto, a pele do meu namorado estava linda, iluminada e lisa.
De acordo com a dermatologista, a explicação é outra. "Não tem nada específico no produto que dê acne, mas é uma fórmula poluída e uma mistura de sintéticos: glicerol, ácido graxo oleico e linoleico, apesar de terem origem natural, são sintéticos. Não tem tanta biocompatibilidade com a pele", diz. Acho que não era pra mim.
Boca a boca, like a like
A minha percepção geral é a de que os produtos são legais, principalmente o esfoliante, mas nada milagroso que justifique tamanha fama. Para Gabriel Rossi, especialista em marketing e comportamento do consumo, a fórmula de sucesso da Sallve está além da composição dos cremes e das embalagens coloridas em tons pasteis: o verdadeiro sucesso da Sallve, hoje, é a marca em si.
Se você segue qualquer influencer de beleza, com certeza foi impactado pelos produtos da marca na prateleira de algum deles. Eu mesma, com aquele post perguntando para amigos opiniões sobre a marca, convenci um deles - involuntariamente, porque eu não tinha dito nada sobre a minha experiência até então - a comprar o kit todo da marca. Quando ele soube que tinha me dado espinhas, ficou chateado.
"Algumas coisas explicam o sucesso do marketing de influência nos produtos de skincare. Primeiro, são pessoas de carne e osso fazendo avaliações, e isso passa uma forte sensação de autenticidade. Também, se a gente olhar para a geração mais jovem, que não cresceu em frente da televisão ouvindo o que tinha ou não que consumir, eles tendem a acreditar muito mais nos amigos do que nas instituições", diz Gabriel.
O especialista também fala sobre o aumento do consumo de cosméticos agora na pandemia: "Algumas pesquisas mostram que as pessoas estão mais preocupadas com a saúde durante a quarentena. Começam a se questionar se se cuidaram durante a vida toda, e há interesse maior por produtos que, de alguma forma, também colaboram com o bem-estar e com a estética. Tudo isso dá, de algum jeito, uma sensação de volta à normalidade".
Dei match nessa explicação. Foi o que aconteceu comigo e o que me motivou a testar os produtos da Sallve. As espinhas ninguém viu, mas a foto cool e descolada para postar no Instagram eu tirei.
"A Sallve tem o que chamamos de 'coolness' de marca, uma habilidade de fazer com que as pessoas falem sobre a marca para os outros. Ela vai sempre injetando um certo dinamismo na venda: um novo influenciador, uma embalagem diferente. Isso dá a impressão de que a marca é jovial - não é 'só' diferente dos concorrentes, ela 'continua' sempre sendo diferente dos concorrentes", explica Gabriel.
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