"Meu lugar precisa ser ocupado por mulher negra", diz ex-curadora da Flip
A editora Fernanda Diamant anunciou sua saída da curadoria da edição 2020 da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) por acreditar que o formato perdeu seu sentido e precisa ser repensado à luz dos acontecimentos atuais.
"A razão da minha saída é por achar que esse lugar precisa ser ocupado por uma curadora mulher negra", disse Diamant a Universa na quinta-feira, no dia seguinte ao envio de uma carta à imprensa. "O antirracismo é o debate mais importante do momento. É debate e é ação. E as pessoas brancas que estão em posições privilegiadas precisam agir também", continuou.
"As coisas mais interessantes que tenho lido atualmente vêm de autoras e autores negros brasileiros e estrangeiros. E não só sobre antirracismo, mas sobre outros assuntos. Eles trazem outros pontos de vista, trazem frescor ao debate, trazem urgência e novidade mesmo", disse Diamant, que também foi curadora do evento em 2019.
A assessoria de imprensa do festival afirmou à reportagem que a nova curadoria será anunciada nas próximas semanas, assim como o formato e as datas.
O diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz, falou numa live do Itaú Cultural em julho que o festival aconteceria entre a última semana de novembro e a primeira de dezembro, num híbrido de eventos físicos e mesas virtuais. A data original era 29 de julho a 2 de agosto, adiada por conta da pandemia.
Em nota à imprensa, Diamant escreveu que era contra a definição prematura de uma nova data para a Flip, postergada para novembro à sua revelia. "A pandemia se agravou, a condução genocida que o governo federal fez da crise sanitária deixou tudo muito sombrio. Cada vez mais me parecia que a celebração desenhada previamente pertencia a uma outra época e tinha perdido sentido", escreveu.
"Não havia nada a ser comemorado. Ainda não há. Era preciso repensar a curadoria e até mesmo o próprio evento -- virtual ou não -- à luz dos acontecimentos."
A Universa, Diamant disse que, além da homenagem à poeta Elizabeth Bishop (1911-1979), já havia decidido que pelo menos metade dos convidados de 2020 seriam autoras e autores negros, algo inédito na história da Flip. "A maior parte dos convites estava confirmada quando veio a Covid-19", disse.
Ela lembrou que, ao longo dos 18 anos da Flip, a curadoria jamais foi ocupada por uma pessoa negra, apesar de ter passado por mudanças nos últimos anos. "Desde a curadoria de Josélia Aguiar [2017 e 2018], o programa principal ficou mais diverso", escreveu.
Em 2019, entre os cinco autores mais vendidos durante o evento em Paraty, quatro eram autores negros (Grada Kilomba, Ayobami Adebayo, Kalaf Epalanga, Gael Faye) e um era indígena (Ailton Krenak).
Bishop hoje
No momento, a Flip segue com um evento online até 21 de agosto, o Ciclo da Autora Homenageada: Elizabeth Bishop", em parceria com o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.
Hoje, às 18h30, o artista plástico José Alberto Nemer, amigo de Bishop no período em que a poeta viveu em Ouro Preto (MG), conversa com o escritor Humberto Werneck. O evento é gratuito e online (inscrições no site).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.