Topo

Modelo denuncia racismo e cabeleireiro se explica: 'Repeti m* que ouvi'

Wilson Eliodorio, cabeleireiro de famosas como Sheron Menezzes e Taís Araújo, foi acusado de racismo por Mariana Vassequi - Reprodução/Instagram
Wilson Eliodorio, cabeleireiro de famosas como Sheron Menezzes e Taís Araújo, foi acusado de racismo por Mariana Vassequi Imagem: Reprodução/Instagram

De Universa, em São Paulo

26/08/2020 13h23Atualizada em 26/08/2020 14h50

Uma modelo acusou de racismo o cabeleireiro Wilson Eliodório, que cuida de famosas como Taís Araújo, Sheron Menezzes e Cris Vianna. Mariana Vassequi participou da campanha de uma marca de cosméticos gravada no salão do profissional, em São Paulo. Eliodório pediu desculpas e disse que ser negro não o isenta do racismo estrutural.

Segundo Mariana, Eliodório, especialista em cabelos cacheados e crespos, ministrava uma palestra sobre "como tratar cabelos étnicos" quando começou a falar "diversas frases muito ofensivas e racistas".

Em um vídeo que circula na internet, repostado pelo perfil Rainha Matos, é possível ouvir Eliodório falando que o cabelo da modelo, negra, era de "filhote do patrão".

"Foi triste mesmo! A gente ouviu tudo, percebeu tudo mas naquele momento por medo de sermos demitidas, por medo de acabar a diária e a gente não receber e também por se tratar de um ambiente de trabalho onde a modelo já é vista como apenas a boneca sem voz (...) eu me calei. Mas quando cheguei em casa foi um desmorono e reflexões. Por que nos calamos? E por que ninguém na hora falou nada? Não só nós, mas por que dentro de um salão com +10 pessoas, ninguém interveio?", questionou Vassequi, no Instagram.

"Que país é esse em que você ouve alguém falar que 'esse cabelo ou essa pessoa é um filhote de patrão, por que o patrão comeu uma escrava e gerou isso'. Como isso pode ser normal? Simplesmente dizer isso é legitimar a cultura do estupro!", continuou a modelo, em um longo desabafo onde ainda afirmou ter vivido "horas de um show de horrores".

NOTA DE ESCLARECIMENTO - PARTE 1 Fala galera! Beleza? Pra quem não me conhece eu sou a Mari! Sejam bem vindos a minha página e pra quem já me conhecia eu vou contar um pouco do que aconteceu. Eu não posso citar nomes nem locais por motivos de segurança. Eu fui contratada por uma marca de cosméticos para cabelos, para ser modelo do lançamentos do novo produto linha cachos! A marca escolheu a locação em um salão bem lindo e requintado da cidade de SP e também convidou um terceiro. Um suposto "cabeleireiro profissional" para ministrar uma palestra e o que seria um pequeno curso sobre "como tratar cabelos étnicos", em meio ao evento, em um dos momentos eu e a @ruthmorgamoficial (outra modelo companheira de trabalho que também estava sendo contratada) nos deparamos ouvindo diversas frases muito ofensivas e racistas! Foi triste mesmo! A gente ouviu tudo, percebeu tudo mas naquele momento por medo de sermos demitidas, por medo de acabar a diária e a gente não receber (pois com a pandemia os jobs trabalhos de modelos caíram muito e cada uma já tinha saído de longe pra estar lá eu saí até de outro estado!) e também pela pressão da profissão por naquele momento se tratar de um ambiente de trabalho onde a modelo já é vista como apenas a boneca sem voz, a boneca que tá lá apenas pra provar roupa, desfilar ou ser fotografada. Então diante desse medo e dessa estrutura sim machista e opressora! Que silencia mulheres, que silencia a modelo! Que silencia a minha cor! E foi tudo tão rápido, que eu me calei. Mas quando cheguei em casa foi um desmorono e reflexões. Por que nos calamos? E por que ninguém na hora falou nada? Não só nós mas por que dentro de um salão com +10 pessoas, por que ninguém interveio? Acredito que alguns não ouviram, mas a maioria foi pior por que OUVIU mas NATURALIZOU! gente como assim? Que país é esse que mundo é esse que você ouve alguém falar que "esse cabelo ou essa pessoa é um filhote de patrão, por que o patrão comeu uma escrava e gerou isso." Gente! Como isso pode ser normal? Você sabe o que isso significa? Vou te explicar: - (não cabe o texto inteiro, vai ter textão sim então tive que dividir em dois). Tá no post do lado! #naoaoracismo

Uma publicação compartilhada por V A S S E Q U I (@marianavassequi) em

Pouco depois, ainda na manhã de hoje, Eliodório fez um vídeo em resposta às acusações de Vassequi, admitindo que "repetiu merdas que ouviu pela vida" e defendendo que "ser negro não o isenta" da responsabilidade pelas frases racistas.

"Eu erro e o fato de ser negro não me isenta do erro, porque assim como você nasci nesse país racista. Sim, sofri preconceito, racismo. E não aprende, não aprendeu que não se repete isso com um irmão. Mesmo negro, bicha preta, repetiu todas as merdas que ouviu pela vida, e que ouve todo dia. Perpetuando essas piadas horrorosas, que disseminam ódio, machismo, racismo, misoginia, preconceito", justificou ele.

"Eu trabalho com o cacho, entendo o cacho, entendo o crespo. Sou muito orgulhoso de influenciar mulheres de assumir seu cabelo natural, crespo. Tenho muita culpa, muita vergonha de ter dito o que disse. Principalmente pela dor que causei, mas repito: Ser preto não me faz imune da construção racista desse país. Estou em reeducação, assim como tantos de nós. Desculpa. Desculpa Mari, desculpa Ruth", concluiu Eliodório.

Nos comentários, o cabeleireiro ganhou apoio de famosas.

"Você foi a primeira pessoa que me fez sentir linda! Acreditar no meu crespo, obrigada. Todos nós erramos, e o mas importante é isso reconhecer que errou pedir desculpas de verdade e seguir em frente, Deus te abençoe, fica na paz", escreveu Cacau Protásio.

"Wilson, é compreensível toda reação e quando eu vi o vídeo fiquei estarrecida de ser você um homem experiente que convive com tantas de nós e apoia e insiste que a gente se assuma e vença o racismo. Isso é a prova da profundidade do racismo e das consequências dele. Que sua história não seja apagada com esse erro, mas que em nome dela você supere os pensamentos e falas que insistem em nos violentar. Sigo te amando e sendo grata. Por isso, essa situação contraditória também tem me feito refletir muito. Sigamos na humildade agora e sempre. Para não dar mas nenhum passo atrás", torceu a atriz Juliana Alves.