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"O que aprendi sobre sexualidade masculina como terapeuta tântrica"

Lua Menezes é terapeuta sexual e trabalhou em uma clínica tântrica durante dois anos - Reprodução / Instagram
Lua Menezes é terapeuta sexual e trabalhou em uma clínica tântrica durante dois anos Imagem: Reprodução / Instagram

Ana Bardella

De Universa

22/08/2020 04h00

Existe muito preconceito e concepções erradas sobre a massagem tântrica. A prática envolve toque e pode gerar novas formas de prazer, mas também é um processo terapêutico que pode curar questões emocionais e físicas, de problemas de autoestima a disfunções sexuais. Ela pode ser aplicada também naqueles que desejam apenas aprofundar o autoconhecimento ou melhorar a qualidade de suas relações.

A brasileira Lua Menezes vive em Auckland, na Nova Zelândia, e trabalha como escritora e terapeuta sexual. Sua carreira na área começou quando saiu de Natal (RN) para a capital de São Paulo, aos 26 anos, a fim de conseguir um emprego. Nesta época, se interessou pelos conhecimentos do tantra e se matriculou em um curso. Para isso, aceitou o desafio de morar em um centro tântrico. Depois, atendeu homens e mulheres por quase dois anos. A convite de Universa, ela elencou alguns de seus aprendizados.

No período em que trabalhou na clínica, Lua reparou em especificidades na forma como os homens cisgênero lidavam com a sexualidade, algo que afetava tanto o próprio prazer quanto o prazer de suas companhias no sexo. "É impossível generalizar. Quando o assunto é sexualidade, é importante lembrar que sempre existem exceções. No entanto, existem questões coletivas criadas pelo nosso contexto de masculinidade que valem a pena serem discutidas", diz.

1. Homens priorizam o prazer mais do que as mulheres.

No tempo em que esteve na clínica, Lua percebeu que a quantidade de mulheres que desmarcavam as sessões era muito maior do que a de homens. "Isso porque elas estavam sempre colocando outras questões, familiares ou de trabalho, como prioridade na rotina. Enquanto eles não se sentiam culpados em deixar o restante da vida de lado para cuidarem de si mesmos, sentirem prazer. Isso nos mostra o quanto somos socializadas para dar conta de tudo, para achar que nosso próprio processo de cura pode ficar para depois", opina.

2. Eles tendem a acreditar que o sexo não está conectado às emoções.

"Muitos dos homens que atendi não tinham vocabulário para identificar e expressar suas insatisfações. Não conseguiam verbalizar, por exemplo, que estavam sofrendo de problemas como ejaculação precoce ou retardada", conta. Lua explica que enquanto mulheres são reprimidas sexualmente e enxergam o prazer como algo sujo ou errado, homens são reprimidos emocionalmente. "Mais de uma vez atendi pacientes que se queixavam de impotência, mas não identificavam a causa. Investigando, descobria que eles estavam tristes. Por exemplo, um deles se divorciou e pouco tempo depois quis se jogar em novas experiências sexuais. Às vezes era só o corpo dizendo 'Agora não', mas nem todos conseguiam identificar isso", relembra.

3. Homens não são, necessariamente, mais visuais do que as mulheres.

Quando o assunto é sexo, é comum escutarmos que os homens são "mais visuais", ou seja, que se excitam com mais facilidade por meio das imagens. "Esse conceito já vem sendo questionado há algum tempo por profissionais da área. No meu ponto de vista, não é um processo instintivo. Na verdade, a maior parte deles foi acostumado a isso por ter uma educação sexual muito baseada em pornografia", explica.

No tantra, esse mito é quebrado. "A primeira coisa que pedimos para o paciente é que ele feche os olhos antes de receber massagem. Muitos homens demonstram desconforto ou dificuldade com isso. Mas aqueles que conseguem superar esta barreira, geralmente descobrem uma camada nova de prazer, muito mais profunda, através da experiência", conta.

4. Mulheres chegam a orgasmos profundos com mais facilidade do que os homens.

Lua explica que o corpo humano é capaz de atingir diferentes níveis de prazer. "Somos seres integrais e sentir um prazer profundo significa estar vulnerável, se entregar, se render", aponta. E, por mais que o prazer masculino seja menos reprimido do que o feminino, ainda é exigido que os homens tenham uma postura ativa, de dominação e de controle. "Isso faz com que eles tenham orgasmos mais superficiais, menos profundos e intensos", diz.

Para que conheçam outras camadas e sensações, é necessário abertura: para explorar a corpo sem estigmas e para que as emoções fluam livremente. Por causa disso, durante a prática clínica, Lua percebeu que as mulheres inicialmente tinham mais dificuldades com o prazer, mas, pela facilidade em se conectar com as próprias emoções, chegavam a resultados melhores em menos tempo.

5. Preocupação com o tamanho do pênis e duração da ereção prejudicam a sexualidade masculina.

Estes são assuntos sobre os quais os homens dificilmente conversam entre si, mas que afetam a qualidade de suas transas. "Às vezes um homem foca só na penetração, pula a preliminar, já chega com toda aquela pressa. Isso pode acontecer por que ele não teve educação sexual, por que segue o que vê nos filmes pornô? Pode. Mas sei de casos em que a pressa deriva do medo de perder a ereção, de broxar na frente da mulher. Existe uma pressão grande para que mantenham a pose de 'comedores', que impede que experimentem várias sensações", defende.

A chave para a melhora, garante Lua, está na conscientização de que o homem tem mais a oferecer na cama do somente o pênis. "Meu chamado para os homens é que não temam a vulnerabilidade, confiem em seus corpos e acreditem que sexo e afeto vai além do órgão genital. Tirar essa pressão pela penetração faz com que a experiência inteira do encontro sexual seja prazerosa, seja um deleite", opina.