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Como criar um estilo próprio quando estamos com uma máscara social?

Mulher usa máscara da Chanel na Times Square, em Nova York - Gotham/Getty Images
Mulher usa máscara da Chanel na Times Square, em Nova York Imagem: Gotham/Getty Images

Natália Eiras

Colaboração para Universa

14/08/2020 04h00Atualizada em 14/08/2020 09h42

Máscara combinando com a tonalidade da camiseta. Máscara com o mesmo acabamento do vestido. Máscara exibindo uma marca de luxo ou uma frase de protesto. O visual não é estranho para quem já viu vídeos de moda de rua de países como Japão e China que têm viralizado no TikTok.

Nestes países, a máscara social está presente no guarda-roupa por conta dos altos índices de partículas de poluição e de pólen que podem estar no ar. Aqui no Ocidente, no entanto, a máscara "arrombou" os nossos armários por conta de uma pandemia —e, pelo menos até a vacina para a Covid-19 ser desenvolvida, deve continuar tendo seu lugar em nosso dia a dia. Mas será que conseguiremos incluí-la como um mero "acessório"?

Carol Garcia, consultora de estilo e pesquisadora de moda, diz que ainda é muito delicado tratarmos a máscara social como uma peça estética. "Marcas que já estavam pensando no item de segurança sob a perspectiva estética foram mal recebidas, porque estamos em um momento de insegurança, de medo", fala a especialista.

Porém, conforme essa situação for se prolongando, a tendência é que a gente pense na máscara como um acessório funcional, assim como são os óculos de grau. "Quando vamos comprar uma armação, levamos em conta nosso estilo pessoal." O mesmo deve acontecer com o item de segurança?

máscara - Getty Images - Getty Images
À esquerda, mulher usa máscara com tons em sintonia com a echarpe e a blusa; à direita, um lenço faz a vez da máscara produzindo um visual mais despojado
Imagem: Getty Images

Cada um do seu jeito

Depois de semanas em isolamento social, Leila Turgante, makeup artist da Group Art, voltou a fazer pequenos trabalhos. "Mas estava cansada de ficar só de pijama, queria me arrumar", fala.

Ela não se adaptou bem às máscaras de tecido, que machucavam sua orelha. As de amarrar na parte de trás da cabeça bagunçavam o cabelo. Abrir mão da máscara não era uma opção. O jeito foi encontrar um modo de adaptar o acessório ao visual dela. "Comecei a usar a máscara descartável, que tem o TNT e previne a contaminação, com um lenço ou bandana por cima."

Foi o jeito que ela encontrou de manter a segurança sem abrir mão do estilo pessoal. O processo de Leila de adaptar a máscara social ao seu estilo pessoal vai ser cada vez mais comum no nosso dia a dia. "Além disso, vamos ter uma mudança nos elementos que compõem o nosso rosto, os brincos serão diferentes, o jeito que vamos usar maquiagem", afirma Carol Garcia.

No verão, por exemplo, devemos reforçar o protetor solar facial para evitar a marquinha no rosto. "Eu gosto muito de usar batom, mas não posso usá-lo com a máscara. Suja tudo. Tenho, então, usado mais delineador colorido", fala a especialista.

Foco nos olhos, sobrancelhas e brincos

"Devemos dar, a partir de agora, mais destaque aos olhos, às sobrancelhas", prevê Leila. A maquiadora fala, como sugestão, que podemos pentear a sobrancelha de uma maneira diferente para criar um visual de impacto enquanto vestimos a máscara. "Você pode preenchê-la, deixá-la mais marcada para enfatizar mais a área dos olhos", fala a artista.

Carol Garcia vai além: "Brinco com meu marido que, talvez, o piercing de sobrancelha até volte à moda, enquanto o de septo, que estava em alta, seja o novo piercing de mamilo, que apenas as pessoas mais íntimas verão."

máscaras com logotipo ou estampa - Getty Images - Getty Images
Máscaras com logotipo ou estampas dividem a atenção com os óculos e atraem a atenção em looks monocromáticos
Imagem: Getty Images

Máscara como posicionamento político

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) falou, há algumas semanas, que "máscara é coisa de viadinho".

Nos Estados Unidos, há diversos vídeos em que pessoas se negam e discutem porque não querem usar máscara social em estabelecimentos como supermercado. Se continuarmos por esse caminho, logo mais o uso (ou não) do item de segurança também vai ser um ato político. E isso já acontece na China, onde há um sistema de reconhecimento facial. Há quem use a máscara para evitar ser rastreado.

O designer chinês Zhijun Wang usa uma foto pixelada em seu Instagram. Ele não quer ser reconhecido, mas também quer estar "na moda". Por isso, o artista desmonta sneakers para transformá-los em máscaras faciais. "É um processo que une a identificação que um sneaker provoca, em que uma certa "tribo" usa um determinado tipo de "tênis", com a funcionalidade da filtração de ar", comenta Carol Garcia.

Voltamos, novamente, a falar sobre os países asiáticos. "Lá a máscara facial já compõe uma estética, um estilo. Este pode, sim, se tornar um caminho para a gente", diz a especialista. Por isso, as pessoas vão em busca de fórmulas, de estampas que condizem com o que vestem, como Leila Turgante. "É como a moda do pós-guerra, que se torna exuberante porque o mundo passou por uma situação traumática e quer expurgar aquele sentimento."

Para Leila, vamos descobrir formas de tornar isso mais "fácil" de lidar. "A gente é assim, estamos em busca de um respiro, de uma forma de melhorar as coisas mesmo na situação mais complicada."