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"Vejo mão dele se aproximar o tempo todo", diz jovem agredida por PM em bar

A assistente administrativa Thatiane Santos - Arquivo pessoal
A assistente administrativa Thatiane Santos Imagem: Arquivo pessoal

Abinoan Santiago

Colaboração para Universa

26/08/2020 04h00

A vida da assistente administrativa Thatiane Santos, de 26 anos, mudou na noite de 14 de agosto. O que era para ser um momento de comemoração em um bar, no Distrito Federal, acabou virando um episódio que hoje a faz ter medo de sair na rua. A jovem sofreu agressão de um policial militar de folga, que desferiu um tapa no rosto dela durante uma discussão.

"Parece que a minha vida acabou. Nunca imaginei passar por isso, nem meu pai nunca encostou a mão em mim", diz Thatiane.

O caso aconteceu no bar Sun Beer Sports Bar, em Planaltina. Testemunhas que estavam no estabelecimento registraram a cena em um vídeo que circula nas redes sociais. As imagens mostram o que seria uma discussão entre Thatiane e o policial militar Aetsonclei Belarmino. Ao se dirigir ao suspeito na área externa do bar, ela é atingida com um tapa no rosto. Em seguida, os dois são separados por outras pessoas.

Segundo Thatiane, ela e um grupo de amigos estavam no bar comemorando um aniversário. A confusão teria iniciado após a jovem defender uma amiga de uma ofensa da esposa do policial militar.

"Minha amiga estava passando mal por ter bebido um pouco mais naquela noite. Eu não estava alcoolizada e me coloquei à disposição para ir ao banheiro com ela. Estava segurando minha amiga, mas, ao subir a escada da parte interna do bar, resolvi retornar à mesa, pois estávamos de salto", conta Thatiane.

"Havia um casal na entrada da escada, e a moça começou a ofender minha amiga dizendo: 'Nossa, que ridícula, minha filha nunca vai estar assim'. Eu me virei e perguntei se ela nunca havia bebido e começou a discussão."

Thatiane acrescenta que ao fazer o questionamento, a esposa do policial militar também a ofendido.

"Ela falou 'não é da sua conta, piranha' e me agrediu com um chute na perna. Afastaram a gente e, ao me aproximar de novo, ele deu um tapa muito forte no meu rosto", diz.

A jovem conta que precisou de atendimento médico em seguida e que marcas da agressão ainda permaneciam no rosto uma semana depois do ocorrido. Ela diz que outros frequentadores do bar teriam relatado que o policial estaria armado.

Policial diz que também foi agredido

Universa procurou Belarmino para ouvir a sua versão sobre o fato, mas ele preferiu não dar entrevista. Na mensagem enviada à reportagem, disse que também foi agredido. As versões são investigadas pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Brasília.

"Infelizmente, as imagens do local, que mostram ela [Thatiane] e mais cerca de 12 pessoas tentando agredir a mim e a minha esposa, ninguém mostrou. Todas as imagens e o laudo do Instituto Médico Legal, com minhas lesões, foram entregues a Deam", disse o policial militar em mensagem.

A Polícia Civil informou que as imagens não podem ser divulgadas porque fazem parte do inquérito policial em curso na Deam. A sites locais, o policial diz que agiu em "legítima defesa".

Thatiane nega ter agredido o policial ou a mulher dele. "As câmeras podem provar o contrário do que ele diz, que eu encostei nele. Doeu minha alma ele falar que foi legítima defesa", diz.

Ansiedade, tremores, palpitações

Thatiane relata que, nos dias seguintes à agressão, teve dores no rosto e não conseguia mexer o olho para os lados ou para cima.

O tapa teria causado uma hemorragia no olho esquerdo da vítima, diz a jovem, após ir ao oftalmologista e realizar exames. Ela trata a lesão com colírios. Thatiane considera que, além dos danos físicos, também terá sequelas mentais.

"Minha saúde mental está acabada, eu me considerava tão forte. Agora vejo a imagem da mão dele se aproximando do meu rosto o tempo todo. Não durmo mais sozinha. O pouco que consigo dormir é à base de remédios porque acordo toda a noite assustada. Não saio na rua. Fui ao psiquiatra e ele me passou dois medicamentos para controlar a ansiedade, os tremores, palpitações e o medo", diz.

"Estou realmente traumatizada, o médico solicitou acompanhamento semanal com psicóloga. O meu corpo trava ao tentar subir qualquer degrau. Eu só quero justiça para que ele nunca mais faça isso com outra mulher."

Thatiane diz que não tem clima para comemorar o próprio aniversário no próximo mês. Ela e o namorado, de 24 anos, nasceram na mesma data. "Estávamos com tantos planos e felizes com as nossas vidas e conquistas. Agora, não conseguimos mais pensar outra coisa", lamenta.

Caso gerou sororidade

A agressão contra Thatiane repercutiu nas redes sociais. A jovem passou a receber apoio de mulheres, que fizeram uma carreata no domingo (24) para que o caso não seja esquecido e seja devidamente investigado, além de lembrar as vítimas de violência contra a mulher.

"Sempre defendi as mulheres e os nossos direitos. Nunca permiti que nenhum homem me humilhasse. O ato não é sobre o meu caso isolado, é uma luta por todas. Eu não quero que nenhuma mulher passe pelo o que vivi", diz a assistente administrativa.

PM abre inquérito e bar lamenta episódio

De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, Aetsonclei Belarmino está de férias e, quando retornar, será afastado de atividades operacionais e empregado em atividades administrativas. Ele também responderá a um inquérito na Corregedoria Militar.

O bar divulgou nota informando que "não compactua com nenhum tipo de violência contra o ser humano, principalmente contra a mulher".

"Salientamos que, em nenhum momento, fomos parciais ao agressor. As medidas tomadas no momento tiveram, única e exclusivamente, o intuito de findar a confusão", informou o estabelecimento.