"Ele vai te procurar em 5 minutos": testei dicas de telepatia do YouTube
Há algumas semanas vi um meme na internet que me despertou a curiosidade. Ele dizia "Eu deixando acontecer naturalmente" e em seguida trazia um print do vídeo "Como receber uma mensagem da pessoa amada usando a lei da atração", postado no YouTube. Dei risada e quis saber se aquele tipo de conteúdo de fato existia, então busquei no Google. E através do resultado da pesquisa, me deparei com um universo inteiramente desconhecido: o dos vídeos sobre lei da atração, voltados especialmente para as questões afetivas. Alguns, mais ousados, prometem o retorno de um ex, um pedido de namoro ou uma mensagem da pessoa amada em poucos minutos. Outros, mais subjetivos, garantem que a pessoa pensará ou sonhará com você através da telepatia.
A gravação específica do meme tem 393 mil views e pertence a Diniz Vieira, que tem 657 mil inscritos em seu canal. Lá, ele posta vídeos sem mostrar o rosto, usando apenas a voz para orientar o que a pessoa deve fazer para atingir seus objetivos enquanto imagens genéricas de natureza, riqueza e de pessoas de braços abertos olhando para o céu rodam na tela. Os títulos são muito clicáveis, por exemplo "Como atrair dinheiro enquanto dorme?" e "Lei da atração: 3 passos simples para manifestar qualquer desejo".
Apertei o play para saber do que se tratava e quando me dei conta estava de olhos fechados, quase que hipnotizada, certa de que uma mensagem apareceria de forma mágica no meu celular. O resultado você descobre a seguir:
Se você não acreditar, não vai dar certo
Diniz, que tem a voz semelhante a de um locutor de rádio, orienta a procurar um lugar tranquilo e respirar profundamente, como se estivesse prestes a iniciar uma meditação. Ele explica que "tudo é energia", inclusive o celular que você e a outra pessoa usam — por isso seria perfeitamente possível influenciar alguém a te escrever algo. Depois, pede que você acredite que aquilo irá acontecer. Se não acreditar de verdade, ele alerta, a técnica não vai funcionar.
Quando pensei sobre o tanto de pessoas que já assistiram ao vídeo, decidi que levaria o teste a sério, já com a intenção de escrever sobre a experiência. Achei a voz convidativa, quebrei a resistência inicial e me deixei guiar. Conforme as instruções, peguei o aparelho na mão de olhos fechados, imaginei que ele vibrou e que, quando abri a notificação, era da pessoa que escolhi.
Não queria que o teste fosse fácil, então selecionei alguém com quem não conversava há mais de um ano. Deixei que o sentimento fluísse como se a cena de fato estivesse acontecendo e visualizei um texto com uma saudação simples: "Oi, tudo bem?". Por fim, de acordo com o que a técnica pede, procurei "soltar" meu pedido para o universo. É outra recomendação de Diniz: se ficar preocupado com o assunto, isso também impede seu desejo de se realizar.
Talvez tenha feito algo de errado, porque terminei o processo com três mensagens no meu Whatsapp: uma da minha mãe e duas do grupo do trabalho. Nos dias seguintes, também não recebi nenhum contato."
Mesmo assim, posso dizer que algo parecido com o meu pedido se realizou: depois de ter trazido a pessoa em questão a memória e de me imaginar tão feliz ao conversar com ela outra vez, decidi que eu mesma iria procurá-la. Não fazia sentido me privar da companhia de alguém somente porque não partiu dela a iniciativa da conversa. Na semana seguinte, voltei a segui-la nas redes sociais, começamos a nos falar e vivi exatamente a emoção que tinha projetado antes, mas sem a materialização de um pedido específico.
A base da lei da atração
Aquele foi apenas o primeiro vídeo sobre a lei da atração com o qual tomei contato. Descobri canais de dezenas de pessoas que produzem conteúdo sobre o tema: William Sanches, Joelma Novaes, Oswaldo Neto, Suéllen Biscolla, Amanda Schultz e vários outros nomes dedicam-se a ensinar o público a "destravar a mente" e "criar sua própria realidade". Alguns deles garantem não se tratar de magia, mas usam a física quântica e a frequência das ondas cerebrais para justificar o método. Outros flertam com caminhos espirituais e rituais místicos, como o tarô e as simpatias.
O fato é que eu estava determinada a entender o sucesso das visualizações e passei quase que uma tarde inteira presa nas reproduções automáticas do YouTube. De tantos vídeos que assisti, percebi um padrão nas orientações: primeiro é necessário saber exatamente o que você quer, nos mínimos detalhes. Depois é preciso afastar as dúvidas de que seja possível alcançar o pedido e visualizá-lo acontecendo, como se ele já fosse real. Por fim, a ansiedade deve ser deixada de lado para não atrapalhar o processo. Como diziam os muitos títulos convidativos: "o lema é solta que vem". A técnica valeria para o amor, para o emprego, a saúde e para a conquista de dinheiro e bens, frequentemente chamada de prosperidade ou abundância.
Nem todos os coaches e orientadores concordam, no entanto, que a lei da atração funcione para uma atrair uma pessoa específica. Há quem defenda que, se a ideia é melhorar a vida amorosa, é preciso saber exatamente as qualidades da pessoa que deseja, mas deixar que o universo determine quem é ela e quando ela surgirá.
Dei mais uma chance: tentei escrever 99 vezes o mesmo desejo em um caderno
Confesso que não tenho uma opinião formada sobre a técnica: principalmente porque me lembrei de um período em que a colocava em prática sem nem imaginar que recebia esse nome.
Logo que comecei a trabalhar, aos 19 anos, não gostava do cargo que ocupava e nem me sentia a vontade com minha equipe. Então como uma espécie de válvula de escape, gostava de imaginar nas horas vagas que chamava minha chefe para conversar e pedia demissão, porque estava indo para uma empresa muito maior, da qual sempre quis fazer parte. A imagem me aliviava e trazia conforto. Fiz isso durante meses, até que um dia me inscrevi para uma vaga exatamente nesta empresa e fui selecionada.
Mas tenho minhas dúvidas com relação ao amor: paixões platônicas, traições, mágoas e solidão: tudo isso poderia ser evitado através da força do pensamento?
Decidi dar mais uma chance e testei a técnica do 33x3, que encontrei no canal da youtuber Beth Russo. Nela, você deve pegar um caderno, escrever 33 vezes o mesmo pedido antes de dormir e repetir o processo por três dias. A frase deve começar da seguinte forma: "Eu estou tão feliz e agradecido porque..." e em seguida, você deve completá-la com o seu desejo, como se ele já tivesse sido realizado. Como exemplo, ela cita a frase: "Eu estou tão feliz e agradecida porque estou morando no apartamento dos meus sonhos".
Para matar minha dúvida e completar a experiência, escolhi um gesto pequeno relacionado a vida afetiva e que pudesse acontecer nos próximos dias: receber um convite para sair. Mas logo me arrependi: de cara, me senti incomodada. Principalmente por me ver novamente no lugar de uma pessoa passiva, torcendo para que o outro lado tomasse uma atitude. No primeiro dia, completei as 33 linhas, mas depois abandonei o processo.
Se estivesse com o foco em conquistar um bem ou atingir um objetivo profissional, faria mais sentido o esforço. Mas dedicar tanta energia em função de uma relação, que deve ser prazerosa e equilibrada para ambas as partes, soou como uma grande furada.
Ao final da experiência entendi que, quando o assunto é amor, talvez o melhor seja mesmo deixar acontecer naturalmente. Ou pelo menos tentar.
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