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Mãe não julga: Como conciliar carreira e filhos?

Giovana Granchi/UOL
Imagem: Giovana Granchi/UOL

Juliana Tiraboschi

Colaboração para Universa

24/08/2020 04h00

Qual é a melhor maneira de conciliar os filhos com a carreira? Parar de trabalhar, nem que seja apenas por um tempo, para se dedicar integralmente à criança, abrindo mão de renda e satisfação profissional, ou continuar trabalhando e equilibrar emprego e vida em família?

"Mãe não julga" é uma seção criada para compartilhar histórias de mães que optaram por caminhos muito diferentes em determinados aspectos da criação dos filhos. Para mostrar que na maternidade não há regras, há caminhos. Nesta edição trazemos duas histórias. A primeira é a de Anna Beatriz Storfer Corradi, 33 anos, que voltou à labuta, ainda que em tempo parcial, quando seu bebê tinha apenas dois meses e meio. A segunda é de Thays Kato, 29, que decidiu parar de trabalhar assim que engravidou. Voltou ao mercado depois de dois anos e parou de novo no segundo filho, para depois encontrar sua verdadeira vocação.

"Não consegui ficar em casa"

"Quando engravidei pela primeira vez, em 2014, eu tinha um emprego fixo em uma escola, dando aulas de inglês. Tirei licença-maternidade e, mesmo não tendo a necessidade financeira, decidi voltar a dar aulas particulares quando minha filha tinha dois meses e meio. Na época tinha dois alunos de reforço e eu gostava muito de dar aula para eles.

Minha filha ficava com meus pais durante as aulas, então isso me deu tranquilidade para voltar. Não consegui ficar em casa. Duas vezes por semana, saia para dar aulas para esses dois alunos, que moravam perto. Dava as aulas entre uma mamada e outra.

Na segunda gestação, em 2017, eu perdi o bebê no sexto mês. Tive um descolamento de placenta, mas o sangramento foi apenas interno. Descobrimos quando fui fazer um ultrassom de rotina e já não havia mais batimentos cardíacos. Os médicos não souberam explicar o motivo do descolamento.
O que me ajudou a superar essa perda foi apoio dos amigos e família e fazer constelação familiar, que foi um ponto de virada na minha vida. Hoje em dia o que aconteceu é uma lembrança amarga. Você não espera que uma coisa dessas vai acontecer aos seis meses de gestação. Mas já consigo falar sobre o assunto.

Por lei, com uma perda nessa idade gestacional eu teria direito a tirar quatro meses de licença. Mas eu negociei com a escola para voltar a trabalhar antes. Eu estava pirando em casa. Então voltei, mas com menos horas de aulas. Poder voltar a trabalhar ajudou muito, assim ocupava a cabeça e não ficava pensando no que aconteceu.

Na última gestação, em 2018, estava trabalhando em outra escola, e eu cumpri os quatro meses de licença. De novo, a sensação de poder voltar a trabalhar foi muito boa. Gosto muito do que eu faço. Amo minhas filhas, não sei viver sem elas, mas o trabalho me dá energia. Meus horários são meio malucos, às vezes tenho reunião às oito da noite, mas eu tenho apoio do círculo familiar. Meu marido é um super pai e me incentiva no trabalho. Ele também trabalha fora, mas tem horários mais regulares, e isso ajuda muito.

Agora estou dando aula online, por conta da pandemia. Por um lado é bom poder ficar mais perto das minhas filhas, mas por outro eu sinto que perco o meu momento de trabalho. Na escola, esqueço todos os problemas da vida para dar aulas. Em casa não, a bagunça da sala está lá, a louça para lavar está lá, está tudo visível. Estou sentindo falta da minha rotina."

Anna Beatriz Storfer Corradi, 33 anos, mãe de Olivia, 5 anos, e Laura, 1 ano e nove meses, de Campinas

"Sempre critiquei quem parava de trabalhar para ter filho, mas quando engravidei, virou a chave"

"Antes de engravidar, nunca pensei em parar de trabalhar depois de ter filho. Eu, inclusive, criticava quem fazia isso, achava que era uma ideia muito antiga. Mas, no momento em que engravidei, em 2012, a chave virou e decidi que pararia.

Eu estava insatisfeita com o emprego da época. Me formei em Relações Internacionais, mas trabalhava em outra área, em uma empresa de tecnologia, em uma função que não gostava. Então, uni o útil ao agradável. Um pouco antes do retorno ao trabalho, liguei para o meu gerente e avisei que não ia voltar a trabalhar depois da licença. No dia que seria o de voltar ao trabalho, fui à empresa assinar os documentos da demissão. Meu gerente falou que eu era corajosa e que deveria estar muito feliz para deixar o emprego. Respondi que estava ótima, que era o melhor momento da minha vida e não fazia sentido voltar.

Nunca me arrependi da decisão. Sem desmerecer as mães que trabalham fora, mas não queria perder nada, nenhuma fase do desenvolvimento. Às vezes eu pensava em como eu estaria na carreira se tivesse continuado, mas não era um arrependimento.

Acredito
que o casamento é como uma "empresa", quer dizer, tanto o trabalho do meu marido fora quanto o meu, em casa, são importantes. Mas, admito, a única coisa que pegava negativamente era a questão da independência financeira. Não que eu tivesse que prestar contas dos gastos, mas às vezes queria comprar coisas para mim sem precisar falar nada pra ninguém.

Voltei a trabalhar quando a minha filha tinha dois anos e entrou na escola. Minha mãe tem uma imobiliária, então fui trabalhar com ela. Fiquei lá por três anos, mesmo não gostando do que eu fazia e sem ganhar dinheiro, porque o mercado estava péssimo na época.

Em 2016 engravidei do meu segundo filho. Levava ele comigo para o escritório e ele ficava lá no bebê conforto enquanto fazia um trabalho que eu odiava. Foi um período difícil, era triste. Quando ele estava com seis meses, o pediatra falou que meu filho ainda não estava "durinho", não estava sentando, como deveria. O médico disse que ele estava passando muito tempo no carrinho e na cadeirinha e eu precisava estimulá-lo mais. Nesse dia mudou a chave de novo na minha cabeça: eu estava deixando de cuidar dele por um trabalho que não gostava e não me dava dinheiro.

Quando meu filho mais novo estava com oito meses do meu filho, fizemos uma road trip pela Califórnia, e nessa viagem fiquei refletindo sobre a vida que eu estava levando. Conversei muito com meu marido e decidi que sair do emprego. Foi uma notícia bombástica, muito difícil da família aceitar. Mas fiquei em casa com meu filho e criei uma rotina maravilhosa.

Só que ainda sentia a necessidade de fazer algo. Aí pensei: 'pelo menos uma vez na vida quero fazer algo por mim', porque sempre trabalhei em coisas que não gostava. Optei por contratar uma chef para me ensinar confeitaria, na minha casa. Assim, podia ficar com as crianças. Passei a estudar por hobby. Depois, comecei a distribuir para os amigos os doces que sobravam das aulas. Então algumas pessoas começaram a me fazer encomendas. Dois anos depois dessa primeira encomenda e virei confeiteira. Agora me divido entre os doces e os filhos. Estou mais feliz do que nunca."

Thays Kato, 29 anos, mãe de Maria Luiza, 7 anos, e Fernando, 3 anos, de São Paulo